Pesquisador da USP vê risco de COP30 virar 'perfumaria' e não trazer contribuições reais
Paulo Artaxo coordena o Centro de Estudos da Amazônia Sustentável da Universidade de São Paulo
A realização da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas em Belém (PA) tem levantado questionamentos sobre quais serão os principais pontos a serem discutidos durante o encontro.
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Para Paulo Artaxo, cientista e pesquisador do Centro de Estudos da Amazônia Sustentável (USP), o principal desafio a ser discutido na COP30 é a redução da emissão de gases de efeito estufa. Segundo ele, para que isso ocorra, é preciso acelerar a transição energética em todo o planeta –não somente no Brasil.
“Sem isso, tudo que a gente discutir vira ‘perfumaria’ dentro do que a gente precisa fazer. No Brasil, o uso de combustíveis fósseis são responsáveis por 88% da emissão de gases de efeito estufa”, afirmou nesta sexta-feira, 28, durante o COP30 Business Forum, promovido pela Amcham Brasil.
Segundo o cientista, o “clima já mudou e continuará mudando”, por isso, é preciso criar estratégias para se adaptar a esse novo clima “ou teremos problemas sérios”.
“A gente precisa estruturar a questão do financiamento climático para que países em desenvolvimento possam obter recursos financeiros para fazer essas adaptações. O Brasil tem vantagens estratégicas enormes que às vezes escapam”, continuou.
De acordo com Artaxo, o percentual de desmatamento na Amazônia poderia ser cortado pela metade em um curto período e com baixo custo. Além disso, ele citou que o Brasil tem o potencial de geração de energia solar e eólica melhor que qualquer outro país do mundo.
“Podemos transformar o Brasil em um país produtor de energia sustentável a baixo custo e com alta eficiência já nas próximas décadas. Temos um programa de biocombustíveis que é único no planeta e que a gente pode realmente usar para alavancar esse denvolvimento”, disse.
Mas, para conseguir atingir desafios dentro de um acordo com o setor privado e com outras nações, o País precisará lidar com as vulnerabilidades que influenciam diretamente nas mudanças climáticas.
“O agronegócio é uma fração importante do PIB brasileiro e na produção de alimentos. Mas com menor disponibilidade de água, não será possível produzir tanto alimento nos próximos anos. Qual Brasil vamos deixar para os nossos filhos para ser competitivo internacional em um mundo cada vez mais difícil?”, questionou Artaxo.
Outra desvantagem apontada pelo cientista é a hidroeletricidade. Atualmente, cerca de 60% da energia brasileira é produzida em usinas hidrelétricas, o que acaba deixando esta matriz energética dependente de chuva.
“Sem chuva, não temos eletricidade. Vocês podem imaginar como será com uma menor taxa de precipitação? Já estamos observando isso no Cerrado, por exemplo. O nordeste brasileiro era uma região semi-árida e está se tornando rapidamente uma região árida. O País vai ter que pensar cuidadosamente no que vai fazer com os milhões de brasileiros que vivem nesta região”, explicou.
Por fim, segundo o pesquisador, a eliminação do desmatamento em todos os biomas até 2030 é essencial para combater as mudanças climáticas.
“Acelerar a transição energética com investimentos maciços em energias renováveis pode tornar o Brasil líder em energias de baixo custo e sustentáveis. Temos que sair da trajetória da exploração e do uso de combustíveis fósseis”, concluiu.