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Oriente Médio

Medo de foguetes transforma playground em bunker em Israel

14 mar 2009 - 09h29
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Ethan Bronner

Um ano atrás, quando foguetes disparados pelo Hamas da Faixa de Gaza atingiam quase todos os dias a cidade israelense de Sderot, Stanley Chesley, presidente do Jewish National Fund dos Estados Unidos, estava realizando uma visita de solidariedade à cidade de fronteira e percebeu que não havia criança alguma brincando ao ar livre. Sair de casa era perigoso demais.

Foto: The New York Times

Chesley, um advogado agressivo e especializado em processos coletivos, no Ohio, decidiu que era preciso fazer alguma coisa, e tinha uma idéia sobre o que poderia funcionar.

"Essas crianças não podem ir a parques ou praças; por isso, era preciso construir um parque fechado no qual elas pudessem se divertir", ele lembra ter dito ao colega Russell Robinson, presidente-executivo do fundo, uma organização sionista fundada um século atrás que tem caixas azuis para recolher doações em moedas instaladas em sinagogas e centros judaicos de todos os Estados Unidos.

Foi assim que um centro recreativo de 1,9 mil m² nasceu no interior de uma casamata. O complexo, inaugurado esta semana no setor industrial da cidade, conta com uma pequena quadra de futebol coberta, espelhos de parque de diversões, videogames, uma parede para escalada, salões para festas de aniversário e proteção por blindagem de aço reforçado no valor de US$ 1,5 milhão.

Israel foi à guerra no final de dezembro para pôr fim aos ataques com foguetes, mas ainda que tenha realizado ataques ferozes contra Gaza por três semanas, causando cerca de 1,3 mil mortes e destruindo centenas de edifícios, os foguetes continuam a ser lançados. Na quinta-feira, cinco deles atingiram a região de Sderot. Desde o final da guerra, em 18 de janeiro, cerca de 160 disparos de morteiros e foguetes, entre os quais nove foguetes de longo alcance, foram realizados da Faixa de Gaza contra Israel.

Assim, enquanto os líderes do país estudam suas opções e continuam a atingir os túneis de contrabando de armas com ataques aéreos e a matar os líderes extremistas em Gaza, e enquanto o Hamas tenta persuadir Israel e o mundo a suspender o assédio econômico contra Gaza que a organização alega ser a principal motivação para os ataques com foguetes, as crianças de Sderot agora contam com um lugar seguro onde brincar.

O local, um antigo armazém têxtil abandonado, foi reformado em uma obra de US$ 5 milhões paga pelo Jewish National Fund. O centro foi pintado em cores vivas, e embora nem todo o telhado esteja protegido contra disparos de foguetes, a edificação conta com muitas áreas reforçadas que servem também como espaços funcionais ¿entre as quais a quadra de futebol e uma sala de computadores. Quando um foguete é lançado, uma sirene dá aos moradores da cidade 15 segundos para que se abriguem, e é fácil para quem estiver no centro se deslocar para uma das áreas protegidas no interior da edificação.

Infelizmente, esse tempo curto de alerta impossibilitou a instalação do carrossel previsto para o centro, já que desligá-lo demoraria mais de 20 segundos.

Os usuários do centro serão transportados até o local por um serviço de ônibus com saídas a cada hora, do centro da cidade. "Trata-se da maior caixa azul do mundo", disse Chesley, em referência às conhecidas caixas de coleta de sua organização, enquanto as primeiras crianças, vestindo fantasias para a festa judaica do Purim, se espalhavam pelo edifício.

Ronald Lauder, presidente do fundo e convidado para a festa de inauguração, declarou em entrevista que os paralelos históricos oferecidos pelo feriado de Purim eram notáveis. A festa celebra a libertação dos judeus submetidos ao poder de um rei persa que planejava matá-los por instigação de seu assessor Haman.

Hoje igualmente, diz Lauder, os herdeiros da Pérsia no Irã abrigam intenções adversas para com Israel e seu povo, manifestadas pelo fornecimento de armas ao Hizbollah e ao Hamas e pela retórica belicosa que empregam contra os israelenses. ¿Não é espantoso como a História se repete?¿, ele comentou.

O novo centro de recreação tem duas salas reservadas a serviços de aconselhamento, e conta com uma equipe de trabalhadores de saúde mental. Traumas emocionais entre os mais jovens são uma área de forte interesse não apenas em Israel mas também na Faixa de Gaza.

Ann Veneman, diretora executiva da Unicef, que acaba de passar uma semana em visita a Gaza, Cisjordânia e Israel, disse estar profundamente preocupada com o efeito da guerra sobre as crianças dos dois lados da fronteira.

"As crianças são as vítimas inocentes do conflito, e sofrem com seus pesadelos", declarou Veneman em entrevista por telefone. "Visitei Sderot e fiquei contente por descobrir que eles têm muitos psicólogos em ação na cidade. Já em Gaza, a situação é bem outra. Na Faixa de Gaza, 56% da população tem menos de 18 anos de idade, e número imenso de escolas foi danificado no conflito; há um volume incrível de trabalho a realizar por lá".

Tradução: Paulo Migliacci

The New York Times
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