Talibãs agradecem Rússia por ser 1° país a reconhecer oficialmente seu governo
O governo talibã celebrou na quinta-feira (3) o reconhecimento oficial da Rússia ao Emirado Islâmico do Afeganistão, qualificando a decisão de Moscou como um gesto "corajoso" e "exemplar" que, segundo eles, abre caminho para que outros países sigam o mesmo rumo. O anúncio foi recebido com entusiasmo pelas autoridades em Cabul, que há anos buscam legitimidade internacional e acesso a investimentos externos para reconstruir um país devastado por décadas de conflito.
O governo talibã celebrou na quinta-feira (3) o reconhecimento oficial da Rússia ao Emirado Islâmico do Afeganistão, qualificando a decisão de Moscou como um gesto "corajoso" e "exemplar" que, segundo eles, abre caminho para que outros países sigam o mesmo rumo. O anúncio foi recebido com entusiasmo pelas autoridades em Cabul, que há anos buscam legitimidade internacional e acesso a investimentos externos para reconstruir um país devastado por décadas de conflito.
"Agora que o processo de reconhecimento começou, a Rússia está à frente de todos", declarou o chanceler afegão Amir Khan Muttaqi, em vídeo divulgado na rede X. Ele elogiou a postura do Kremlin, afirmando que se trata de um "passo histórico que será lembrado por toda a nação afegã".
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores afegão, Zia Ahmad Takal, também expressou gratidão: "Rússia é o primeiro país a reconhecer oficialmente o Emirado Islâmico. Esperamos que este ato sirva de exemplo para outros governos que desejam se relacionar com o Afeganistão de forma construtiva e respeitosa".
Reconhecimento oficial e perspectivas
O reconhecimento foi formalizado durante uma reunião em Cabul entre Amir Khan Muttaqi e o embaixador russo Dmitri Jirnov. No mesmo dia, a bandeira criada pelos talibãs foi hasteada pela primeira vez na embaixada afegã em Moscou, e o novo embaixador do Afeganistão na Rússia, Gul Hasan, teve suas credenciais aceitas pelo governo russo.
O Ministério das Relações Exteriores da Rússia afirmou, em comunicado publicado no Telegram, que a decisão deve "impulsionar o desenvolvimento de uma cooperação bilateral produtiva", especialmente nas áreas de energia, transporte, agricultura e infraestrutura. Moscou também prometeu continuar apoiando o governo afegão na luta contra o terrorismo e o narcotráfico.
Alívio e expectativa em Cabul
Para os talibãs, o reconhecimento russo representa um avanço significativo após anos de isolamento diplomático. Desde que retornaram ao poder em 2021, após a retirada das tropas norte-americanas e o colapso do governo apoiado pelo Ocidente, os líderes do movimento vêm enfrentando resistência da comunidade internacional, principalmente por causa das severas restrições impostas às mulheres e da aplicação rigorosa da lei islâmica.
Apesar disso, Moscou vinha dando sinais de aproximação. Em abril, o Kremlin retirou o movimento talibã da lista oficial de organizações consideradas terroristas. No ano passado, o presidente Vladimir Putin declarou que os talibãs são "aliados na luta contra o terrorismo". Ainda em 2021, a Rússia foi o primeiro país a abrir um escritório comercial em Cabul, com planos para transformar o Afeganistão em um corredor de transporte de gás rumo ao sudeste asiático.
Repercussões e críticas
A decisão russa, porém, não passou sem críticas. Ativistas pelos direitos das mulheres afegãs denunciaram o gesto como uma legitimação de um regime autoritário e repressivo.
"Reconhecer um governo que exclui mulheres da educação, realiza punições públicas e abriga terroristas sancionados pela ONU é um erro grave", afirmou Mariam Solaimankhil, ex-deputada do Parlamento afegão.
Ela lamentou o simbolismo político do gesto: "Mais uma vez, os interesses estratégicos falam mais alto que os direitos humanos e o direito internacional".
Mesmo com a resistência de parte da comunidade internacional, os talibãs esperam que a decisão de Moscou marque o início de uma nova fase: "Estamos confiantes de que outros países seguirão esse caminho e darão passos positivos em direção ao reconhecimento mútuo e ao respeito pela soberania do Afeganistão", afirmou o porta-voz Zia Ahmad Takal.
(Com AFP)