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George Russell pode ser o novo Lewis Hamilton na Mercedes?

Aos 22 anos e cria da própria Mercedes, Russell está em seu segundo ano na Fórmula 1 e parece ser a aposta inglesa para suceder a Hamilton

5 nov 2020 - 06h00
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George Russell, inglês, 22 anos e cria da Mercedes: seria ele o sucessor de Lewis Hamilton?
George Russell, inglês, 22 anos e cria da Mercedes: seria ele o sucessor de Lewis Hamilton?
Foto: Divulgação

Um erro infantil tirou George Russell do GP de Emilia-Romagna, quando mantinha sua sofrível Williams na zona de pontuação. Revoltado com a própria falha, Russell saiu do carro, sentou no chão, balançou seguidamente a cabeça, em sinal de reprovação, e rechaçou a aproximação de um comissário. Depois, fez uma postagem nas redes sociais pedindo desculpas à equipe e aos fãs pelo erro. Tinha mesmo que se lamentar: naquele momento, Russell estava em décimo lugar e poderia ter conseguido o primeiro ponto da Williams na temporada, o que seria também seu primeiro ponto na Fórmula 1.

A cena foi dramática, mas não inédita. Enquanto o drama se desenrolava diante das câmeras, foram frequentes as referências, nas redes sociais, a um episódio parecido com esse, ocorrido também na Itália, mas não em Imola, e sim em Monza, no já distante ano de 1999. O finlandês Mika Hakkinen, então campeão, perdeu o controle de seu McLaren e abandonou a prova, sendo flagrado minutos depois em situação semelhante à que Russell protagonizou vinte e um anos depois. No final daquele ano, no entanto, Hakkinen terminou consagrado, com seu segundo e último título. O drama, afinal, não lhe custou a glória maior.

Sentado à beira do caminho: Russell bateu e abandonou em Imola.
Sentado à beira do caminho: Russell bateu e abandonou em Imola.
Foto: Divulgação

Também não parece adequado dizer que o erro bobo de Russell possa lhe custar o futuro na Fórmula 1. Depois das manifestações de autopunição, encarnando o modo full pistola na pista e publicando a postagem nas redes, o inglês recebeu apoios de peso. Romain Grosjean foi um dos primeiros a escrever palavras de apoio ao colega. Autoridade sobre rodar e bater o francês sem dúvida tem. Só não dá para ter certeza se Russell sentiu a mensagem como incentivo ou como uma espécie de “eu sou você amanhã”.

Contundente e sem dúvida apoiadora foi a mensagem partida do teclado de Lewis Hamilton. Com ar de tutor, o compatriota de Russell comentou que erros fazem parte da vida e que não há problema em sentir dor por isso. Disse, também, que ele mesmo cometeu mais erros do que pode lembrar, e ainda incentivou o jovem a continuar pressionando na próxima corrida.

Russell em Mugello, onde terminou em 11º, seu melhor resultado no ano.
Russell em Mugello, onde terminou em 11º, seu melhor resultado no ano.
Foto: Divulgação

De fato, catorze anos atrás, quando fez sua estreia na Fórmula 1 (com a idade que Russell tem agora, 22 anos), Hamilton errou muito, e perdeu muito mais que um mísero ponto na tabela. Perdeu o campeonato, principalmente pelos erros nos GPs da China e do Brasil. Quase sete títulos depois disso, e sob a perspectiva de que aquele era o ano de estreia de Hamilton, esses erros de consequência gigantesca devem hoje parecer apenas um passo na trajetória do multicampeão.

Mas não deve ser o erro em Imola a principal ameaça à carreira de Russell. O piloto, que é cria da academia de pilotos da Mercedes, hoje divide a Williams com o canadense Nicholas Latifi, filho de um bilionário que leva uma polpuda contribuição à equipe. Com a venda do time durante a temporada, passando das mãos da família Williams para um fundo de capital norte-americano, o espírito “garagista” da equipe ficou no passado. Some-se a esse cenário a disponibilidade do mexicano Sergio Perez no mercado. Perez, que tem bastante experiência, também tem patrocínios fortes. Está provavelmente mais nesse contexto, e menos da batida em Imola, a ameaça maior a George Russell.

Em Spa, Russell saiu depois de um acidente com Antonio Giovinazzi.
Em Spa, Russell saiu depois de um acidente com Antonio Giovinazzi.
Foto: Divulgação

Mas, como um piloto que foi campeão da Fórmula 2 em 2018 e é seguidamente apontado como um dos maiores potenciais da nova geração pode estar ameaçado de desemprego? A pergunta foi feita para o chefe da Mercedes, Toto Wolff, antes do GP de Portugal. Sobre o lugar na Williams, o chefe disse que essa seria uma decisão da própria equipe, mas que havia tranquilizado Russell sobre sua permanência na Fórmula 1 em 2021. 

Nesse meio tempo, após a confirmação do sétimo título do Mundial de Construtores da Mercedes e da vitória de número 93 de Hamilton, cresceram as especulações de que o inglês possa se aposentar em curto prazo, talvez em 2021 ou mesmo ao final da atual temporada. Não parece impossível que a solução mais caseira possível seja adotada pela Mercedes, caso Hamilton realmente decida sair (e caso a Mercedes realmente queira continuar na categoria): promover Russell a piloto da equipe, tornando-o companheiro de equipe de Valtteri Bottas.

Corrida pior que grid: na Rússia, o inglês largou em 13º e chegou em 18º.
Corrida pior que grid: na Rússia, o inglês largou em 13º e chegou em 18º.
Foto: Divulgação

A manobra não seria nem inédita. Quando Nico Rosberg decidiu se aposentar após o título de 2016, a solução foi buscar Bottas, que estava justamente... na Williams. É certo que, para tirar o finlandês do time de Frank, a Mercedes facilitou as coisas em termos de fornecimento de motores para a Williams. Se a opção por Russell para substituir Hamilton se desenhasse agora, o panorama seria bem diferente, já que o jovem inglês parece de fato ameaçado na atual vaga.

A grande e principal questão é se Russell tem as qualidades e a maturidade necessárias para uma empreitada dessa envergadura. O campeão de 2018 da Fórmula 2 se arrasta há dois anos com o pior carro do grid. É tido como um piloto veloz, que já chegou a largar em 11º lugar no grid para o GP da Estíria, na atual temporada, e outras vezes conseguiu a proeza de não ser eliminado na primeira fase das provas de classificação aos sábados. 

Na Bélgica, Russell largou em 15º e perdeu posições na largada.
Na Bélgica, Russell largou em 15º e perdeu posições na largada.
Foto: Divulgação

No entanto, durante as corridas, Russell pouco tem feito que chame a atenção, sendo muitas vezes ultrapassado nas largadas por carros quase tão ruins quanto o seu (Alfa Romeo e Haas, especialmente). O episódio de Imola, isoladamente, não parece ser suficiente para aniquilar suas chances na Fórmula 1, e talvez seja só a falta de experiência a grande vilã de seu momento atual. O problema é que a tarefa, se vier, será para substituir o maior vencedor de todos os tempos na Fórmula 1. O peso pode ser demais para o jovem inglês.

Acidentes têm sido uma constante no início de carreira de Russell.
Acidentes têm sido uma constante no início de carreira de Russell.
Foto: Divulgação
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