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Domenicali enfrenta prova de fogo na questão dos motores

Novo homem forte da F1, ex-chefe da Ferrari coloca liderança à prova na reunião desta quinta (11), que decide mudanças importantes nos GPs

10 fev 2021 - 12h19
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Domenicali (à esquerda) e Carey: italiano herdou o comando da F1 e também os problemas da categoria.
Domenicali (à esquerda) e Carey: italiano herdou o comando da F1 e também os problemas da categoria.
Foto: F1 / Reprodução

Esta quinta-feira, 11 de fevereiro, será decisiva para o futuro imediato da Fórmula 1. É o dia da Comissão da F1 tomar decisões que afetarão o futuro das equipes e, também, o formato dos fins de semana de corridas. Uma delas é a antecipação para 2022 do congelamento das chamadas Unidades de Potência (como hoje se denomina o conjunto formado pelo motor, turbocompressor e os sistemas de recuperação e armazenamento de energia elétrica).

Este congelamento está previsto para 2023, mas a decisão da Honda de abandonar a F1 no fim deste ano e a necessidade urgente de reduzir custos levaram à ideia de antecipá-lo. O plano é vistoriar e congelar todas Unidades de Potência já na primeira corrida do ano que vem. Só serão toleradas modificações que visem sanar problemas de resistência.

Assim, se poderia recuperar um pouco de competitividade da F1 e reduzir custos. Hoje, o leasing dos motores está na casa dos 15 milhões de dólares por ano, acrescidos das despesas de desenvolvimento, que são divididas entre as montadoras e as equipes clientes. Essa economia permitiria à Red Bull dar continuidade à presença dos motores Honda na F1. Para mantê-los, a equipe austríaca tem recursos financeiros, mas não para desenvolvê-los. 

A outra modificação se refere ao formato dos fins de semana de corrida. Ela prevê a realização de corridas Sprint aos sábados que servirão para definir a ordem de largada da prova principal, aos domingos. A ideia é fazer três provas experimentais neste ano e, caso sejam aprovadas, incorporá-las a partir de 2022. As pistas mais cogitadas para essa experiência seriam as do Canadá, Monza e Interlagos, considerados os circuitos mais nervosos de todo o calendário. 

Isso afetaria todo o cronograma atual. O segundo treino livre, nas tardes das sextas-feiras, daria lugar a uma prova de classificação que definiria o grid da prova do sábado, que teriam cerca de 100 km ou um terço das corridas principais. Para evitar que os pilotos se acomodem ou poupem seus carros, as corridas Sprint também distribuiriam pontos, mas em escala menor do que os das provas de domingo. A tendência é adotar a pontuação das corridas Sprint da Fórmula 2 e da Fórmula 3: 15 pontos para o vencedor, 12 para o segundo e, a seguir, 10, 8, 6, 4, 2 e 1 até o oitavo.

Estas inovações serão apreciadas nesta quinta-feira pela Comissão da F1, que é composta pela FIA, a Liberty Media e as 10 equipes que compõem o grid atual. Os votos da FIA e da Liberty têm, cada um, peso 10, enquanto os das equipes têm peso um. Para ser aprovado, cada tema precisa alcançar 28 pontos. 

Destas duas mudanças, a que deve causar mais controvérsias é a do congelamento dos motores. Ela é defendida pela FIA e a Liberty, o que garante 20 pontos. A elas somam-se a Red Bull e a Alpha Tauri, que sofrem com a menor potência dos motores Honda. Elas contam com o apoio da Mercedes, que teria a hegemonia de seus motores garantida pela antecipação do congelamento. 

Os votos contrários viriam da Renault, da Ferrari e das equipes que usam seus motores (Alfa Romeo e Haas). Se for aprovada, a antecipação reduziria de dois para um ano o tempo disponível para fazerem seus motores alcançarem a potência dos Mercedes. Juntas, elas chegariam a quatro pontos, o que deixaria a decisão nas mãos da Williams, da Aston Martin e da McLaren. Que utilizam motores Mercedes e dificilmente contrariariam sua fornecedora.

Mas o grande cabo eleitoral destas inovações é Stefano Domenicali, que assumiu a presidência da Liberty há pouco mais de um mês. Ex-chefe da equipe da Ferrari, Domenicali goza de prestígio e simpatia unânimes no paddock. Ele vem de uma longa carreira no automobilismo, que inclui também a reestruturação das categorias de base, do kart até a Fórmula 2, trabalho que lhe foi confiado pela FIA e que teve alcançou grande sucesso entre as equipes e os dirigentes. 

Red Bull depende demais da reunião do dia 11 para manter competitividade sem a Honda.
Red Bull depende demais da reunião do dia 11 para manter competitividade sem a Honda.
Foto: Red Bull, F1 / Divulgação

Formado em Administração de Empresas pela Universidade de Bolonha e profundo conhecedor de todos aspectos do esporte a motor, Domenicali sabe que a F1 precisa do apoio dos promotores dos grandes prêmios. E vê neste novo cronograma uma solução a ser adotada a partir de 2022, já que este 2021 promete ser mais um ano de arquibancadas vazias e baixa arrecadação. Com uma prova de classificação às sextas-feiras, a corrida Sprint aos sábados e o grande prêmio aos domingos, o público teria atrações reais nos três dias. O que beneficiaria também as emissoras de TV ao substituir o insosso segundo treino livre por uma prova de classificação. 

Por tudo isso, esta quinta-feira será importantíssima para a F1. Principalmente por provar que, depois do anacronismo de Bernie Ecclestone, que se negava a aceitar a evolução dos tempos, e da bem intencionada mas insuficiente gestão do americano Chase Carey na presidência da Liberty Media, a Fórmula 1 tem em Stefano Domenicali o líder certo para direcioná-la nestes tempos difíceis.

Ter sucesso nesta empreitada dará a Domenicali o apoio para enfrentar as muitas dificuldades que a categoria deve enfrentar ao longo do ano – e que já começa com a necessidade de alterar pela segunda vez o calendário. A terceira etapa, prevista para Portimão, no dia dois de maio, permanece sem local definido devido ao avanço da pandemia em Portugal.

E, apesar das inúmeras confirmações dos organizadores do GP de Mônaco, programado para o dia 23 de maio, é fortíssima a possibilidade de cancelamento. Com isso, crescem os temores de que, a exemplo de 2020, a F1 não tenha como cumprir o prometido – causando mais uma queda do número de telespectadores e, por consequência, também do faturamento.

Tempos difíceis exigem uma liderança que, até hoje, a Fórmula 1 não teve. Caberá a Stefano Domenicali apontar o caminho certo.

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