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Perez e Russell dão um basta nos pilotos burocráticos

Vitória espetacular de Sergio Perez e corrida preciosa de George Russell indicam caminho da emoção na F1

6 dez 2020 - 17h39
(atualizado às 19h01)
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Perez à frente de Stroll: vitória do mexicano aumenta responsabilidade de Vettel.
Perez à frente de Stroll: vitória do mexicano aumenta responsabilidade de Vettel.
Foto: Racing Point / Twitter

A Fórmula 1 sempre teve pilotos burocráticos, inclusive brasileiros. Mas parece que chegou a hora de exigir mais deles. A brilhante vitória de Sergio Perez e a maravilhosa pilotagem de George Russell no Grande Prêmio do Sakhir mostraram quão injusta é essa situação. Pilotos burocráticos são aqueles que arriscam pouco e/ou sempre estão dispostos a cumprir ordem -- às vezes, parecem mais preocupados em levar o carro ao final da prova do que em vencer a corrida.

Perez e Russell são um bálsamo para quem cansou de pilotos burocráticos. Porém, tanto um quanto outro precisam que os chefes de equipes mudem seu paradigma na hora de contratar pilotos para que tenham alguma chance na temporada de 2021. 

Russell deu um banho em Bottas no GP do Sakhir, apesar de ser ele o novato da equipe.
Russell deu um banho em Bottas no GP do Sakhir, apesar de ser ele o novato da equipe.
Foto: Mercedes-AMG / Twitter

Sergio Perez, embora seja mais rápido do que Lance Stroll, perdeu a vaga na Racing Point (futura Aston Martin) para Sebastian Vettel. Até aí tudo bem, pois estamos falando de um tetracampeão substituindo um piloto que só chegou à primeira vitória em seu 190º GP. Mas não foi uma vitória qualquer. Para chegar a ela, Perez teve que encarar o último lugar após o acidente da primeira volta e conquistar 17 posições na pista. A despeito disso, sua temporada é muito mais consistente do que a de Lance Stroll, que é filho do dono da equipe.

George Russell só não venceu o GP do Sakhir, em sua estreia na equipe Mercedes, porque enfrentou dois raros eventos: primeiro, um erro da equipe na troca de pneus; segundo, um pneu furado. Russell basicamente humilhou Valtteri Bottas na pista. Entretanto, se não houver uma reviravolta nos bastidores, voltará para seu modorrento cockpit na Williams, em 2021, enquanto o burocrático Bottas continuará dirigindo o melhor carro da história da Fórmula 1, sem incomodar Lewis Hamilton.

Sergio Perez ganhou sua primeira corrida na F1, mas era o piloto que já foi demitido.
Sergio Perez ganhou sua primeira corrida na F1, mas era o piloto que já foi demitido.
Foto: Racing Point / Twitter

Ao longo dos anos tivemos muitos pilotos burocráticos na F1. Um deles foi Felipe Massa, que teve um fim de carreira burocrático, apesar do início espetacular na categoria. Também podemos citar Gerhard Berger na McLaren Honda (tempos de Ayrton Senna) e David Coulthard na McLaren Mercedes (tempos de Mika Hakkinen). 

Hoje, além de Valtteri Bottas, pelo menos três pilotos parecem ir para a pista mais para “bater cartão de ponto” do que para ganhar corridas. O primeiro é Sebastian Vettel, para o qual damos o benefício da dúvida de estar sendo boicotado pela própria Ferrari, pois a Scuderia é bem capaz de fazer isso. Outro é Kimi Raikkonen, cujo carro da Alfa Romeo parece existir somente por uma questão de marketing. Há ainda Daniel Ricciardo, um dos pilotos mais supervalorizados da atualidade.

George Russell vai voltar para a Williams em 2021? Seria enorme desperdício de talento.
George Russell vai voltar para a Williams em 2021? Seria enorme desperdício de talento.
Foto: Mercedes-AMG / Twitter

Ricciardo, que correrá na McLaren 2021, está há três temporadas (uma na Red Bull e duas na Renault) ganhando proporcionalmente mais do que entrega em pontos. É o 5º colocado no campeonato, mas esperava-se mais dele do que simplesmente herdar resultados. No GP do Sakhir foi francamente superado por Esteban Ocon, que chegou em 2º lugar. Dos 172 pontos da Renault, Ricciardo entregou 65% do total, contra 35% de Ocon. Porém, Ricciardo tem o terceiro maior salário da F1 (20 milhões de euros/ano) e representa 83% do gasto salarial de Renault. Ocon ganha 4 milhões de euros/ano, o que dá 17%.

Depois do GP do Sakhir, Perez aumentou a pressão sob Vettel (que agora irá para uma equipe vencedora) e se torna favorito para pegar o lugar de Alex Albon na Red Bull. Russell, por sua vez, colocou Bottas em xeque. É muito difícil que a Mercedes mude de ideia e substitua Bottas por Russell, caso Hamilton confirme o que parece óbvio e renove o contrato com a Mercedes.

Esteban Ocon: ganha 17% do salário, mas já contribuiu com 35% dos pontos da Renault.
Esteban Ocon: ganha 17% do salário, mas já contribuiu com 35% dos pontos da Renault.
Foto: Renault / Twitter

A pressão da poderosa mídia inglesa a favor de Russell será grande. O jovem piloto inglês de 22 anos mostrou que pode, sim, seguir o caminho de Hamilton. Jogar Russell de volta ao cockpit da Williams será um desperdício de talento que a F1 não deveria se permitir. Se não for na Mercedes, que seja na Red Bull no lugar de Alex Albon (a Mercedes aceitaria?) ou até na McLaren (no lugar de Lando Norris, por que não?).

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