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Apple tenta impulsionar estratégia no mundo dos games com o iPhone 13

Novo smartphone traz recursos para quem gosta de jogos eletrônicos; empresa tenta atrair usuários para o serviço Apple Arcade, mas preço é um grande obstáculo

19 set 2021 - 17h00
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iPhone 13 Pro traz até 1 TB de memória, tela de 120 Hz e melhor processamento gráfico, capacidades essenciais para jogos
iPhone 13 Pro traz até 1 TB de memória, tela de 120 Hz e melhor processamento gráfico, capacidades essenciais para jogos
Foto: Divulgação/Apple / Estadão

Já faz algum tempo que games para celulares deixaram de ser o "jogo da cobrinha" para formarem uma indústria bilionária - em 2020, ela faturou US$ 80 bilhões no mundo, segundo a empresa de análise Newzoo. É uma disputa que envolve grandes estúdios (como a Blizzard), nomes tradicionais (como Sony, Microsoft e Nintendo), e gigantes da tecnologia, (como Google e Apple). Diante de tantos nomes de peso, a empresa criada por Steve Jobs lançou mão da peça que faltava em sua estratégia para buscar a liderança também nos jogos eletrônicos.

Na terça, 14, a Apple apresentou a geração 2021 do iPhone. À primeira vista o iPhone 13 não empolgou: com melhorias pontuais na câmera, na bateria e em outras especificações técnicas, o telefone poderia ser batizado de "12S". Durante muitos anos, a Apple usou a nomenclatura "S" para indicar uma atualização mais simples do celular - o padrão foi abandonado entre o iPhone 11 e o iPhone 12.

Para quem joga, porém, o iPhone 13 Pro e o iPhone 13 Pro Max, os mais avançados entre os quatro modelos lançados, indicam um aceno carinhoso da Apple. Com mais armazenamento, mais potência no desempenho gráfico e melhorias na tela, o iPhone virou uma potente máquina de jogatina.

Não que os celulares da Apple não tivessem capacidade antes, mas testes preliminares em sites especializados indicam que o novo processador A15 supera os concorrentes de outras marcas. Sem citar nomes, a Apple afirma que seu chip tem processamento gráfico 30% superior aos dos rivais.

Além disso, a tela agora tem taxa de atualização de 120 Hz, algo já visto em celulares da Samsung e da Motorola. Renato Franzin, pesquisador da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), explica a importância disso: experimente piscar os olhos em certo ritmo enquanto assiste à televisão. Agora, acelere as piscadelas e note como você acaba enxergando mais, já que os olhos permanecem abertos com mais frequência. "Quando você pisca mais rápido, você perde menos informação. E, ao jogar em 120 Hz, o usuário tem a oportunidade de ver o movimento gráfico reagindo com mais fluidez e dinamismo na tela", explica.

A nova capacidade máxima de armazenamento, de até 1 TB, também responde ao consumo de espaço cada vez maior de jogos - Fantasian, do mesmo criador da franquia Final Fantasy, pode chegar a até 4 GB no celular, o equivalente a milhares de fotos em alta resolução gravadas em sua biblioteca.

A Apple não é pioneira no mundo dos smartphones para games. O movimento de fabricantes de smartphone em direção a aparelhos focados no público já ocorre há alguns anos. O Samsung Galaxy S21 Ultra, à venda no Brasil desde março, tem especificações que atendem bem os jogadores mais exigentes. Já a Motorola trouxe para o Brasil os celulares Legion, marca da chinesa Lenovo, conhecida pelos equipamentos voltados para gamers profissionais (a Lenovo é dona da Motorola desde 2014). Já a Asus anunciou que trará ao Brasil ainda em 2021 o ROG 5, um celular "monstro": ele tem tela de 144 Hz, 18 GB de RAM e sistema de resfriamento para aguentar ao superaquecimento causado pelos jogos.

Apple promete melhor capacidade de processamento em jogos no iPhone 13 Pro
Apple promete melhor capacidade de processamento em jogos no iPhone 13 Pro
Foto: Divulgação/Apple / Estadão

Integração

Com tantas opções no mercado, o mercado gamer é bem mais fragmentado do que a Apple gostaria - a disputa judicial com a Epic sobre o sistema de pagamentos da loja de aplicativos App Store, que terminou em vitória parcial do estúdio, mostra a força dos nomes nessa indústria. Títulos de sucesso, como Fortnite (da própria Epic) e Call of Duty: Mobile, podem ser jogados em celulares Android e em outros dispositivos.

Historicamente, esse é um cenário diferente daquele que a Apple considera ideal: integração entre software e hardware, formando um ecossistema fechado. Durante muito tempo, uma das vantagens do iPhone em relação ao Android era a quantidade e a qualidade dos aplicativos na App Store - muitos deles exclusivos. Com os jogos, isso vem se desenrolando de maneira diferente. Ter um iPhone mais potente pode ser a peça que faltava para atrair os jogadores de volta.

"O iPhone 13 funciona bem com games e se encaixa com a estratégia mais ampla da Apple. Esse telefone foi construído com a esperança de atrair mais clientes para os serviços da empresa, incluindo o Apple Arcade e outras plataformas de streaming, como música e TV", diz ao Estadão Dan Ives, da consultoria americana Wedbush Securities.

A Apple já havia tentado uma estratégia na direção oposta: ter jogos exclusivos que poderiam ajudar na venda de dispositivos. Em 2019, a empresa anunciou o Apple Arcade, uma plataforma por assinatura que traz também jogos exclusivos. Embora tenha sido bem recebida na época do lançamento, o serviço ainda não se mostra fundamental para fãs de jogos eletrônicos. Agora, especialistas acreditam que o iPhone possa ajudar o Apple Arcade.

"Acredito que o iPhone 13 aumentará o uso do Apple Arcade em 15% no primeiro ano", diz Ives.

Detalhe nada pequeno

Entre aquilo que imagina a Apple e os desejos dos jogadores, há um detalhe nada pequeno: o preço. O iPhone 13 Pro Max de 1 TB, modelo mais caro à venda, chegará ao Brasil por R$ 15,5 mil. É um preço bem acima dos consoles mais potentes do mercado, como o PlayStation 5 e o Xbox Series X, lançados em 2020 e vendidos hoje a R$ 4,4 mil e R$ 4,3 mil, respectivamente. Embora não seja possível fazer ligações ou tirar fotos com esses aparelhos, são plataformas de alta potência para transmitir jogos com narrativas e jogabilidade complexas.

Assim, Reinaldo Sakis, da IDC, diz que ainda é cedo para imaginar que um 'iPhone gamer' possa ter algum impacto significativo no mercado de games. Para isso acontecer, a tecnologia do iPhone 13 teria que aparecer em celulares de entrada. "Há esse impulso quando a tecnologia deixar de ser um nicho e começar a ser mais adotada porque está num celular mais barato", diz ele.

Difícil imaginar a Apple tomando essa rota, mas à frente dela há um horizonte de oportunidades. "O segmento de celulares gamers ainda é muito inexplorado. Uma série de oportunidades vão surgir no futuro com o desenvolvimento desse nicho", acredita Fernando Baialuna, diretor da consultoria GfK.

Estadão
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