'Quem foi melhor: Pelé ou Maradona?': coordenador do Vatican News relembra momentos com o papa
"Ele parecia um pouco com a gente, nós, brasileiros", disse Silvonei José
Na tarde desta quinta-feira, 24, Silvonei José Protz, coordenador da Rádio Vaticano e da Vatican News em português, compartilhou ao Terra Agora memórias pessoais com o papa Francisco, falecido na última segunda-feira, 21, aos 88 anos. Com um sorriso na voz, Silvonei relembrou momentos de bastidores que revelam o lado mais humano e bem-humorado do primeiro papa latino-americano da história.
“Ele parecia um pouco com a gente, nós, brasileiros. O seu bom humor era uma coisa que a gente partilhava”, disse, destacando a conexão calorosa que o pontífice mantinha.
A primeira vez que os dois se encontraram foi em um domingo de Páscoa. Silvonei havia acabado de ser apresentado como porta-voz do Vaticano no Brasil. Ao ouvir a palavra “Brasil”, o papa imediatamente demonstrou interesse. “Ele abaixou a cabeça e disse: ‘Então, eu tenho uma grande dúvida’”, contou Silvonei. Quando se ergueu novamente, Francisco lançou a pergunta: “Quem foi melhor, Pelé ou Maradona?”
Rapidamente, Silvonei respondeu: “Santidade, só um argentino tem essa dúvida.” O papa arregalou os olhos, caiu na risada, o abraçou e respondeu: “Essa é uma resposta inteligente. Muito bem.”
Receba as principais notícias direto no WhatsApp! Inscreva-se no canal do Terra
Dois meses depois, ao se reencontrarem, o pontífice o reconheceu e brincou: “Eu, [falar] de futebol com você, nunca mais vou falar!”
Entre as histórias que ilustram esse espírito leve e humilde, uma se destaca: após ganhar um carro semelhante ao que dirigia em Buenos Aires, o papa pediu ao presenteador que dirigisse com ele dentro do Vaticano. Durante o passeio, um guarda, sem reconhecer o pontífice, tentou impedi-lo. “O senhor está sem cinto de segurança”, advertiu. Francisco respondeu com ironia: “A dez por hora?” E, ao ouvir que estava na contramão, rebateu: “Contramão porque se está tudo fechado?”
“Ele era uma pessoa de um senso de humor muito grande”, concluiu Silvonei.
Francisco, para além do bom humor, era guiado por valores de simplicidade e entrega. “Tudo que ele tinha de dinheiro numa conta corrente, ele doou para os prisioneiros que ele visitou nessa Semana Santa. Tudo ele deu, inclusive o túmulo que ele vai ser sepultado. O túmulo vai ser pago por um benfeitor que ele mesmo encontrou”, relatou Silvonei, emocionado.
O legado de Francisco, segundo ele, está na essência do que significa ser cristão. “Mostrar o que significa ser católico, o que significa seguir a Jesus Cristo, o que significa amar o outro dentro da simplicidade… São tantos os legados, mas esse é um dos mais importantes.”