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YouTube | Sistema de comentários pagos é usado para manifestações racistas

17 mai 2018 - 12h11
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Supremacistas brancos e partidários de extrema direita estão utilizando o sistema de comentários pagos do YouTube para darem mais destaque a manifestações racistas, homofóbicas, antissemitas e outros tipos de discursos de ódio. As mensagens aparecem durante debates online voltados para esse público, mas também podem ser divulgadas em praticamente qualquer transmissão ao vivo.

O abuso está relacionado ao Super Chat, um sistema criado pela Google para que espectadores possam recompensar seus criadores de conteúdo preferidos com doações e, em troca, tenham suas mensagens no chat destacadas das demais. Sistemas externos permitem que tais mensagens, ainda, sejam lidas no ar por robôs e apareçam com destaque nos vídeos em si, o que aumenta mais o seu alcance e motivou, agora, o problema.

Mais do que isso, a publicação de Super Chats racistas tem se tornado uma bela fonte de renda para youtubers ligados a públicos supremacistas e nacionalistas, que podem ter a monetização de seus vídeos comuns reduzida por conta do teor de seus discursos. São eles, também, que afirmam que a plataforma da Google pratica uma censura velada às suas opiniões e, agora, encontraram nas doações uma forma de recuperar parte do faturamento perdido.

Doações pelo Super Chat permitem que comentários sejam destacados na tela de bate-papo (Imagem: Divulgação/YouTube)
Doações pelo Super Chat permitem que comentários sejam destacados na tela de bate-papo (Imagem: Divulgação/YouTube)
Foto: Canaltech

Quem revela o aumento cada vez maior na publicação de comentários desse tipo - e também o tamanho do faturamento oriundo deles - é o BuzzFeed, cuja matéria traz alguns números bem impressionantes. O total de doações varia muito de acordo com o tamanho dos canais usados para transmissão e os participantes, é claro, mas os valores circulam na média dos US$ 2 mil obtidos por streaming, somente quando se leva em conta o conteúdo racista e extremista publicado.

Quanto maior o total pago, mais tempo o comentário fica em destaque, acima da janela de chat comum. Foi o que levou, por exemplo, um usuário intitulado Nacional Socialista a gastar US$ 100 para exibir a mensagem "Orgulho branco em todo o mundo" na transmissão de um debate entre Richard Spencer e Mike Enoch, dois nacionalistas americanos. No total, o streaming da conversa acumulou mais de US$ 4 mil em doações.

Convencionou-se chamar a prática de "Bloodsports" - longos programas ao vivo com entrevistas, comentários ou simplesmente discursos de ideias políticas e sociais. Normalmente transmitidos na parte da noite, no fuso-horário americano, tais transmissões atraem milhares de espectadores e funcionam quase como um talk-show, com a diferença de que o discurso propagado não poderia ser transmitido na televisão aberta.

Canais não necessariamente ligados a ideias nacionalistas ou supremacistas também estariam entrando na onda. Ficou notória, por exemplo, a participação de Christopher Cantwell, conhecido no YouTube como "o nazista chorão", em um streaming do comediante Andy Warski. Os espectadores eram incitados a mandarem perguntas pelo bate-papo, com o Super Chat, claro, servindo para que alguns se destacassem dos demais - as duas maiores doações foram de US$ 400 e, depois, US$ 500.

Além disso, espaços nada ligados ao conteúdo político também estariam sendo alvo de campanhas de disseminação de conteúdo de ódio. Qualquer usuário pode enviar Super Chats em transmissões ao vivo que tenham o recurso habilitado, então basta ter um streaming popular no ar, seja ele de games, discussões, comentários ou o que quer que seja, para, possivelmente, se tornar um vetor.

Em resposta à reportagem, o YouTube disse que suas regras com relação a discurso de ódio e conteúdo violento não se aplica somente a vídeos, mas também textos de comentários, descrições e outros. Por outro lado, a empresa admitiu que falha em realizar a devida moderação do conteúdo enviado por meio do Super Chat, prometendo revisitar suas políticas com relação a isso e incrementar os sistemas automatizados.

Além disso, a companhia lembra que os próprios criadores de conteúdo possuem opções de moderação que se aplicam, também, a Super Chats. Mesmo pagos, os comentários destacados podem ser deletados e seus autores suspensos ou proibidos de postarem no chat. Além disso, os responsáveis pelos canais podem cadastrar moderadores parceiros para fazerem esse tipo de trabalho, com os mesmos poderes, durante as transmissões ao vivo.

Por fim, a companhia lembrou dos anúncios feitos no início do ano sobre seu posicionamento mais duro em relação a vídeos que promovam conteúdo violento ou intolerante. Tais iniciativas, de acordo com a empresa, continuam em andamento, mas, agora, esse foco também vai se estender aos Super Chats.

Canaltech Canaltech
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