Extreme E inova no rali de aventura com nomes de tradição

Neste final de semana, 3 e 4 de abril, nas areias do deserto de AlUla na Arábia Saudita, uma nova categoria de rali de aventura surge no universo do esporte automotor. É a Extreme E, que na sua etapa inaugural de 2021 trará 9 SUVs elétricos guiados e gerenciados por nomes de tradição em diversas categorias do automobilismo em cinco trajetos de aventura únicos. O Brasil tem corrida confirmada na Amazônia em outubro.

Chamados de X-Prix, esses cinco trajetos são corridas de aventuras em lugares exóticos do mundo, mas que necessitam uma atenção especial quando o assunto é proteção ambiental, sustentabilidade e defesa ecológica.

Para muitos historiadores, o rali é a categoria que deu origem ao automobilismo. As corridas entre cidades francesas do começo do século XX, que deram origem aos Grand Prix, eram grandes "raids" em terrenos mistos com carros que se assemelhavam mais aos de rali atuais do que aos carros de Fórmula 1.

O circuito de rali é ativo até os dias atuais, tendo na WRC uma verdadeira febre nos países do Norte da Europa (Ilhas Britânicas, Escandinávia e Países Bálticos). Vale lembrar o tempo sabático que o recordista de GPs da Fórmula 1, o finlandês Kimi Raikkonen, tirou para poder se dedicar aos ralis.

Com o Rally Paris-Dakar e o Camel Trophy nos anos 1980 e 1990, o rali de aventura se torna ainda mais destacado. A proposta do Camel Trophy de passar em lugares quase intocados da natureza, tal como a Amazônia, ficou no imaginário de muitos "jipeiros". O autor deste texto é um deles, que, com certeza, dirige seu Suzuki Jimny laranja pelo asfalto hoje porque assistiu muito VHS do Camel Trophy enquanto criança.

As polêmicas com as duas competições deixaram o rali de aventura em baixa, sendo a Extreme E uma forma interessante de trazê-lo para o século XXI

Equipes e pilotos famosos em luta pela igualdade

A proposta competitiva da Extreme E é simples e interessante. Todos dirigem um SUV elétrico montado pela Spark (que todos conhecem da Fórmula E). Cada equipe tem um SUV e ele deve ter uma dupla mista de pilotos: um homem e uma mulher. Eles devem revezar na condição de piloto e navegador durante a etapa.

Essas regras atraíram nomes famosos do automobilismo, atual e do passado, do rali e de diversas categorias. Vamos ver um pouquinho de cada.

• Com o carro #5, a ART da F2 apoia a Veloce Racing com a promessa feminina da academia Williams de jovens pilotos, Jamie Chadwick, e o multiexperiente francês Stephanie Sarrazin, da Fórmula E, bicampeão da Le Mans Series.
• No carro #6, da escuderia do campeão de F1 Nico Rosberg, temos o sueco Johan Kristoffersson, tricampeão de Rallycross, e a campeã do rali australiano, Molly Taylor.
• O campeão de Fórmula 1 Jenson Button é dono de escuderia e piloto do carro #22, junto da sueca Mikaela Åhlin-Kottulinsky, do campeonato de turismo escandinavo.
• Já a tradicional Andretti, da Fórmula Indy e da F-E, tem o carro #23 com o atual campeão de Rallycross, o sueco Timmy Hansen, e a britânica Catie Munnings, campeã do rali feminino em 2016.
• A marca pioneira dos "raids" do século XX, a Hispano Suiza, tem o carro #42 com o britânico Oliver Bennett, do Rallycross, e a espanhola Christine GZ da WRC, sendo a pioneira em 2016 em dirigir em uma equipe 100% feminina.
• O carro #44 é da equipe do campeão máximo da F1, Lewis Hamilton, trazendo o campeão máximo do rali, Sebastien Loeb, e a campeã de estágio no Dakar, a espanhola Cristina Gutierrez.
• Outro campeão máximo de rali, Carlos Sainz, é dono de escuderia e piloto do carro #55, dividindo com a também espanhola Laia Sanz, campeã máxima de trials de motocross.
• A Chip Ganassi, escuderia de nome no automobilismo dos Estados Unidos, traz no carro #99 a medalhista dos X-Games Sara Price e a promessa do esporte radical Kyle LeDuc.
• Por fim, o carro #125 é da ABT, famosa pela Fórmula E, com o gênio sueco do rali e da DTM, Mattias Ekström, e a multipremiada e pioneira alemã Claudia Hürtgen.

Cinco corridas pelo meio ambiente

Com pilotos e equipes de tamanho alcance esportivo e midiático, os X-Prixs não são apenas desafios esportivos, mas sim formas de conscientização e de construção de legados ambientais. Cada corrida tem um setting ecológico para chamar a atenção. Confira o calendário.

• Neste final de semana de 3 e 4 de abril, temos o Desert X-Prix, na Arábia Saudita, chamando atenção para o aquecimento global e a desertificação.
• A segunda etapa será no Senegal e falará dos mares e oceanos. O Ocean X-Prix está marcado para os dias 29 e 30 de maio.
• Já a terceira etapa é sobre o desaparecimento do Círculo Polar Ártico. O Arctic X-Prix correrá no gelo da Groenlândia em 28 e 29 de agosto.
• As duas últimas etapas ficaram para a América do Sul. O Amazon X-Prix será na cidade brasileira de Santarém (PA), falando da preservação da Amazônia e da vida nativa, nos dias 23 e 24 de outubro.
• E, por fim, as geleiras da argentina Ushuaia recebem o Glacier X-Prix em 11 e 12 de dezembro.

O que esperar e onde ver?

Com ampla divulgação no Twitter e transmissão na TV por assinatura brasileira, a Extreme E promete ser uma atração à parte, graças ao lado competitivo e à responsabilidade social envolvidos.

Na TV, a categoria passará nos canais ESPN/Fox Sports! Neste domingo, 4 de abril, às 7h, você curte a primeira etapa da Extreme E, rali com Renan do Couto e Thiago Alves na transmissão ao vivo no Fox Sports

Talvez seja mais uma geração de jipeiros se formando, tal como eu fui, mas levando junto informação sobre como cuidar do meio ambiente através do esporte a motor.

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Rafael Duarte Oliveira Venancio é escritor e dramaturgo, psicanalista e psicoterapeuta, professor e mentor. Pós-doutor pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), sendo Doutor em Meios e Processos Audiovisuais pela mesma instituição. Suas peças de teatro e de radioteatro foram encenadas em três línguas em três países, tendo como temas mais frequentes a ficção e reimaginação histórica, a metadramaturgia, a história do futebol e demais esportes, e o storytelling filosófico e psicanalítico.