Um ano após união em eleição, esquerda francesa tenta evitar fraturas
Uma tradição da política francesa se repete neste fim de agosto: as cúpulas anuais dos partidos, realizadas no fim das férias de verão, antes da retomada do trabalho em setembro. No campo progressista, a fratura parece ser uma questão de tempo, um ano depois de uma união inédita da esquerda, nas eleições legislativas realizadas em 2024.
Uma tradição da política francesa se repete neste fim de agosto: as cúpulas anuais dos partidos, realizadas no fim das férias de verão, antes da retomada do trabalho em setembro. No campo progressista, a fratura parece ser uma questão de tempo, um ano depois de uma união inédita da esquerda, nas eleições legislativas realizadas em 2024.
Por trás dos debates, estão na mira as eleições municipais de 2026 e a preparação para as presidenciais de 2027. Algumas lideranças, como a ecologista Marine Tondellier, defendem que uma aliança é possível e, argumentam, seria o único caminho para evitar uma vitória expressiva da direita e a extrema direita nas urnas, em um contexto internacional desfavorável para o campo da esquerda.
Mas a realidade é que tudo parece levar a um novo confronto interno, indica o jornal progressista Libération. Desta vez, entre o líder da esquerda radical, Jean-Luc Mélénchon, e o deputado europeu Raphael Glucksmann, fundador do partido Praça Pública, aliado do Partido Socialista.
"Os encontros de verão da esquerda francesa sempre têm ares de uma falsa promessa, como uma propaganda de creme antirrugas. Mas mesmo assim, a gente compra essa ideia, não é? A gente precisa sonhar", ironiza o editorial do diário, nesta sexta-feira (22).
As posições antagônicas das siglas sobre a melhor estratégia para barrar o projeto de Orçamento do governo, discutido no Parlamento e marcado pela austeridade, ilustram essas divisões. "Esquerda em desordem de batalha", sintetiza a capa do Libération.
Ponte frágil entre socialistas e França Insubmissa
O partido França Insubmissa, de Mélénchon, e os Ecologistas, de Tondellier, foram os primeiros a iniciar a série de reuniões de verão, na quinta-feira (21). Hoje, é a vez do Partido Comunista, antes de os socialistas se reunirem na próxima semana.
Os ecologistas nutrem a esperança de "fazer a ponte" entre os insubmissos e os socialistas, diz o jornal conservador Le Figaro, ao salientar que os Verdes conseguiram atrair a participação de representantes dos dois partidos, no seu encontro realizado na Alsácia.
"Vamos acabar com os ataques pessoais e as guerrinhas, e o blá blá blá de 'se você me colocar um dissidente lá, eu coloco um para você'. Não temos tempo", insistiu Tondellier.
À esquerda, o Partido Socialista, liderado por Olivier Faure, os Verdes e os ex-França Insubmissa (Clémentine Autain, François Ruffin) são defensores da união diante da ameaça da extrema direita, como a Nova Frente Popular tem conseguido fazer no Parlamento, mesmo com as divergências internas.
Mas os dois pré-candidatos presidenciais, Raphael Glucksmann e Jean-Luc Mélenchon, por enquanto descartam essa possibilidade, destacando as diferenças programáticas entre os partidos de esquerda. Para Mélenchon, a união seria possível apenas sob a liderança do seu partido.
Presente na reunião dos ecologistas na quinta-feira, a deputada da França Insubmissa Alfa Dufour relatou "diferenças estratégicas" entre a sigla e os outros partidos da Nova Frente Popular. "O princípio de uma primária das esquerdas parece inevitável", constata Le Figaro.
RFI com AFP