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'Mimados?': entenda por que os jovens alemães recusam o serviço militar

Diante de uma crescente ameaça de conflito vinda do leste, o Parlamento alemão aprovou, na sexta-feira (5), o chamado Novo Serviço Militar, uma reforma que mantém o serviço voluntário, mas estipula regras mais rígidas e que - reconhece o próprio governo - pode levar à obrigatoriedade no futuro. A nova lei foi recebida com protestos de jovens em 90 cidades, e a Alemanha agora se pergunta: ninguém mais está disposto a defender o seu país?

10 dez 2025 - 10h30
(atualizado às 11h48)
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Gabriel Brust, correspondente da RFI em Düsseldorf

Os protestos levaram cerca de 3.000 pessoas às ruas de Berlim. A partir de 2026, todos os homens, ao completarem 18 anos, deverão responder a um questionário e passar por avaliação médica. O objetivo do governo é aumentar o efetivo voluntário das Forças Armadas em 80.000 militares, chegando a 260.000. O serviço continua sendo opcional, mas se os números não forem atingidos, a lei deixa espaço para uma reintrodução da obrigatoriedade no futuro.

"Não quero morrer em uma guerra"

Diferentes pesquisas apontam para uma aprovação geral da população alemã à volta do serviço militar obrigatório (cerca de 70%), mas o cenário muda, é claro, quando a pesquisa é feita junto ao grupo mais afetado, os jovens a partir de 18 anos. Pesquisas mostram números discrepantes, com aprovação à obrigatoriedade variando entre 30% e 54%.

Nos protestos da última semana, os cartazes iam do pacifismo até críticas ao governo e à própria Bundeswehr, as Forças Armadas alemãs. Alguns depoimentos colhidos pela revista Der Spiegel incluíram: "Não tenho nenhum desejo de morrer em uma guerra ou passar seis meses da minha vida em um quartel." Houve também pautas alinhadas com a nova geração: "Toda hora se ouve falar de bullying, sexismo, racismo ou até mesmo redes de extrema direita na Bundeswehr. Acho isso abominável", declarou um jovem de 17 anos da cidade de Münster.

"Criamos uma geração mimada"

A obrigatoriedade do serviço militar foi abolida na Alemanha em 2011 e, segundo especialistas, é inevitável que ela terá de ser reintroduzida se o país quiser se preparar para conflitos futuros.

O psicólogo Rüdiger Maas, pesquisador especializado na chamada Geração Z (pessoas entre 15 e 30 anos), diz que os jovens que viveram este hiato de serviço militar opcional "nunca imaginaram que seriam submetidos a um serviço militar obrigatório". "Eles cresceram em um mundo no qual nada era obrigatório para eles, exceto frequentar a escola. E de repente surge uma guerra à porta do país e esperam que eles defendam a nação com armas na mão", disse Maas, em entrevista ao jornal Die Zeit, em outubro, quando do início do debate da nova legislação.

Os estudos de seu instituto de pesquisas geracionais mostram que 81% dos jovens alemães não estão dispostos a morrer pelo país e 69% não defenderiam o país com armas. Esse número representa o dobro, por exemplo, dos jovens na Suíça. A explicação, para ele, seria justamente que no país vizinho o serviço obrigatório nunca foi suspenso: "A consciência de que se deve defender militarmente o próprio país em caso de crise é muito mais forte entre os jovens suíços".

Maas vai mais longe em sua análise e vaticina: "Os jovens estão mimados. Mas quem os mimou? Nós, os mais velhos, temos grande responsabilidade nisso, com nossa superproteção". Ele aponta outros exemplos anedóticos que apoiariam sua tese: o número de jovens que passam com a nota máxima no "ENEM alemão" disparou - o que denotaria uma menor exigência das escolas - e a decadência dos clubes esportivos, uma tradição alemã, em que jovens praticavam esportes de forma rígida, com horário marcado e frequência obrigatória. A nova geração está preferindo academias de ginástica flexíveis, em que eles fazem sua própria rotina.

Jovens descontentes com o país

Para outro pesquisador da juventude alemã, Simon Schnetzer, é preciso levar em consideração uma certa frustração da juventude atual: "Dizem que eles cresceram em um ambiente de prosperidade, mas também vemos que as coisas não estão indo bem no momento: problemas como as ferrovias, as políticas de previdência ou a inflação", disse Schnetzer ao canal de TV público alemão ZDF.

Para ele, esta seria uma geração duplamente penalizada: primeiro com a pandemia, que roubou um tempo precioso da juventude, e, agora, com uma exigência militar que pouco ou nada ouviu os jovens no processo legislativo.

Influência da extrema direita

Na última eleição parlamentar alemã, o partido de extrema direita AfD triplicou seus votos entre os jovens. Na votação da lei que instituiu o novo serviço militar, o partido retribuiu os votos e se posicionou francamente contra o projeto - que foi aprovado graças à maioria formada por CDU e SPD, a coalizão de centro-direita e centro-esquerda.

Segundo Rüdiger Mass, a AfD alimenta um discurso pessimista entre os jovens sobre o país e seu papel nele. Isso seria uma particularidade alemã.

"Enquanto Marine Le Pen continua exaltando a "Grande Nação" na França e Nigel Farage celebra a singularidade britânica, a AfD aqui diz que tudo está desmoronando e que não há nada de que se orgulhar. Que o Estado só faz algo pelos outros, pelos imigrantes, nunca pelos alemães. Esse discurso convence parte dos jovens, que então concluem: se tudo está ruim, por que devo defender meu país?", explica o especialista. Na avaliação de Mass, não surpreende que a disposição para cumprir o serviço militar seja especialmente baixa entre os jovens simpatizantes da AfD.

RFI A RFI é uma rádio francesa e agência de notícias que transmite para o mundo todo em francês e em outros 15 idiomas.
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