Presidente do real, Itamar navegou entre polêmicas
Presidente da República durante o período de estabilização da economia, Itamar Augusto Cautiero Franco morreu neste sábado aos 81 anos, vítima de acidente vascular cerebral, após se internar para tratamento de uma pneumonia. Com uma carreira política crivada de polêmicas, que lhe rendeu a imagem de um político folclórico, Itamar gostava de dizer que chegou à Presidência "pela Constituição e pela vontade de Deus".
Nascido a bordo de um navio em 28 de junho de 1930 e registrado como natural de Salvador (BA), Itamar perdeu o pai com poucos meses e foi levado pela mãe a Juiz de Fora (MG), cidade onde cresceu e iniciou sua trajetória política.
Formado em engenharia civil pela Universidade Federal de Juiz de Fora, foi prefeito por duas vezes e, em 1974, elegeu-se senador pelo MDB, partido de oposição ao regime militar (1964-1985), sendo reeleito em 1982.
O grande salto na carreira, no entanto, começou em 1989 quando lançou-se candidato a vice-presidente na chapa do extinto Partido da Reconstrução Nacional (PRN), encabeçada pelo então governador de Alagoas Fernando Collor de Mello.
Com o impeachment de Collor em 1992, Itamar se viu alçado ao cargo mais alto do país, ao centro de uma crise institucional e ao mandato em que foi criado o Plano Real, que colocaria fim à inflação de mais de 1.000 por cento ao ano.
Foi apontado como desleal por Collor, que o acusou de fazer agrados e dar cargos a senadores durante o período que o ex-companheiro de chapa estava afastado aguardando julgamento justamente do Senado.
"O Itamar nunca foi favorável ao impeachment do Collor. O Congresso Nacional é que cassou o mandato do Collor", disse à Reuters o senador Pedro Simon (PMDB-RS), líder do governo Itamar no Congresso e amigo do ex-presidente.
"Era de uma modéstia exagerada... A obra dele foi realmente excepcional", afirmou.
Por outro lado, Itamar também se declarou traído, por Fernando Henrique Cardoso, com quem mantinha boas relações e foi seu ministro da Fazenda e sucessor na Presidência.
"As coisas entre nós só se complicaram depois, quando eu já o sucedera, e tardiamente percebi que Itamar gostaria de voltar à Presidência", afirma FHC sobre o ex-chefe em seu livro "A Arte da Política".
Travou, e perdeu para seu ex-ministro, a disputa pela paternidade perante a opinião público do Plano Real, e rompeu com ele após a aprovação da emenda da reeleição e depois de perder uma disputa dentro do PMDB para ser o candidato da sigla na eleição presidencial de 1998.
Após assumir a Presidência em 1992, Itamar criou um "governo de união nacional". À época, apenas o PT entre os grandes partidos se recusou a integrar o governo.
"Havia um governo de diálogo permanente com o Congresso. É um governo que você não tem uma vírgula para falar que não seja de correção", lembra Simon.
Teve de combater também as turbulências econômicas do período. Em pouco mais de dois anos de governo, teve seis ministros da Fazenda, nenhum deles ficou mais de um ano no posto.
MORATÓRIA, CARNAVAL E FUSQUINHA
Com um indefectível topete e afeito a polêmicas, Itamar ganhou fama de político folclórico, o que o incomodava, em grande parte por conta de episódios como o Carnaval de 1994. O então presidente foi fotografado na Marquês de Sapucaí sorridente ao lado da modelo Lilian Ramos que, detalhe, não usava roupa de baixo.
Também foi alvo de piadas quando, em 1993, defendeu a fabricação de carros populares no país e incentivou a Volkswagen a voltar a fabricar o Fusca, "criando" um novo modelo do popular da montadora alemã no país: o Fusquinha Itamar.
Já desafeto de Fernando Henrique Cardoso, elegeu-se governador de Minas Gerais em 1998 e, pouco depois de assumir no ano seguinte, decretou a moratória da dívida do Estado com a União, gerando turbulências nos mercados financeiros num momento delicado da economia do país.
Itamar fez mais. Mobilizou membros da tropa de elite da Polícia Militar de Minas Gerais e os colocou nos arredores do Palácio da Liberdade, sede do governo estadual, para proteger Minas de um eventual ataque federal.
Também mobilizou policiais militares para proteger a Cemig, companhia elétrica estatal de Minas, e Furnas, para resistir a tentativas de privatização dessas empresas.
Itamar também foi embaixador do Brasil em Lisboa, Roma e na Organização dos Estados Americanos (OEA).
Aliado ao ex-governador mineiro Aécio Neves (PSDB), se elegeu ao lado dele senador por Minas Gerais pelo PPS em 2010 com 5,1 milhões de votos. Seu mandato como senador iria até 2019.