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O lado obscuro do sucesso da Croácia na Copa

14 jul 2018 - 11h42
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Seleção croata surpreendeu ao chegar à final do Mundial na Rússia, em que enfrentará a França. Futebol do pequeno país produz em série tanto craques quanto escândalos, movimentando grandes quantias.Quem se dispõe a virar campeão do mundo deve ter feito muita coisa certo, ainda que não tudo. No caso da Croácia - que, neste domingo (15/07), enfrentará a França na final da Copa do Mundo de 2018 -, o contrário parece ser verdade.

Craques da seleção croata mal podiam acreditar na vitória contra Inglaterra na semifinal do Mundial
Craques da seleção croata mal podiam acreditar na vitória contra Inglaterra na semifinal do Mundial
Foto: DW / Deutsche Welle

Não há como compreender o futebol desse país sem falar do Dinamo Zagreb. O time da capital é uma espécie de instituto de aprimoramento futebolístico. Segundo o Centro Internacional de Estudos do Futebol, sediado na Suíça, trata-se do quarto maior "produtor" de craques da Europa. Os quais, note-se bem, vão direto para as primeiras ligas do continente. O clube é uma meca dos olheiros e uma máquina de fazer dinheiro.

Isso faz do Dinamo Zagreb um candidato regular à Liga dos Campeões da Uefa - teoricamente. Na prática, ele consegue no máximo chegar até a fase de grupos, e em geral em último lugar.

O motivo para tal é bastante óbvio: dificilmente o celeiro de craques consegue manter uma equipe por mais de meia temporada. O Dinamo é como a bolsa de valores do futebol europeu: jogadores vêm, jogadores vão.

A "geração de ouro" do fim dos anos 90, com lendas do futebol como Zvonimir Boban, Davor Suker e Alen Boksic, que conseguiu o terceiro lugar na Copa do Mundo, já devia sua classe à tríade "identificar, aperfeiçoar, vender".

Jovens jogadores são desde cedo adotados pelo Dinamo, treinados, valorizados e de preferência "estocados" na seleção nacional. De lá, partem para os grandes endereços do esporte, como Inglaterra, Espanha e Itália, que geram milhões de euros de lucros dentro de poucos anos.

O "poderoso chefão"

Quem comando o esquema são Zdravko Mamic e seu clã familiar. O ex-presidente do Dinamo Zagreb partiu para a Bósnia e Herzegovina antes do início da Copa do Mundo na Rússia. Um tribunal o havia condenado por enriquecimento sem causa, fraude fiscal e outros crimes.

Consta que Mamic, que costumava vender assentos de isopor para o estádio Dinamo, agora embolsa 20% ou mais dos salários de seus protegidos transferidos para o exterior - não uma única vez, mas a cada ano, enquanto o jogador estiver na ativa. Estrelas como Luka Modric, Mario Mandzukic, Dejan Lovren e também o ex-profissional Ivica Olic fariam parte do esquema.

Modric prestou depoimentos contraditórios a esse respeito: primeiro admitiu ter pago comissão a Mamic, porém mais tarde retirou a própria afirmação. Desde então, o capitão da seleção da Croácia está sob suspeita de falso testemunho.

O futebol croata está mergulhado em escândalos. Ficou marcado um jogo da Eurocopa de 2016 em que, a partir da arquibancada, o presidente da Federação Croata de Futebol - Suker, estrela da Copa de 1998 - gritava para o técnico instruções sobre questões táticas e trocas de jogadores.

Os envolvimentos criminosos da federação também dividem o público nos estádios. Durante a partida Croácia x República Tcheca na Eurocopa de 2016, houve pancadaria entre as respectivas torcidas. E também na liga croata o clima é tenso: os times de Split, Rijeka e Osijek se consideram sem chances diante do "modelo Dinamo", e as maracutaias a favor de Zagreb são inegáveis.

Mesmo os torcedores hard-core do Dinamo, os "Bad Blue Boys", boicotam seu próprio clube em protesto contra as manobras criminosas dos cartolas: nos jogos em casa, a enorme arena do Estádio Maksimir em geral fica vazia.

De mercenários a seleção nacional

Apesar de tudo, a nação se une regularmente para torcer por sua seleção. Franjo Tudjman, o primeiro presidente da Croácia independente, reconheceu desde cedo o potencial de visibilidade que os sucessos esportivos representavam para seu jovem Estado, apostando forte na marca futebolística "made in Croatia". A vontade de autoafirmação do novo Estado transformou-se num fator de mobilização poderoso.

No entanto, o futebol croata é movido por outros fatores, já que há muito dinheiro em jogo. É raro haver um campeonato disputado, só muito raramente outras equipes da Hrvatska Nogometna Liga, que engloba apenas 12 clubes, conseguem bater o Dinamo.

Até porque o time da capital engole todo e qualquer jogador mais promissor. A isso se soma o lobismo do Dinamo, que sob Tudjman era praticamente "razão de Estado", e até hoje compromete o funcionamento da liga. Em 1999, o NK Rijeka estava perto do título, mas Tudjman mexeu seus pauzinhos e garantiu que o Dinamo fosse campeão.

Tudo isso torna ainda mais espantosa a chegada dos croatas à final da Copa do Mundo de 2018, na Rússia. O técnico Zlatko Dalic, praticamente desconhecido, transformou a tropa de mercenários numa seleção nacional.

A linguagem corporal dos craques sinaliza que eles querem mais. Dalic levou para a Rússia apenas os jogadores dispostos a dar tudo pela taça. Falta apenas um pequeno passo para o triunfo glorioso.

Caso a Croácia consiga a façanha de vencer a França, ela será o primeiro nanico, fora o Uruguai na década de 30, a conquistar o título - apesar de todo o caos na própria casa.

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