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Protestos em Cuba: por que parte dos cubanos continua a apoiar governo

No conturbado fim de semana em Cuba, milhares de cidadãos foram às ruas protestar contra o governo. Por outro lado, uma massa de apoiadores se apresentou para defender o presidente Miguel Díaz-Canel.

14 jul 2021 - 06h55
(atualizado às 07h22)
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Centenas de cubanos também se manifestaram neste domingo a favor do governo, tanto em Havana como em algumas províncias
Centenas de cubanos também se manifestaram neste domingo a favor do governo, tanto em Havana como em algumas províncias
Foto: EPA / BBC News Brasil

Protestos e antiprotestos. Assim se resumiu o agitado último fim de semana em Cuba, quando milhares de cidadãos saíram às ruas para protestar contra o governo. Ao mesmo tempo, outros grupos saíram para defendê-lo.

Os milhares de cubanos que se manifestaram contra o governo em mais de 20 cidades realizaram as maiores manifestações no país nos últimos 60 anos. Eles marcharam sob gritos de "liberdade", "abaixo a ditadura" e "pátria e vida".

Diante desses protestos, o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, convocou os seguidores do governo a saírem às ruas para "enfrentar" os opositores.

"Convocamos todos os revolucionários do país, todos os comunistas, a tomarem as ruas e irem aos lugares onde vão acontecer essas provocações, hoje, de agora em diante e em todos estes dias", disse o presidente em uma mensagem considerada incomum. Ela foi transmitida por todas as redes de rádio e televisão da ilha, também no domingo.

Após a convocação do mandatário, centenas de cubanos foram às ruas em atos a favor do governo em Havana e em algumas províncias.

Os vídeos mostram dezenas de apoiadores do governo segurando faixas de Fidel Castro, bandeiras cubanas e do Movimento 26 de Julho (grupo fundado por Fidel Castro, em 1954, em oposição ao então ditador Fulgêncio Batista). Eles também gritaram palavras de ordem a favor do presidente Miguel Díaz-Canel e contra os Estados Unidos.

As vozes que defendem o governo cubano também se expressaram nas redes sociais.

"Em Cuba, as ruas pertencem aos revolucionários. Também é hora de dominar as redes", escreveu Yaira Jiménez Roig, funcionária do Ministério das Relações Exteriores de Cuba, no Facebook.

Em defesa da 'Revolução'

Apoiadores do governo gritaram palavras de ordem a favor do presidente Díaz-Canel e contra os Estados Unidos
Apoiadores do governo gritaram palavras de ordem a favor do presidente Díaz-Canel e contra os Estados Unidos
Foto: EPA / BBC News Brasil

"Díaz-Canel chama e seus apoiadores respondem sem hesitar. É a gente de Fidel que intimida os manifestantes...", escreveu uma usuária identificada como Heidy Villuendas no Facebook. A publicação tinha também algumas fotos dos manifestantes em Havana.

Um usuário identificado como Alejandro Ruiz, de Havana, disse à BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC, que em Cuba "só ocorreram motins, distúrbios causados por um grupo de mercenários e criminosos, alguns dos quais agiram com violência".

O governo cubano geralmente acusa seus oponentes de serem mercenários ou agentes a serviço dos Estados Unidos.

"Nas revoltas éramos cubanos comuns defendendo nosso trabalho. Nosso povo é heroico, pronto para morrer em defesa de uma obra de justiça social", acrescentou Ruiz.

Antonio Crespo, de San Antonio de los Baños, foi outro dos que marcharam em apoio ao governo, segundo o Granma, jornal oficial do Partido Comunista de Cuba.

"Aqueles de nós que chegamos até aqui somos vigilantes fiéis da revolução, somos fortes porque fomos criados por ela. E agora, com a presença de Díaz-Canel, nos sentimos firmes, seguros, porque a revolução está com o povo, que é o verdadeiro dono das ruas. Em Cuba não vamos permitir que ninguém leve o que conquistamos", disse Crespo à publicação.

Roberto Reyes Herrera, outro dos apoiadores do governo citados pelo Granma, manifestou sua gratidão pelas "oportunidades que a revolução lhe deu e que poucos não querem reconhecer".

Yaima Pérez, da cidade de Bayamo, acrescentou: "Não estou sozinha cuidando do meu trabalho, estou cuidando do futuro dos meus filhos, da sua tranquilidade e da sua felicidade porque quero que continuem vivendo e crescendo em um país soberano."

Por sua vez, um estudante identificado como Yurisdán Paneque, da cidade de Camagüey, afirmou: "Hoje vim aqui (ao protesto pró-governo) como um jovem que está conseguindo um diploma universitário gratuitamente, bem como para defender todas as conquistas da revolução por mais mais de 60 anos de lutas pelo nosso direito à paz e à determinação de nosso próprio destino socialista", disse Paneque, segundo o portal da Agência Cubana de Notícias.

Segundo o jornal oficial Juventud Rebelde, também ocorreram manifestações em locais como Cienfuegos, Caibarién, Guantánamo e Artemisa.

Além dos atos pró-governo, dezenas de usuários se manifestaram nas redes sociais contra o embargo e as sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos contra Cuba, processo conhecido como "bloqueio".

O governo cubano atribui a atual situação econômica ao embargo norte-americano.

Alguns vídeos mostram dezenas de apoiadores do governo com faixas de Fidel Castro, bandeiras cubanas e do Movimento 26 de Julho
Alguns vídeos mostram dezenas de apoiadores do governo com faixas de Fidel Castro, bandeiras cubanas e do Movimento 26 de Julho
Foto: EPA / BBC News Brasil

Numerosos usuários do Facebook e Twitter compartilharam a hashtag #EliminaElBloqueo e muitos outros colocaram um filtro em sua foto de perfil que diz "Matanzas não está sozinha", aludindo à difícil situação que enfrenta a província cubana em face da pandemia covid-19 - o governo prometeu a resolver a situação.

Crise econômica e de saúde

Os protestos de domingo em várias cidades cubanas parecem ser o resultado de um cansaço acumulado da população contra o governo.

Presidente Díaz-Canel convocou apoiadores a irem às ruas
Presidente Díaz-Canel convocou apoiadores a irem às ruas
Foto: EPA / BBC News Brasil

A frustração e o cansaço aumentaram nos últimos meses após uma das maiores crises econômicas pelas quais a ilha passou desde o chamado "período especial" (a crise no início dos anos 1990 após o colapso da União Soviética), com meses de escassez de alimentos, remédios e produtos de necessidades básicas, além de apagões de energia e aumento da inflação.

As manifestações acontecem também no pior momento da pandemia no país, com relatos de hospitais superlotados e depoimentos de vários cubanos que asseguram que seus familiares morreram em casa sem receber atendimento médico e medicamentos.

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