E se a nova pontuação da F1 valesse em 2021?
A F1 anunciou alterações na pontuação das sprints e de corridas encurtadas. Se ano passado fosse assim, será que o resultado seria o mesmo?
A temporada de 2021 ficou marcada como uma das mais equilibradas da história da Fórmula 1. Max Verstappen e Lewis Hamilton brigaram por cada ponto e chegaram à última etapa, em Abu Dhabi, rigorosamente empatados, com 369,5 pontos cada. A decisão só veio na última volta, quando Verstappen passou Hamilton e assegurou seu primeiro título mundial de pilotos.
Além da intensa batalha pelo título, o campeonato 2021 também ficou marcado pela estreia das corridas sprint, que dividiram opiniões do público. Houve quem aprovasse, houve quem criticasse. A F1 chegou a um meio termo ao anunciar nessa segunda-feira (14) algumas mudanças no formato, que passará a distribuir mais pontos: antes, apenas os 3 primeiros pontuavam. Agora, serão os 8 primeiros.
Ainda houve a polêmica da corrida do GP da Bélgica, que não chegou a acontecer em razão da chuva, e teve pontuação entregue pela metade aos pilotos. Esse tema também passou por uma análise da categoria e motivou uma mudança de regra. Agora, corridas interrompidas antes do fim previsto distribuem pontos proporcionalmente à quantidade de voltas completadas. No caso de uma corrida sem voltas em bandeira verde, como foi o caso na Bélgica, não haveria pontuação.
“E se”
O mundo da Fórmula 1 é pródigo no exercício de imaginação. Que atire a primeira pedra o fã que nunca se viu em uma conversa sobre o esporte que caísse em algum momento na condicional “se”, imaginando um passado que nunca aconteceu. “E se o Emerson ficasse mais um tempo na McLaren?”; “e se o Villeneuve não tivesse se acidentado?”; “e se o Piquet tivesse ido para a McLaren em 1988?”; “e se o Senna sobrevivesse em 1994”; “e se o Massa tivesse sido campeão em 2008?”
A mudança na regra de pontuação para 2022, anunciada logo após um campeonato tão equilibrado e tenso quanto o de 2021, levanta mais uma hipótese para o maravilhoso mundo do “se”: e se essas regras valessem no ano passado, o resultado do campeonato seria diferente?
Ao contrário de algumas das hipóteses e comparações desse passado que nunca existiu, que só podem ser especuladas e imaginadas, outras podem, de alguma forma, ser baseadas em números. É caso desse exercício de construção de uma realidade parelela.
A dinâmica do campeonato
Nesse mundo hipotético, a primeira mudança em relação ao mundo real aconteceria apenas no GP da Inglaterra, quando houve a primeira sprint do ano – e da história da F1. Verstappen chegou à Silverstone com uma vantagem considerável no campeonato, com 32 pontos a mais que Hamilton (182 x 150). Max venceu a sprint, somando 3 pontos, com Hamilton logo atrás, marcando 2. Após a sprint, o holandês ficou com 185, contra 152 do inglês.
Com a regra nova, a vitória de Max lhe renderia 8 pontos, enquanto o segundo lugar de Hamilton daria 7. Estariam com 190 a 157. Números diferentes, mas a distância de 33 pontos após a sprint seria a mesma.
Hamilton pontuou bem mais que o rival em Silverstone e na Hungria e reverteu a situação do campeonato, chegando a Spa 8 pontos à frente (195 x 187). No mundo paralelo, a distância também seria de 8 pontos, mas com 200 contra 192.
E em Spa as coisas se distanciariam mais entre o mundo real e o imaginado. Pela nova regra, a corrida não valeria pontos por não ter o mínimo de duas voltas válidas em bandeira verde. Assim, os 12,5 pontos dados a Verstappen pela vitória e os 7,5 dados a Hamilton pelo 3º lugar não existiriam.
Verstappen saiu da Bélgica muito próximo de Hamilton na classificação, com 199,5 ante 202,5 do piloto da Mercedes. No mundo paralelo, sem os pontos dessa prova, a distância entre eles seria maior nesse momento do campeonato, se mantendo nos 8 pontos que já estavam antes da prova (200 a 192 para Hamilton).
A segunda sprint do ano foi realizada no GP da Itália. Verstappen chegou à Monza com 224,5 pontos e somou 2 com o 2º lugar na sprint. Hamilton ficou em 5º e não pontuou. Ao final da sprint, Verstappen tinha uma vantagem de 5 pontos sobre o rival (226,5 x 221,5).
No cenário imaginado, seria Hamilton quem chegaria à Monza na liderança, com 219 pontos contra 217 de Verstappen. Com as regras atualizadas, Verstappen faria 7 pontos na sprint, enquanto Hamilton faria 4. A diferença entre os dois seria de apenas 1 ponto em favor de Verstappen (224 x 223).
Considerando que o campeonato se desenrolaria da mesma forma, o próximo momento de divergência entre os dois mundos seria em Interlagos, na última sprint do ano. Verstappen desembarcou no Brasil com 19 pontos de vantagem. Ele tinha 312,5, enquanto Hamilton somava 293,5. No mundo paralelo, Verstappen teria 310 à essa altura, e Hamilton 295. Seriam 15 pontos de vantagem.
Na sprint, assim como em Monza, Verstappen foi 2º e fez 2 pontos, com Hamilton em 5º, sem pontuar. Isso fez a vantagem após a sprint saltar para 21 pontos (314,5 x 293,5). Já considerando a regra de 2022, Verstappen somaria 7 pontos e Hamilton 4, terminando o sábado com uma diferença de 18 pontos a favor de Max (317 x 299).
Hamilton se recuperou na reta final e o campeonato real, como já citado nesse texto, chegou à corrida final rigorosamente empatado, com 369,5 pontos para cada. Verstappen tinha a vantagem no critério de desempate (uma vitória a mais), o que lhe garantiria o título caso nenhum dos dois pontuasse.
No mundo paralelo, seria o inglês quem teria vantagem para o GP de Abu Dhabi: 375 a 372 pontos. Impossível imaginar se isso mudaria a dinâmica da corrida. Hamilton seria menos agressivo na largada? Verstappen teria posto tudo a perder ao arriscar a ultrapassagem ainda na primeira volta, como fez?
Fato é que, se tudo fosse como aconteceu na vida real, a ultrapassagem na volta final também seria decisiva para o campeonato. A vitória levaria Verstappen aos 398 pontos, 5 a mais que os 393 de Hamilton. Como aconteceu, Verstappen fechou o ano com 395,5, antes 387,5 de Hamilton.
Conclusão
Se valesse no ano passado, a regra “ajudaria” Hamilton, já que Verstappen deixaria de fazer mais pontos na não-corrida de Spa. Em contrapartida, Hamilton ficaria para trás na pontuação das sprints. No cômputo geral, Hamilton chegaria à corrida final liderando o campeonato, mas Verstappen ainda seria campeão com a ultrapassagem na última volta. Em vez de 8 pontos de vantagem, a margem do título seria de apenas 5 pontos.
Mesmo por margem mais apertada, Max Verstappen seria o campeão de 2021 caso as novas regras de pontos já valessem no ano passado.