Verificação de estoque de urânio enriquecido do Irã está "muito atrasada", diz relatório da AIEA
O Irã ainda não permitiu que os inspetores entrassem nas instalações nucleares que Israel e os Estados Unidos bombardearam em junho, disse o órgão de vigilância atômica da ONU em um relatório confidencial nesta quarta-feira, acrescentando que a contabilidade do estoque de urânio enriquecido do Irã está "muito atrasada".
As próprias diretrizes da AIEA estipulam que ela deve verificar mensalmente o estoque de urânio altamente enriquecido de um país, como o material enriquecido com até 60% de pureza no Irã, um pequeno passo em relação aos cerca de 90% de enriquecimento necessário para uso em armas.
A AIEA vem pedindo ao Irã há meses que diga o que aconteceu com o estoque e permita que as inspeções sejam totalmente retomadas rapidamente. Os dois lados anunciaram um acordo no Cairo em setembro que deveria abrir caminho para a retomada total, mas o progresso tem sido limitado, e o Irã agora diz que o acordo é nulo.
"A falta de acesso da Agência a esse material nuclear no Irã por cinco meses significa que sua verificação... está muito atrasada", disse a Agência Internacional de Energia Atômica no relatório aos Estados-membros visto pela Reuters.
"É fundamental que a Agência seja capaz de verificar os estoques de material nuclear previamente declarado no Irã o mais rápido possível, a fim de dissipar suas preocupações... em relação ao possível desvio de material nuclear declarado para uso pacífico", acrescentou.
O relatório reiterou que a quantidade de urânio altamente enriquecido que o Irã produziu e acumulou é "uma questão de grande preocupação". A AIEA perdeu a chamada continuidade do conhecimento dos estoques de urânio enriquecido do Irã, acrescentou, o que significa que o restabelecimento de um quadro completo será longo e difícil.
Até o momento, a agência inspecionou apenas algumas das 13 instalações nucleares que "não foram afetadas" pelos ataques e nenhuma das sete que foram.
Antes dos ataques, que destruíram completamente uma das três instalações de enriquecimento do Irã em operação na época e, pelo menos, danificaram gravemente as outras, a AIEA estimou que o Irã tinha 440,9kg de urânio enriquecido a até 60% na forma de hexafluoreto de urânio, que pode ser colocado em centrífugas para enriquecimento adicional.
Em princípio, esse material é suficiente, se enriquecido ainda mais, para 10 bombas nucleares, de acordo com um parâmetro da AIEA.
Como parte do Tratado de Não-Proliferação Nuclear, o Irã deve enviar um relatório especial e detalhado à AIEA sobre a situação das instalações bombardeadas "sem demora", mas ainda não o fez, segundo o relatório. Somente então a AIEA poderá inspecioná-las.