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Sainz: desafiar Leclerc ou esquentar lugar para Schumacher?

Carlos Sainz estreia na Ferrari realizando o sonho de 9 entre 10 pilotos, mas tem o desafio extra de aguentar a sombra de Mick Schumacher

8 fev 2021 - 05h00
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Sainz, nos primeiros testes de 2021, com a Ferrari.
Sainz, nos primeiros testes de 2021, com a Ferrari.
Foto: Ferrari / Divulgação

Ninguém pode acusar Carlos Sainz Jr. de não ter personalidade. Filho de um dos maiores pilotos de rali de todos os tempos, o espanhol certamente teria caminho mais direto para uma equipe competitiva se escolhesse a mesma categoria do pai. Mas, desde muito jovem, Sainz Jr. tinha como meta correr de monopostos, e não desafiar terrenos irregulares na terra, no gelo ou na areia. O pai pode ser seu herói, mas o ídolo do espanhol de 26 anos sempre foi Fernando Alonso.

Chegar à Ferrari – e concretizar o sonho de criança de nove entre dez aspirantes a piloto – foi o capítulo mais recente de uma carreira marcada por rupturas. Sainz estreou na Fórmula 1 como integrante da família Red Bull, pela Toro Rosso, correndo ao lado de Max Verstappen. Não é fácil dividir equipe com um dos mais promissores pilotos de seu tempo, e Sainz terminou o ano mais de trinta pontos atrás do holandês. No ano seguinte, com a promoção de Verstappen para a Red Bull, o espanhol passou a dividir a equipe com o russo Daniil Kvyat, que se manteve ao seu lado por duas temporadas.

Mick Schumacher, testando pela Ferrari.
Mick Schumacher, testando pela Ferrari.
Foto: Ferrari / Divulgação

No final de 2017, Sainz viveu uma situação esdrúxula, quando acabou emprestado pelo grupo Red Bull para a Renault, em um arranjo que envolvia o fornecimento de motores Honda para a Toro Rosso e de motores Renault para a McLaren. O espanhol permaneceu um ano na Renault, onde teve desempenho discreto, ficando atrás do companheiro Nico Hulkenberg. Na segunda metade de 2018, com o anúncio de que Daniel Ricciardo ocuparia seu lugar na Renault, Sainz parecia escanteado. No entanto, a saída do ídolo Alonso abriu caminho para Sainz na McLaren, onde passou as temporadas de 2019 e 2020.

Os anos de McLaren foram a melhor oportunidade para o espanhol mostrar seu valor. Desafiado pelo jovem Lando Norris, Sainz parecia sempre mais lento que o companheiro de equipe nos treinos, mas sua experiência se fazia valer e, nas corridas, dominou o colega sem piedade em 2019, marcando quase o dobro de pontos do inglês e conquistando seu primeiro pódio, no GP do Brasil, após uma punição a Lewis Hamilton. 

No ano passado, Sainz conquistou outro pódio, no improvável GP da Itália, vencido por Pierre Gasly. Mais significativo e dramático que o primeiro, o pódio em Monza foi a coroação de uma pilotagem agressiva e madura. Sainz poderia inclusive ter vencido aquela corrida, e ser anunciado como o sucessor de Sebastian Vettel na Ferrari não pareceu nenhum absurdo.

Sainz, em Maranello, janeiro de 2021.
Sainz, em Maranello, janeiro de 2021.
Foto: Ferrari / Divulgação

A Ferrari viveu uma de suas piores temporadas em 2020, terminando o Mundial de Construtores em sexto lugar. Cerrar fileiras com o time de Maranello pode soar mais como castigo do que como prêmio neste momento, mas nenhum piloto na situação de Sainz recusaria o convite. Trata-se da equipe mais mítica e que mais recebe dinheiro da categoria. Tem condições de evoluir de um ano para outro a ponto de disputar o título? Provavelmente, não. Mas, com dinheiro e estrutura, alguma evolução deve demonstrar. Sainz encontra-se, agora, na posição de desafiante. O “dono” do time é Charles Leclerc, a grande aposta para o futuro da Ferrari. Sainz tem bem menos a perder que o companheiro.

O anúncio de Mick Schumacher na Haas, fazendo sua estreia na categoria em uma equipe próxima da Ferrari, aparentemente coloca pressão sobre Sainz. Em diversos fóruns virtuais, a ideia de que o espanhol está apenas “esquentando o lugar” para o filho de Michael é repetida como mantra por fãs e detratores da Ferrari. Faz sentido pensar que o caminho natural de Mick seja em direção à Ferrari, mas a consolidação desse plano pode não ser tão suave assim.

Filhos e parentes de ex-pilotos costumam ser muito bem tratados até chegar à Fórmula 1. Mais dinheiro que seus colegas – e muitas vezes até que seus pais, no passado – garante as melhores equipes e as melhores estruturas nas categorias de base. Chegando à Fórmula 1, no entanto, essa primazia nem sempre continua forjando resultados. 

Mick Schumacher, em Maranello.
Mick Schumacher, em Maranello.
Foto: Ferrari / Divulgação

Mick Schumacher pode até ser uma sombra sobre Carlos Sainz, mas antes de ameaçar o colega da Ferrari, vai precisar se haver com seus próprios resultados na Haas. Terá como companheiro o russo Nikita Mazepin, que está lá também por causa do pai, com a diferença que o pai de Mick foi um dos maiores pilotos de todos os tempos, e o de Nikita é só um milionário russo de trajetória suspeita. E é justamente no que significa ser filho de Michael Schumacher que está a maior pressão sobre Mick. A sombra que Mick possa fazer sobre Sainz é abissalmente menor do que a sombra do pai sobre si mesmo. Olhando para o lado e vendo Leclerc ou para a Haas e vendo Mick, Sainz é franco atirador. Costumam ser perigosos esses personagens.

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