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No futuro, fezes de astronautas poderão virar alimentos

26 jan 2018 - 16h18
(atualizado às 16h20)
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Fazer as necessidades fisiológicas no espaço não é algo tão fácil como fazemos aqui na Terra, e outro desafio é o que fazer com os dejetos humanos despejados no espaço. Na Estação Espacial Internacional, uma descarga a vácuo suga e armazena as fezes em um reservatório próprio para tal, mas a NASA ainda não tem uma solução para problemas, como, por exemplo, caso essa rede de esgoto pare de funcionar.

cocô no espaço
cocô no espaço
Foto: Canaltech

Em somente um ano, um único astronauta pode produzir 80 quilos de fezes durante uma missão espacial, e essa quantidade enorme de cocô acaba sendo devolvida à Terra, mas sem arriscar contaminar o planeta, uma vez que esses dejetos entram em combustão assim que caem em nossa atmosfera.

Mas, no que depender de um estudo publicado no periódico científico Life Sciences in Space Research, micróbios podem desempenhar um papel fundamental para resolver o problema do cocô espacial. Um dia, astronautas podem transformar resíduos humanos em alimentos, levando o conceito de sustentabilidade a um patamar inédito.

Os pesquisadores mostraram ser possível quebrar rapidamente resíduos orgânicos sólidos e líquidos para cultivar alimentos com uma série de reatores microbianos, minimizando, também, o crescimento de patógenos no processo. Segundo Christopher House, professor de geociências em Penn State, "testamos o conceito de tratar simultaneamente os dejetos de astronautas com micróbios enquanto se produz uma biomassa comestível, direta ou indiretamente".

Essa pode ser uma solução para a colonização de Marte, já que, no momento, estudos ainda estão sendo conduzidos para definir como os astronautas produzirão seus alimentos por lá. É possível que a ciência descubra meios de se cultivar vegetais hidropônicos no espaço ou plantar sementes no solo marciano, mas, caso o estudo de House vá para frente, as próprias fezes serão convertidas em alimento. Afinal, levar comida daqui da Terra para Marte aumenta o peso da espaçonave, o que, consequentemente, exige uma maior quantidade de combustível para ser transportada, tornando esse suprimento inviável.

Para testar a ideia, os pesquisadores usaram um material sólido e outro líquido similar às fezes humanas, criando um sistema cilíndrico fechado com quatro metros de comprimento e quatro centímetros de diâmetro, no qual os micróbios selecionados entraram em contato com o material. Então, esses micróbios, por meio da digestão anaeróbica, conseguiram quebrar esses resíduos. Esse processo é similar à técnica usada na Terra para tratar esgoto.

Para House, "é uma maneira eficiente de obter massas tratadas e recicladas, e o que foi novo em nosso trabalho foi tirar os nutrientes dessa corrente e intencionalmente colocá-los em um reator microbiano para produzir alimentos". Com o experimento, a equipe descobriu que o metano foi produzido durante a digestão anaeróbica, e esse metano pode ser usado para cultivar um outro tipo de micróbio (Methylococcus capsulatus), que é usado como alimento para animais.

Então, os pesquisadores descobriram que é possível produzir um alimento nutritivo para astronautas, já que conseguiram produzir uma biomassa com 52% de proteína e 36% de gorduras. Para eliminar agentes patogênicos no processo, a equipe fez o cultivo dos micróbios em um ambiente alcalino e também em ambientes com alto calor, aumentando o pH do sistema para 11 e encontrando, no final do processo, uma cepa da bactéria Halomonas desiderata que poderia prosperar. Essa bactéria, em temperaturas elevadas, consegue matar a maioria dos agentes patogênicos.

Durante os testes, a equipe removeu entre 49 e 59% de sólidos em apenas 13 horas, sendo que o processo de gerenciamento de resíduos existente atualmente pode demorar vários dias para acontecer. Contudo, House explica que o sistema ainda não está pronto para ser aplicado. Mas a equipe segue conduzindo novos testes a fim de criar uma solução possível para o tratamento de fezes no espaço, gerando alimento como subproduto.

Canaltech Canaltech
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