Gravação feita há 30 anos e IA devolvem voz a britânica com doença neurodegenerativa
A britânica Sarah Ezekiel descobriu há 25 anos que sofria de uma doença degenerativa e perdeu completamente a capacidade de falar. Nesta sexta-feira (22), a Smartbox Assistive Technology, empresa que desenvolveu a tecnologia com ajuda de inteligência artificial, anunciou que a paciente voltou a falar com a própria voz.
A britânica Sarah Ezekiel descobriu há 25 anos que sofria de uma doença degenerativa e perdeu completamente a capacidade de falar. Nesta sexta-feira (22), a Smartbox Assistive Technology, empresa que desenvolveu a tecnologia com ajuda de inteligência artificial, anunciou que a paciente voltou a falar com a própria voz.
O "milagre" é creditado à inteligência artificial (IA). A tecnologia se baseou em uma antiga gravação de áudio de Sarah para recuperar com fidelidade a voz da britânica, hoje com 60 anos.
Filhos de Sarah, Aviva, de 28 anos, e Eric, de 25, cresceram sem escutar a voz da mãe, que sofre com uma doença neurodegenerativa. Agora, eles passaram a conhecer e escutar a verdadeira voz de Sarah.
Descoberta da doença
Em 2000, durante a gravidez do filho Eric, Sarah descobriu a doença. Não demorou para ela perceber a perda completa da voz e do movimento das mãos.
A londrina foi vítima de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), a forma mais conhecida da Doença do Neurônio Motor (DNM).
A doença afeta diretamente os neurônios que controlam os músculos da face, língua, garganta e laringe. Assim, a musculatura destas regiões vai perdendo a capacidade de enviar sinais, levando à fraqueza muscular.
A vida de Sarah Ezekiel deu uma grande guinada. A britânica recorreu ao auxílio de um computador e uma tecnologia de síntese de voz para se comunicar, mas passou a viver e se expressar com uma voz robótica.
Virada na vida
Recentemente, a família entrou em contato com a empresa britânica Smartbox Assistive Technology, que desenvolve ferramentas de comunicação com uso de inteligência artificial para pessoas com deficiência.
O objetivo era recuperar a verdadeira voz de Sarah. O desafio começou pela busca de gravações da voz de Sarah. E logo surgiu o primeiro obstáculo: toda a comunicação digital que é usada atualmente chegou a todas as pessoas há menos de duas décadas. Ou seja, depois de a britânica ter perdido a voz.
A solução foi recorrer aos pouquíssimos registros em fitas K7 e VHS que apresentavam a voz de Sarah antes da doença. Mas, para o sucesso do projeto, era preciso que as gravações tivessem boa qualidade.
Um trecho extraído de um vídeo de família dos anos 1990 foi suficiente. Apesar de o trecho ter apenas oito segundos e a voz de Sarah estar junto com o som de um programa de TV da época, o trabalho teve avanços.
O resultado superou as expectativas. A tecnologia, por meio da inteligência artificial, conseguiu até mesmo reproduzir diferentes tons de voz de Sarah.
"Enviamos amostras, e ela me respondeu por e-mail dizendo que quase chorou ao ouvi-las", disse Simon Poole, da empresa Smartbox.
Poole ainda disse:
"Uma amiga de Sarah, que a conhecia antes da doença, disse que parecia que ela havia recuperado a própria voz".
A preservação do sotaque foi um ponto importante no desenvolvimento deste trabalho, já que devolve ao paciente suas origens, seu jeito e sua identidade.
Para Simon Poole, o verdadeiro progresso está no fato de que, com a IA, "as vozes são realmente humanas e expressivas, e devolvem essa humanidade que até agora faltava em vozes sintéticas. Isso permite preservar a identidade da pessoa".
Atualmente, pessoas que sofrem de doenças degenerativas são incentivadas a gravar suas vozes em diferentes plataformas e aplicativos para, numa eventualidade, poderem recorrer à IA.
No mundo, 140.000 pessoas são diagnosticadas todos os anos com a Esclerose Lateral Amiotrófica. No Brasil, cerca de 12.000 vivem com esta doença.
A doença é incurável, mas há tratamentos que podem desacelerar a progressão antes de atingir o estágio de perda de voz e movimentos. Existem formas de valorizar o bem-estar dos pacientes, como fisioterapias e cuidados terapêuticos.
(Com AFP)