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Le Mans: os voos assustadores que marcaram a edição de 1999

Os carros da Mercedes-Benz, por problemas de projeto, literalmente decolaram durante o final de semana da prova

20 ago 2021 - 22h33
(atualizado em 7/2/2022 às 09h43)
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Mercedes-Benz CLR.
Mercedes-Benz CLR.
Foto: Stéphane Cavolt

A Mercedes-Benz tem uma longa tradição no automobilismo em mais de 100 anos. Já esteve nas 24 Horas de Le Mans algumas vezes com equipe oficial de fábrica. Na edição de 1955, após um dos carros da marca se envolver no acidente mais trágico da história do automobilismo, a montadora resolveu sair dos grandes eventos, mantendo a divisão esportiva e a fechando completamente apenas em 1965.

A Mercedes voltou à prova no final dos anos 1980 com uma parceria com a Sauber, que rendeu a vitória na edição de 1989 com o lendário Sauber C9, que chegou a atingir os 400 km/h na reta Mulsanne (ainda sem chicane) durante a qualificação.

Mas em 1991 veio uma nova saída. Em 1997, através da AMG, os alemães vieram com o Mercedes CLK apenas para o FIA GT. Mas no ano seguinte levaram a versão CLK LM para Le Mans, sendo um fracasso: os carros da marca acabaram abandonando no início da prova.

O Mercedes-Benz CLK LM foi um sucesso no FIA GT, mas não foi bem em Le Mans.
O Mercedes-Benz CLK LM foi um sucesso no FIA GT, mas não foi bem em Le Mans.
Foto: Stéphane Cavolt

O programa do CLK no FIA GT havia sido um sucesso, com dois títulos e um amplo domínio. Para 1999, a ACO mudou as regras de Le Mans: agora, os carros que, inicialmente tinham que ser inspirados em carros de rua, não tinham mais que seguir esta premissa. Assim, a Mercedes apostou em um conceito radical: o carro seria inscrito na classe LMGTP, para protótipos fechados.

O modelo - chamado de CLR - tinha um perfil bem diferente. Normalmente, os carros esportivos que participam da corrida normalmente não são feitos exclusivamente para ela. Mas este só correria em Le Mans. O Circuito de La Sarthe, onde ocorre a prova, é um circuito de alta velocidade, com longas retas e curvas muito velozes.

A partir disso, é preciso achar um equilíbrio entre performance de reta e em curvas. O entre eixos do CLK era pequeno, exatamente para dar um bom desempenho nas curvas. Entretanto, para as longas retas, isso não serviria. Então a Mercedes apostou em um carro com perfil baixo e um ângulo de ataque bem baixo, de -0,7°, enquanto o convencional é de -2,5°, para gerar o menor arrasto possível e ganhar velocidade de reta.

As linhas elegantes do Mercedes CLR.
As linhas elegantes do Mercedes CLR.
Foto: Stéphane Cavolt

A tropa da AMG-Mercedes contava com três carros:

#4 Mark Webber, Jean-Marc Gounon e Marcel Tiemann

#5 Christophe Bouchut, Nick Heidfeld e Peter Dumbreck

#6 Bernd Schneider, Franck Lagorce e Pedro Lamy.

Na quinta-feira, durante a qualificação, os problemas começaram. Durante a noite, na curva Indianápolis, o carro pilotado por Mark Webber decolou. Ao aproveitar o vácuo de quem vinha à frente e com a inclinação que existia na curva, aconteceu o acidente. Ficou claro que o carro tinha problemas. A teoria era que, em um curto entre eixos, à frente tendia a levantar em uma situação de vácuo, enquanto a traseira, com um grande aerofólio, tinha a tendência de descer. Assim,  o carro tenderia a decolar, o que aconteceu.

O Mercedes-Benz CLR com as alterações.
O Mercedes-Benz CLR com as alterações.
Foto: Stéphane Cavolt

A Mercedes buscava soluções. Estava claro que os projetistas tinham ignorado a questão de que o carro em uma situação anormal poderia ter problemas. Ligaram até para Adrian Newey, na época projetista dos carros da McLaren-Mercedes na F1. A solução encontrada foi colocar aletas na dianteira do carro. Isso geraria mais downforce e em teoria faria que a frente não tivesse mais a tendência a levantar. Ao mesmo tempo, deixar a suspensão traseira mais dura, para evitar que o carro ficasse muito instável.

Apesar das más notícias, a qualificação foi boa para a equipe: o carro #6 foi quarto, o #5 foi sétimo e o #4, que se acidentou, foi décimo. A Mercedes mostrava um bom ritmo de corrida, dando reais chances de vitórias. Durante o treino de aquecimento no sábado, os problemas voltaram e novamente com Mark Webber. O carro voltou a voar, desta vez na elevação no final da reta Mulsanne, rodopiando no ar e caindo de ponta cabeça no fim da reta.

Sem tempo para recuperar o #4,  este ficou de fora e os pilotos dos carros #5 e #6 foram aconselhados a não pegar vácuo de outros carros. A situação era crítica. Quando a corrida começou, os pilotos seguiram à risca a recomendação, mas na quinta hora de prova, o #5 ao comando de Peter Dumbreck perseguia o #2 Toyota GT-One. Depois da reta Mulsanne, ele pegou o vácuo do carro da Toyota, antes da curva Indianapolis. Ali tinha uma elevação e, naquele momento, o carro voou.

O espetacular acidente de Dumbreck foi transmitido ao vivo.
O espetacular acidente de Dumbreck foi transmitido ao vivo.
Foto: Reprodução/YouTube/Duke Video

A cena assustou a todos, com o carro rodando e caindo fora da pista. Mesmo com a plasticidade do fato, o piloto ficou bem e a Mercedes recolheu o carro #6 para a garagem, abandonando a prova e até a data desta publicação, não retornando a Le Mans. Essa foi das passagens mais espetaculares da corrida.

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