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Ferrari: fracasso nas corridas pode influenciar as vendas?

Nunca antes a Scuderia Ferrari teve dois carros largando e chegando em 13º e 14º lugares, como na Bélgica. Arranhão na imagem é perigoso

30 ago 2020 - 23h29
(atualizado em 31/8/2020 às 11h46)
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Vexame na Bélgica: Leclerc e Vettel largaram e chegaram em 13º e 14º lugares (com posições invertidas).
Vexame na Bélgica: Leclerc e Vettel largaram e chegaram em 13º e 14º lugares (com posições invertidas).
Foto: Ferrari / Divulgação

Todas as marcas de automóveis entraram no automobilismo para vender mais carros, com exceção de uma: a Ferrari. Ela foi a única marca que passou a vender carros porque tinha intenção de ser mais forte nas corridas. O propósito de Enzo Ferrari transformou a Scuderia Ferrari num mito -- até o ponto em que já não era mais possível saber o que tinha mais valor simbólico: os carros de corrida ou os carros de rua. Mas no GP da Bélgica, em Spa-Francorchamps, a Scuderia Ferrari viveu aquilo que o próprio site da marca descreveu como “o domingo mais difícil”.

Não foi exagero. Nunca antes na história a Scuderia Ferrari alinhou dois carros em 13º e 14º lugares no grid e terminou nas mesmas posições sem que houvesse algum problema mecânico ou acidente. E estamos falando de uma história de 71 anos e 998 GPs. Daqui a dois grandes prêmios, a Ferrari completará 1.000 participações na Fórmula 1 e fará isso em seu pior momento. O vexame no Grande Prêmio da Bélgica foi protagonizado pelos pilotos Sebastian Vettel e Charles Leclerc, mas principalmente pelo engenheiro Mattia Binotto, chefe de equipe, que não consegue fazer o Ferrari SF1000 ser competitivo na atual temporada.

Ferrari Portofino: modelo 2020 mais "acessível" no Brasil tem motor 3.9 V8 e custa R$ 2,4 milhões.
Ferrari Portofino: modelo 2020 mais "acessível" no Brasil tem motor 3.9 V8 e custa R$ 2,4 milhões.
Foto: Ferrari / Divulgação

Mas isso afeta as vendas da marca Ferrari? Só no Brasil, a Ferrari já tem oito modelos à venda na linha 2020 com preços que variam de R$ 2,4 milhões a R$ 4,9 milhões. São carros incrivelmente caros e também poderosos, com motores V8 aspirado, V8 turbo e V12 aspirado. A potência vai de 600 cv a 800 cv. Os modelos Ferrari 2020 disponíveis no Brasil são os seguintes:

Portofino 3.9 V8 - 600 cv - R$ 2.400.000

Roma 3.9 V8 - 620 cv - R$ 2.800.000

GTC4Lusso T 3.9 V8 - 610 cv - R$ 3.200.000

F8 Tributo 3.9 V8 Turbo - 720 cv - R$ 3.500.000                                                                                                                                

F8 Spider 3.9 V8 Turbo - 720 cv - R$ 3.900.000

812 Superfast 6.5 V12 - 800 cv - R$ 4.200.000

488 Pista Spider 3.9 V8 Turbo - 720 cv - R$ 4.600.000

812 GTS 6.5 V12 - 800 cv - R$ 4.900.000

Ferrari 812 GTS é o conversível mais potente já feito pela marca: motor 6.5 V12 tem 800 cavalos.
Ferrari 812 GTS é o conversível mais potente já feito pela marca: motor 6.5 V12 tem 800 cavalos.
Foto: Ferrari / Divulgação

Em 2019, a Ferrari vendeu 31 carros no Brasil, contra 33 da Lamborghini, que não está na Fórmula 1, mas tem o potente SUV Urus. No mercado global, as vendas da Ferrari caíram bastante. Em 2011 e 2012, a Ferrari vendeu, respectivamente, 24.635 e 24.576 unidades. Em 2013 as vendas caíram 43,4%; em 2014 a queda foi de 67,3%; em 2015 recuou 22,6%, para apenas 3.521 mil unidades. Em 2016 foram 4.173, em 2017 apenas 100 unidades e em 2019 a Ferrari vendeu 1.555 carros nos EUA. A queda coincide com os anos de domínio da Mercedes na Fórmula 1, mas não foi esta a razão e sim uma decisão da própria empresa. Desde 2014, a Ferrari decidiu produzir no máximo 7.000 carros/ano para atender o mundo inteiro. O objetivo da empresa passou a ser a exclusividade e não o volume de vendas.

Foi uma decisão sábia, pois isso blindou a marca contra eventuais fracassos na Fórmula 1. Na Europa, as vendas da Ferrari estão estáveis e até subiram. Se em 2008, ano do primeiro título mundial de Lewis Hamilton (McLaren-Mercedes), as vendas foram de 2.988 carros, em 2018 e 2019 a Ferrari vendeu 3.382 e depois 3.690 carros para o público europeu. A longo prazo, entretanto, a imagem da marca pode ser afetada pelos resultados na Fórmula 1, tanto para o bem quanto para o mal.  

Felipe Massa no GP da Grã-Bretanha de 2010: chegou em 16º, mas largou em 7º.
Felipe Massa no GP da Grã-Bretanha de 2010: chegou em 16º, mas largou em 7º.
Foto: Ferrari / Divulgação

Não apenas por causa disso, mas porque a Ferrari é a marca mais famosa e vitoriosa da Fórmula 1, a Scuderia convive atualmente com o vexame de Spa-Francorchamps. Antes disso, o pior resultado da Ferrari na F1 havia sido no GP da Grã-Bretanha de 2010. A bordo do Ferrari F10, Fernando Alonso terminou em 14º lugar e Felipe Massa chegou em 15º. Porém, os carros tiveram problemas, pois Alonso havia largado em 3º lugar e Massa em 7º. A história da Scuderia Ferrari tem algumas fases de muitas quebras nas corridas -- especialmente nos anos 70, 80 e 90 --, mas são raríssimas as vezes em que não largou entre os primeiros colocados.

Com apenas um carro na pista, o pior resultado da Ferrari foi no GP dos EUA de 1973, quando Arturo Merzario, com um modelo 312B3, largou em 11º lugar e chegou em 16º. Ao longo da história, a Scuderia Ferrari teve 84 modelos na Fórmula 1. Em seus 998 GPs foram 238 vitórias, 228 poles e 84 dobradinhas. Mais impressionante ainda é o número de pódios (1º, 2º ou 3º lugar): 772. Isso significa que em 77% das vezes um dos carros vermelhos de Maranello cruzou a linha de chegada entre os três primeiros colocados. A esses números somam-se ainda 15.124 voltas na liderança e 78.491 km em primeiro lugar.

Arturo Merzario e o Ferrari 312B3 em Monza: pior resultado foi nos EUA, um 16º lugar.
Arturo Merzario e o Ferrari 312B3 em Monza: pior resultado foi nos EUA, um 16º lugar.
Foto: Ferrari / Divulgação

Não por outro motivo, em sua história de 998 corridas, a Scuderia Ferrari ganhou 15 títulos de pilotos e 16 títulos de construtores (que começaram a ser contados somente em 1958; os de pilotos vêm desde 1950). Pelo menos por enquanto, as vendas de carros da Ferrari não estão ameaçadas pela péssima temporada de 2020, mas se o vexame do GP da Bélgica se repetir, a imagem da marca começa a ficar abalada. Até porque a Fórmula 1 atualmente utiliza carros híbridos, que já não são mais o futuro e sim o presente nos mercados mais ricos. Por causa disso, a Ferrari não pode ser vista como uma fabricante de carros do passado. 

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