Sem trégua da Rússia, ucranianos tentam manter a esperança no quarto Natal em meio à guerra
A Rússia rejeita uma trégua de Natal, e os ucranianos se preparam para passar seu quarto Natal em meio à guerra. Apesar das tensões entre Moscou e Kiev e dos novos ataques russos em grande escala, que causaram mortes e provocaram cortes de energia nesta terça-feira (23), moradores tentam aproveitar o mercado natalino da capital. Antes da invasão em larga escala, grande parte dos ucranianos celebrava o Natal em 6 de janeiro, mas, com a guerra, passaram a considerar a celebração de 25 de dezembro uma forma de se distanciar da Rússia.
Catalina Gómez, correspondente da RFI na Ucrânia
Tatiana acompanha atentamente seu filho Mikola, de 10 anos, que patina no gelo como muitas outras crianças. Nesta noite, eles foram até a área histórica de Podil, em Kiev, onde foi montado um mercado de Natal. Ela tem esperança de que o menino possa aproveitar esse clima natalino. "Levo ele para patinar, compro a árvore de Natal, saímos para passear, tudo para que entre no espírito", conta.
Os últimos meses de 2025 foram extremamente difíceis para os ucranianos devido aos ataques contínuos contra a infraestrutura energética, mas também pela pressão no front, como resume Natalia, que foi ao mercado com a família: "O ânimo está um pouco apagado, claro, pelo que está acontecendo no nosso país, mas tentamos nos animar um pouco".
Antes da invasão em larga escala, muitos ucranianos celebravam o Natal em 6 de janeiro, como a Rússia, mas desde 2022 decidiram mudar a data da comemoração.
Ilya, de 23 anos, conta que ele e a família agora celebram duas vezes: em 24 de dezembro e em 6 de janeiro. "Celebramos desde a infância, temos essa tradição. Não comemoramos com presentes como na Europa Ocidental. Nós não tínhamos isso. Os presentes eram para o Ano Novo, mas mesmo assim celebrávamos, preparávamos a ceia e nos reuníamos na casa do padrinho", explica o jovem.
Mas este ano, diz ele, tudo é diferente. "Não estou muito feliz com este Natal, sou de Sumy e não temos eletricidade". a cidade, no nordeste do país, vem sendo visada há meses por ataques russos.
Os ataques russos em grande escala que atingiram o setor energético ucraniano nesta terça-feira deixaram pelo menos três mortos e provocaram novos cortes de energia a dois dias do Natal, enquanto as negociações para o fim das hostilidades avançam lentamente.
Lilia, que vende cerveja quente no mercado, relata algo parecido: "As pessoas não têm como comemorar quando prédios caem, casas são destruídas e gente morre. Mas claro, levam as crianças para passear. As crianças ainda não entendem", diz à RFI.
Mesmo assim, Lilia afirma que a vida precisa continuar e que fica feliz com o retorno dos tradicionais mercados de Natal, para que pelo menos as crianças possam esquecer um pouco a guerra que completará quatro anos no fim de fevereiro de 2026.
O Kremlin rejeitou a ideia de uma trégua de Natal com a Ucrânia, alegando que isso serviria para reforçar o outro lado, em resposta a um pedido do chanceler alemão, Friedrich Merz.
Nos últimos meses, a Rússia atacou repetidamente as infraestruturas elétricas e de gás da Ucrânia, colocando à prova a rede energética em pleno inverno no hemisfério norte.