Como a Fiat deu um banho de vendas na Volks e Chevrolet

Fazia cinco anos que a Fiat não era campeã de vendas no Brasil. Mas, em 2021, a Fiat não apenas recuperou o título - interrompendo a hegemonia da Chevrolet - como também atingiu o mesmo nível de vendas do ano de seu último título (2015). Os números e a própria história revelam que este novo reinado da Fiat pode ser longo.

Segundo a Fenabrave, em 2021 a Fiat vendeu 431.035 carros (21,8% de participação), número muito próximo dos 439.165 carros vendidos em 2015 (17,7% de participação). O mais impressionante é que em 2015 o Brasil licenciou 2,436 milhões de automóveis de passeio e comerciais leves, ao passo que no ano passado foram “apenas” 1,974 milhão de veículos leves licenciados. O segredo deste domínio está na estratégia. 

Como em 2015, a categoria de picapes foi fundamental para o sucesso comercial da Fiat no Brasil. Sem as picapes, a líder de mercado em 2021 seria a Volkswagen, que emplacou 267,6 mil carros, ou seja, 41 mil unidades a mais do que a Fiat, que fechou o ano com 226,5 mil. Com as picapes Strada e Toro, entretanto, a Fiat sobrou perante a dupla Saveiro e Amarok, da Volkswagen.

Juntas, a Strada e a Toro emplacaram 180 mil unidades no ano passado - um número arrasador perante as 34,6 mil Saveiro e Amarok vendidas pela Volks. Só aí já são mais de 145 mil carros de diferença a favor da marca italiana - sem contar que a Strada, totalmente renovada, se tornou a primeira picape campeã nacional de vendas no Brasil. Não por outro  motivo, a VW corre atrás do “prejuízo” e vai lançar uma nova geração da Saveiro.

Não se sabe, entretanto, se a nova Saveiro vai ser uma anti-Strada ou uma anti-Toro (projeto Tarok). Para dar uma ideia da urgência da Volks, ela perdeu também para a Chevrolet, que emplacou 37,2 mil unidades da S10 e da Montana - sendo que esta última saiu de produção para dar lugar à nova Montana, que será uma anti-Toro. Se a Volkswagen for pelo mesmo caminho, a Fiat Strada reinará sem nenhuma adversária na segunda metade da década.

Ainda no segmento de comerciais leves, a Fiat também teve vendas que não passaram nem perto do radar da VW e da GM. Entre os furgões pequenos, o Fiat Fiorino obteve 92% das vendas da categoria com 20,6 mil emplacamentos - e a marca ainda se deu ao luxo de aposentar o Fiat Doblò (vice-campeão com 955 vendas) e renovar o Fiorino, um carro baseado no também aposentado Uno e que custa R$ 99.990.

Outra categoria lucrativa para a Fiat é a de furgões grandes, na qual o modelo Ducato teve 2,9 mil vendas. Nesse caso, a VW esteve presente com o modelo Express, que teve 3,5 mil vendas, mas sob a marca Man - essas vendas não contam para a Volks, assim como as da Jeep, Ram, Peugeot e Citroën (todas da Stellantis) não são contabilizadas para a Fiat. A única das três que atua no mercado brasileiro com apenas uma marca (Chevrolet) é a GM.

Durante o ano passado, com a escassez de semicondutores, a Fiat foi a marca que mais bem administrou a crise. A Chevrolet ficou praticamente cinco meses sem produzir a dupla Onix Hatch e Onix Plus, o que lhe saiu caro. A Volkswagen, para ser rentável, teve que apostar suas fichas no segmento SUV, com bons desempenhos do trio T-Cross, Nivus e Taos. A Chevrolet também teve boas vendas do Tracker. O Gol foi o carro mais vendido da Volkswagen e competiu diretamente com dois Fiat, o Mobi e o Argo - que cresceram na falta de Onix para comprar. Por causa de tudo isso houve uma reviravolta no ranking de marcas.

Somente na categoria de sedãs a Fiat foi superada com facilidade pela Chevrolet e até pela Volkswagen. O Chevrolet Onix Plus foi o sedã mais vendido do ano passado (54,7 mil emplacamentos) e a Volks fez milagre com o Voyage (28,6 mil vendas, quase todas diretas). O Cronos teve 27,9 mil vendas - os sedãs são um ponto vulnerável da Fiat.

Quanto ao futuro, ele parece apontar céu de brigadeiro para a Fiat. Nos últimos cinco anos, a marca italiana não brigou pela liderança em quatro deles porque a estratégia da empresa (na época, FCA) era consolidar as marcas Jeep no segmento SUV. Em 2021 a Fiat finalmente ganhou um SUV para chamar de seu, o Pulse, que já no segundo mês (dezembro) foi o sexto mais vendido com 4,4 mil licenciamentos, superando até o campeão do ano (Jeep Renegade).

Finalmente, vale lembrar que a Fiat liderou o mercado brasileiro durante 11 anos consecutivos (2004 a 2015). Teria sido muito mais se não fosse a vitória da Chevrolet em 2003, interrompendo outra sequência. Portanto, para voltarem a derrubar a Fiat no ranking de vendas, a Volkswagen e a Chevrolet terão que ser precisas na escolha de novos modelos, nas categorias certas e também na administração da oferta de semicondutores. Façam suas apostas!