Rússia acusa Ucrânia de lançar drones contra residência oficial de Putin e promete rever negociações
A Rússia acusou Kiev de lançar drones contra a residência oficial de Vladimir Putin na região de Novgorod, no noroeste do país. Segundo o ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, a Ucrânia tentou atingir o local, informou a agência Interfax nesta segunda‑feira (29). O chanceler afirmou que Moscou pretende responder ao ataque e que a Rússia irá ajustar sua posição nas negociações destinadas a encerrar o conflito iniciado em fevereiro de 2022.
A acusação ocorre em um momento em que ataques com drones se tornaram rotina na guerra, tanto em território ucraniano quanto em regiões russas próximas e distantes da linha de frente. Desde 2023, Moscou afirma ter interceptado dezenas de aeronaves não tripuladas lançadas contra alvos militares e civis, enquanto Kiev sustenta que mira apenas infraestrutura ligada ao esforço de guerra russo. Analistas citados por veículos internacionais lembram que a Rússia tem ampliado a defesa aérea em áreas estratégicas, mas ainda enfrenta dificuldades para proteger instalações espalhadas por um território tão vasto.
Serguei Lavrov, citado pela Interfax, afirma que a residência de verão do chefe de Estado foi alvo, da noite de domingo para segunda‑feira, de 91 drones de longo alcance. Ele não informou se Vladimir Putin estava no local no momento do ataque."Tais ações irresponsáveis não ficarão sem resposta", destacou o ministro russo, acusando a Ucrânia de "terrorismo de Estado". Ele acrescentou que alvos ucranianos já foram definidos pelo Estado‑Maior russo para possíveis ataques de retaliação.
Casa de Putin é longe do front
A região de Novgorod, onde fica uma das residências oficiais de Vladimir Putin, está a centenas de quilômetros do front, o que torna o episódio particularmente sensível para o Kremlin. Segundo especialistas consultados pela AFP, ataques tão distantes da zona de combate têm forte peso simbólico, pois sugerem que a Ucrânia é capaz de atingir locais considerados seguros pela liderança russa.
"As acusações russas são mentiras", contestou Volodymyr Zelensky nesta segunda-feira (29). O presidente ucraniano, que se reuniu com o presidente americano Donald Trump no domingo, na Flórida, afirma que Moscou estaria preparando o terreno para uma ofensiva contra prédios governamentais em Kiev.
Nos últimos meses, a Rússia tem relatado ataques semelhantes contra depósitos de combustível, bases aéreas e centros logísticos em regiões como Belgorod, Kursk e Pskov. Em agosto de 2023, por exemplo, drones atingiram um aeroporto militar em Pskov, danificando aeronaves de transporte estratégico. Para analistas militares, esses ataques buscam pressionar Moscou, desgastar sua capacidade logística e mostrar que o conflito não está restrito ao território ucraniano.
A declaração de Serguei Lavrov sobre "ajustar a posição nas negociações" reflete a crescente tensão diplomática. Desde o início da guerra, em fevereiro de 2022, tentativas de diálogo mediadas por Turquia, ONU e países do Sul Global fracassaram. A Rússia insiste que só aceitará negociações se Kiev reconhecer a anexação de territórios ocupados, enquanto a Ucrânia exige a retirada completa das tropas russas. A fala de Lavrov, segundo analistas, indica que Moscou pode adotar uma postura ainda mais rígida.
Intensificação das operações russas no leste da Ucrânia
O ataque também ocorre em meio a uma intensificação das operações russas no leste da Ucrânia. Relatórios recentes da ONU e da OSCE apontam para bombardeios contínuos em Kharkiv, Donetsk e Kherson, com impacto direto sobre civis e infraestrutura essencial. Ao mesmo tempo, a Ucrânia tem ampliado o uso de drones de longo alcance desenvolvidos internamente, uma estratégia que ganhou força após a redução do envio de armamentos ocidentais em determinados períodos de 2024 e 2025.
Para a comunidade internacional, o episódio reforça o risco de uma escalada ainda maior. A União Europeia condenou ataques a instalações civis e pediu "moderação" às partes, enquanto os Estados Unidos afirmaram que continuam monitorando a situação. Especialistas citados pela Al Jazeera destacam que ações desse tipo podem alimentar narrativas internas na Rússia, fortalecendo o discurso de que o país está sob ataque direto do Ocidente — uma linha frequentemente usada pelo Kremlin.
Com agências