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Balanço da década (II): Onix, HB20 e Ka deram lição ao Gol

Volkswagen passou metade da década dando tiro para os lados, enquanto o Gol perdia a liderança de 27 anos e a fama de imbatível

7 jan 2020 - 07h46
(atualizado em 20/12/2021 às 10h11)
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Gol: três facelifts na geração lançada em 2008 e uma queda de 300 mil para 81 mil carros.
Gol: três facelifts na geração lançada em 2008 e uma queda de 300 mil para 81 mil carros.
Foto: VW / Divulgação

Nada como uma longa liderança para que o líder relaxe e perca o primeiro lugar. Foi o que aconteceu com a Volkswagen entre 2010 e 2019 em relação ao Gol. É verdade que nas duas décadas anteriores a Volks não precisou de grande esforço para manter o Gol no topo. Mas a década passada foi diferente, e a grande empresa alemã parece ter sido a última a perceber. Resultado: o Gol, que havia terminado a década anterior (2000 a 2009) com 303 mil carros emplacados, exatos 100 mil à frente do segundo colocado (Fiat Palio), chegou ao final de 2019 com 81,2 mil emplacamentos, em quinto lugar, e 159,9 mil carros atrás do líder (Chevrolet Onix).

Na prática, o Gol recuou 260 mil carros/ano, descontando a diferença que tinha a favor e a diferença que agora tem contra. Quanto ao Fiat Palio, coitado, nem é mais fabricado, o que apenas demonstra como o mercado mudou no segmento de hatches compactos. Mas no meio da década, no final de 2015, o Gol já tinha caído para o patamar atual e o Palio ainda seguia firme em segundo lugar. O novo líder já era o Onix, que nunca mais perdeu a liderança. À frente do Gol estavam também o Hyundai HB20 e o Ford Ka, que terminaram a década disputando carro a carro o segundo lugar.

Onix: sucesso absoluto desde o lançamento, nova geração e pentacampeonato de vendas.
Onix: sucesso absoluto desde o lançamento, nova geração e pentacampeonato de vendas.
Foto: GM / Divulgação

Oficialmente a década só termina em 2020, mas para facilitar futuras análises históricas (anos 10, anos 20, anos 30 etc.), nosso balanço está contando os anos de 0 a 9. Feita essa ressalva, vamos aos fatos. O Onix, o Ka e o HB20 nada mais são do que aquilo que o Gol deveria ter sido. Durante anos, só a Volkswagen sabia fazer um carro que agradava em cheio às necessidades e ao bolso do brasileiro que buscava um hatch compacto. Porém, as outras marcas aprenderam a fazer o “seu próprio Gol”, enquanto a Volkswagen dormiu sobre os louros.

Os movimentos da GM, da Hyundai e da Ford aconteceram logo no início da década. A GM apresentou o Chevrolet Onix. O “Gol” da Chevrolet era maior, tinha um desenho agradável e trazia uma boa e acessível conectividade chamada MyLink. Foi um sucesso imediato. A Hyundai, por sua vez, aproveitou o trabalho de marca feito pelo Grupo Caoa com seus carros importados e lançou o HB20. O “Gol” da Hyundai era bonito como nunca se vira no mercado de carros pequenos/compactos, trouxe um motor de apenas três cilindros e logo se tornou um carro aspiracional. Não era proibido ser bonito nas categorias de entrada. Quanto à Ford, tomou tanta surra com a primeira geração do Ka que nunca mais quis ouvir falar em subcompacto. O “Gol” da Ford surgiu na forma do novo Ka, mais espaçoso, bonito, equilibrado e com a boa conectividade da central Sync.

Ford Ka: adeus ao conceito de subcompacto da geração anterior e sucesso na década.
Ford Ka: adeus ao conceito de subcompacto da geração anterior e sucesso na década.
Foto: Ford / Divulgação

Enquanto isso, a Volkswagen atirava para os lados. Descuidou do Gol e achou que o mercado se contentaria com três (!) facelifts na geração lançada em 2008. Não deu certo. Se tivesse feito isso para apostar no segmento de SUVs, seria uma boa opção, mas não foi nada disso. A Volks apostou suas fichas no Up, um simpático carro que trouxe qualidade construtiva para o segmento de subcompactos. Um carro simples, urbano, seguro e eficiente. Tinha tudo para dar certo, mas foi o carro certo na hora errada e no país errado. O brasileiro não gostou do acabamento extremamente simples do Up e muito menos da relação custo-benefício, pois o carro sempre foi caro e só acomoda bem quatro pessoas.

Para além disso, ao invés de explorar as qualidades técnicas do modelo, a Volkswagen preferiu passar um mensagem “descolada” para o público jovem… exatamente quando o público jovem estava dando uma banana para o automóvel como conceito de liberdade e migrando para outras formas de mobilidade.

HB20: visual matador na primeira geração e status de carro aspiracional no segmento.
HB20: visual matador na primeira geração e status de carro aspiracional no segmento.
Foto: Divulgação

Quanto tentou corrigir isso, com o Up TSI, a Volks finalmente explorou bem as qualidades técnicas do carro. Mas era tarde e, pior, o Up ficou ainda mais caro num cenário de crise econômica sem precedentes. Na parte final da década, a Volks enfim deu uma grande tacada no segmento e apresentou o Polo, mas ficou aquela sensação de que ele era tudo que o Gol deveria ter sido.

No final de 2009, os cinco hatches compactos mais vendidos do Brasil emplacaram mais de 100 mil unidades/ano. E a Volkswagen tinha dois modelos na lista: Gol e Fox. Dos cinco, quatro eram do segmento de entrada. No final de 2019, dos cinco hatches compactos mais vendidos, somente três venderam acima de 100 mil, exatamente os três que vieram com proposta de carro maior e mais útil na combinação cidade/estrada/eficiência/conectividade. Dos cinco, o único que continua com a geração lançada na década de 2000 a 2009 é o Gol. Confira os números no quadro abaixo.

A QUEDA DO GOL EM 10 ANOS
VELHOS LÍDERESVENDAS 2009
Volkswagen Gol 303.014
Fiat Palio203.712
Fiat Uno168.488
Chevrolet Celta139.406
Volkswagen Fox129.179
NOVOS LÍDERESVENDAS 2019
Chevrolet Onix241.214
Ford Ka104.330
Hyundai HB20101.590
Renault Kwid85.117
Volkswagen Gol81.285
Guia do Carro
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