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Postura de Bolsonaro testará discurso contra corrupção

Cientista político Roberto Gondo, do Mackenzie, diz que comportamento mais institucional fortaleceria presidente, mas qualquer demonstração de fragilidade o prejudicaria

19 jan 2019 - 14h47
(atualizado às 15h40)
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A postura que o presidente Jair Bolsonaro adotará daqui para frente, diante do caso do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), estará em plena análise pela população e deve testar até que ponto vai a aplicação de sua política de combate à corrupção, amplamente defendida durante a campanha eleitoral. A avaliação é do cientista político do Mackenzie, Roberto Gondo.

"A tendência é que a situação de Flávio se agrave, à medida em que as denúncias existentes contra ele o tornem réu de um processo judicial. Aí caberá a questão de ver se Bolsonaro se portará como pai ou como presidente", disse Gondo. Para o especialista, a hipótese de um comportamento mais institucional fortaleceria a imagem do presidente, mas qualquer demonstração de fragilidade o prejudicaria. "Como se combate a corrupção se com seu filho for diferente?", questionou.

Foto: IstoÉ

Trecho de um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), revelado na noite de sexta, 18, pelo Jornal Nacional, da TV Globo, mostra que em um mês quase 50 depósitos em dinheiro foram feitos numa conta de Flávio Bolsonaro. A suspeita, segundo a reportagem, é que funcionários dos gabinetes devolviam parte dos salários, numa operação conhecida como "rachadinha". No início de dezembro, movimentações financeiras atípicas, na ordem R$ 1,2 milhão, já haviam sido divulgadas pelo Estado, envolvendo o ex-assessor de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Fabrício Queiroz.

Neste contexto, o cientista político do Mackenzie reforçou que os efeitos sobre a confiança da população e a imagem do presidente dependerão de como ele vai agir com o desdobramento destes fatos. Inclusive, as atitudes do ministro da Justiça, Sergio Moro, também estarão em avaliação.

"Por enquanto, o eleitorado conservador acredita que a questão de Flávio Bolsonaro é incipiente para gerar um descontentamento em relação ao governo", diz. Isso permitiu que Moro optasse pela omissão tanto na situação de Flávio quanto do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que já admitiu, em 2017, ter recebido R$ 100 mil em caixa 2 da empresa de carnes JBS. "Se Onyx e Flávio forem supostamente protegidos, a imagem de Moro também ficará fragilizada", argumentou Gondo.

Além da questão familiar, Bolsonaro precisará manter a confiança da população mediante os conflitos internos da bancada do PSL no Congresso, devido à "inexperiência de alguns parlamentares", destacou o cientista político. Entretanto, a falta de alinhamento nos discursos ainda é considerada comum durante os primeiros dias de governo

Estadão
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