F1: A Mercedes ataca com tudo no GP da Rússia
Tal como o exército alemão, a Mercedes joga sua cartada na Rússia, esperando que a história das pistas não repita a das batalhas
80 anos atrás, a Alemanha invadia a então União Soviética, no que seria a maior ousadia de Hitler na Segunda Grande Guerra (que os russos chamam de Grande Guerra Patriótica). Após muita luta e vidas ceifadas, os exércitos alemães foram batidos e começou a derrocada do então III Reich na Europa e o rumo das batalhas. Atualmente, em outro campo de batalha, novamente os germânicos querem prevalecer em terras russas.
A Mercedes chega à Rússia com fatores para lhe tranquilizar como fantasmas a lhe botar medo. Afinal, ainda conta com 18 pontos à frente da Red Bull no campeonato. Mas Max Verstappen está 5 pontos à frente de Lewis Hamilton. Ver o copo meio cheio ou meio vazio?
É consenso entre os principais analistas da F1 que Sochi é uma pista “Mercedes”. As longas retas e uma variação não tão bruscas de direção são favoráveis, embora o traçado conte com características de uma pista de rua. Junte a isso um traçado com asfalto pouco abrasivo (tanto que a Pirelli definiu os compostos mais macios para uso), deixa a situação mais favorável. E não podemos ignorar que, em todos os GPs disputados em solo russo, mesmo considerando as provas do início do século XX, foram vencidos pela Mercedes (sim, caras e caros: em 1913 e 1914, os carros que venceram foram Benz).
Mas se analisarmos a temporada como um todo, a Red Bull – especialmente com Max Verstappen – tem se mostrado com um desempenho melhor, especialmente a partir da França, com a entrada na nova UP da Honda. Se no início do ano se dizia que a Mercedes estava à frente em termos de conjunto, podemos dizer sim que a Red Bull, neste momento, tem o melhor carro.
Isso não quer dizer que a Mercedes dorme sobre os louros. A equipe foi afetada sim pela mudança de regulamento e, por questões do teto orçamentário e estratégicas, optou por não desenvolver tanto o carro, ao contrário do que os taurinos tem feito. Mas a principal arma tem sido o motor, que até já foi abordado aqui por este escriba no Parabólica.
O que se tem no horizonte é que os técnicos trabalham em mapas mais agressivos para dar ao W12 o folego que o chassi não consegue suplantar. As modificações trazidas em Silverstone abriram novas possibilidades de acerto, mas se tem a impressão que não se tem muito espaço para tirar. O trabalho feito com Bottas em Monza com a nova Unidade mostrou que, se ainda tem onde tirar alguma coisa de desempenho, é no motor. A não ser que a Mercedes acabe por trazer mais peças que, inicialmente haviam sido programadas para Zandvoort, mas não se falou mais nada.
Ainda neste campo, chamou a atenção a foto trazida pelo espanhol Albert Fabrega tirada no paddock nesta quinta-feira, comparando as asas traseiras de Mercedes, Ferrari, Red Bull. Aston Martin, McLaren e Alpine (acima). Normalmente, os alemães trazem as asas de maior perfil, justamente para poder gerar mais apoio em um projeto que não é tão eficiente como a Red Bull em obter mais resultados da parte de baixo do carro. Mas, em uma configuração inicial, o W12 conta com uma asa mais baixa do que seus concorrentes, o que pode significar uma escolha por um acerto com menos apoio para tentar tirar proveito das longas retas e conseguir se colocar à frente nos treinos. Como Sochi é uma pista onde as ultrapassagens não são tão abundantes, largar na frente acaba por ajudar o plano.
Entretanto, como na Segunda Guerra, o tempo pode pôr os planos alemães a perder: além de baixas temperaturas, há a previsão de chuva para o final de semana, especialmente no sábado. Tanto que não se descarta a possibilidade de a formação do grid ser feita no domingo. Neste quadro, a Mercedes apela para a mandinga germânica para que se tenha pista seca e sim permitir que se mantenha na frente nos Construtores e Hamilton possa recuperar a liderança entre os pilotos. Ainda mais com um Verstappen tendo 3 posições no grid para cumprir e a possibilidade de trocar o motor. Este é o grande atrativo deste GP da Rússia.