Humanos e gado representam mais de 95% dos mamíferos da Terra
Humanos e gado representam cerca de 96% de todos os mamíferos da Terra. Saiba as razões de isso ter ocorrido.
Entre os muitos dados sobre a biodiversidade do planeta, um número chama atenção: humanos e gado representam cerca de 96% de todos os mamíferos da Terra. Esse dado, baseado em estimativas recentes de biomassa, ajuda a entender como a atividade humana remodelou a fauna terrestre ao longo dos séculos. A partir dele, é possível observar a forte presença da pecuária e da urbanização na forma como os ecossistemas se organizam hoje.
Ao concentrar quase toda a biomassa de mamíferos em apenas duas categorias — pessoas e animais de criação, como bovinos, suínos e ovinos — o planeta passa a ter menos espaço para espécies silvestres. Assim, espécies de grande porte, como elefantes, rinocerontes e grandes felinos, representam apenas uma fração muito pequena desse total. No entanto, essa mudança não ocorreu de maneira súbita. Afinal, ela é resultado de um processo histórico ligado à agricultura, à expansão de pastagens e ao aumento do consumo de carne e derivados.
Por que humanos e gado dominam a biomassa de mamíferos?
A predominância de humanos e gado entre os mamíferos está diretamente relacionada ao crescimento populacional e ao modelo de produção de alimentos. Em 2025, a população mundial supera 8 bilhões de pessoas, e a pecuária é uma das principais formas de suprir a demanda por proteína animal. Assim, para manter tantos animais de criação, vastas áreas são convertidas em pastagens ou em plantações destinadas à produção de ração.
Estudos de biomassa mostram que, enquanto a massa total de mamíferos selvagens diminuiu drasticamente, a de animais domésticos aumentou em ritmo acelerado. Por exemplo, o rebanho bovino global soma centenas de milhões de cabeças, espalhadas por todos os continentes habitados. Em muitos países, o número de cabeças de gado se aproxima ou até supera o número de habitantes, reforçando o peso da pecuária na composição dos mamíferos terrestres.
Além disso, a tecnologia na produção pecuária, o transporte refrigerado e a ampliação do comércio internacional de alimentos contribuíram para consolidar esse cenário. Com cadeias produtivas mais eficientes, tornou-se possível criar mais animais em menos tempo, mantendo a oferta em escala global. Como consequência, a biomassa de gado se expandiu enquanto a de mamíferos silvestres recuou.
Qual é o impacto dessa concentração de humanos e gado na natureza?
O fato de humanos e gado corresponderem a 96% dos mamíferos terrestres tem reflexos ambientais amplos. Afinal, para sustentar essa quantidade de indivíduos, é necessário produzir grandes volumes de alimentos. Em especial, grãos como soja e milho, que são usados na alimentação animal. Assim, isso leva ao desmatamento, à fragmentação de habitats e à substituição de paisagens naturais por áreas agrícolas e pastagens.
Essa transformação reduz o espaço disponível para mamíferos silvestres de médio e grande porte, que dependem de áreas contínuas para encontrar alimento, reproduzir-se e migrar. Muitos acabam confinados em reservas menores ou em fragmentos de floresta, o que aumenta a vulnerabilidade à caça, ao atropelamento e a conflitos com atividades agropecuárias. Em regiões tropicais, essa dinâmica é ainda mais visível, pois coincide com biomas de alta biodiversidade.
Outro ponto relevante é o papel dos ruminantes, como bovinos, na emissão de gases de efeito estufa. A digestão desses animais gera metano, um gás com forte impacto climático. Somado às mudanças no uso da terra, isso faz com que a predominância de gado entre os mamíferos esteja ligada também às discussões sobre aquecimento global e mudanças climáticas.
Como esse cenário afeta a biodiversidade de mamíferos?
A redução relativa de mamíferos silvestres em comparação a humanos e gado indica um desequilíbrio na fauna. Em termos de biomassa, pequenos roedores, morcegos e carnívoros de médio porte representam uma fatia bastante limitada, ainda que sejam numerosos em quantidade de indivíduos. Isso altera cadeias alimentares, relações de predação e processos ecológicos, como dispersão de sementes e controle de pragas.
Alguns pesquisadores apontam que o planeta vive um processo de perda acelerada de espécies, muitas vezes chamado de sexta extinção em massa. Entre as causas mais citadas estão a perda de habitat, a caça, as espécies invasoras e as mudanças climáticas, fatores associados à expansão da presença humana e de seus rebanhos. A concentração da biomassa de mamíferos em poucos grupos reforça essa tendência ao mostrar a diminuição relativa da fauna silvestre.
Apesar disso, diversas iniciativas buscam reverter ou ao menos reduzir essa pressão. Unidades de conservação, corredores ecológicos e programas de reintrodução de espécies são exemplos de ações que tentam manter populações de mamíferos selvagens em níveis viáveis. Há também pesquisas voltadas à intensificação sustentável da pecuária, com manejo de pastagens, bem-estar animal e recuperação de áreas degradadas, o que pode diminuir a necessidade de novas conversões de habitat.
Quais caminhos podem equilibrar humanos, gado e mamíferos silvestres?
A discussão sobre o domínio de humanos e gado entre os mamíferos tende a envolver diferentes setores da sociedade, como produtores rurais, cientistas, gestores públicos e consumidores. Em termos práticos, alguns caminhos apontados por especialistas incluem mudanças nos sistemas de produção, no uso da terra e nos padrões de consumo de proteína animal.
- Melhoria na eficiência produtiva: técnicas de manejo que aumentem a produtividade por área podem reduzir a necessidade de abrir novas áreas de pastagem.
- Proteção e restauração de habitats: criação e consolidação de áreas protegidas, além da recuperação de matas ciliares e fragmentos florestais, ajudam a manter populações de mamíferos nativos.
- Diversificação da produção: sistemas que combinam agricultura, pecuária e florestas, como a integração lavoura-pecuária-floresta, tendem a usar melhor o solo e diminuir conflitos com a fauna.
- Planejamento urbano e territorial: expansão de cidades e rodovias com corredores ecológicos e passagens de fauna reduz o isolamento de populações silvestres.
Também há discussões sobre o papel de alternativas alimentares, como proteínas vegetais e novas fontes de proteína, que podem, a longo prazo, alterar a proporção entre gado e outros mamíferos. Independentemente do caminho adotado em cada região, o dado de que humanos e gado somam 96% da biomassa de mamíferos funciona como um indicador da escala da influência humana sobre o planeta e como um ponto de partida para debates sobre conservação e uso sustentável dos recursos naturais.