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Europa

Ativistas ibéricos relatam luta pelo casamento gay: "pensei em me matar"

O português Antonio Serzedelo e o espanhol Boti García Rodrigo contaram como foram os esforços pela união homossexual na Península Ibérica

7 jun 2013 - 12h01
(atualizado em 9/9/2013 às 14h55)
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Antonio Serzedelo é o português mais antigo na luta pelos direitos homossexuais em seu país. Hoje com 67 anos, ele passou pelos anos de ditadura, assistiu ao renascimento da democracia e viu a nação entrar na União Europeia. Nos últimos anos, viu sua terra natal passar por uma transformação tão importante para ele quanto as primeiras: a legalização do casamento gay.

O português Antonio Serzedelo, 67 anos: "nunca deixei de lutar pelo que hoje é visto com um direito humano"
O português Antonio Serzedelo, 67 anos: "nunca deixei de lutar pelo que hoje é visto com um direito humano"
Foto: Arquivo pessoal / Divulgação

"Descobri que era gay aos 15 anos e sofri muito preconceito. Isso fez com que eu mudasse minha visão, mas nunca deixei de lutar pelo que hoje é visto como um direito humano", explica Antonio. Com seus amigos, ele publicou, em maio de 1974, o primeiro manifesto da homossexualidade de Portugal, publicado nos jornais de Lisboa com o título "Liberdade para as minorias sexuais".

A luta de espanhóis pelos direitos do homossexuais também tomou impulso nos anos setenta, mais precisamente depois de 1975, com a morte do ditador Francisco Franco e a democracia. 

O espanhol Boti García Rodrigo, hoje presidente da Federação Estatal  de Lésbicas, Gays, Transexuais e Bissexuais (FELGTB), também lembra da conquista da legalização do casamento gay na Espanha com emoção. "Foi emocionante. Foi como sonhar uma utopia e alcançá-la. Foi constatar que com o esforço de um grupo é possível chegar a um objetivo".

Mas demorou para que as minorias fossem ouvidas nos dois países. Nos anos 1990, Antonio se submeteu a um tratamento com choques elétricos em um hospital psiquiátrico de Lisboa. "Eu chorava quando estava sozinho e até pensei em me matar. Eu queria fazer feliz uma moça de quem gostava, mas claro que o tratamento não me fez deixar de gostar de homens", conta.

Somente em 2006 o matrimônio homossexual foi tema debatido nas eleições portuguesas. Nessa época, Antonio já tinha relações com homens, mas reclama: "há pouca militância em Portugal e ainda tivemos que lidar com muita gente hipócrita que não se aceita e tem uma vida dupla".

Enquanto em Portugal o tema era um debate político, em 2005 a Espanha tinha aprovado a mudança na legislação aprovando como matrimônio o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo. Antes disso, algumas regiões, como a Catalunha, por exemplo, tinham leis aprovando a união estável entre pessoas do mesmo sexo e entidades que defendiam GLBT se multiplicavam. 

Gabriel Aranda, engenheiro informático de 30 e anos e Rubén López, engenheiro de telecomunicações de 33 anos estão juntos desde 2003 e se casaram em Talavera de la Reina, uma pequena cidade do interior da Espanha. Mas apesar de viverem uma época muito diferente da que viveu Antonio, em Lisboa, o jovem casal também sofreu com preconceito.

"A família de um de nós não sabia que éramos gays e demorou para aceitar nossa relação. Mas o casamento em uma pequena cidade foi sem dúvida um grande passo para que essas pessoas abrissem a cabeça", conta um deles, que preferiu não se identificar. "Ao longo desses anos, muita gente mudou a ideia pré-concebida a respeito de gays depois de nos conhecer. Elas perceberam que temos os mesmos problemas e alegrias que um casal heterossexual", completa o espanhol.

Em Portugal, o casamento homossexual finalmente virou lei em 2010. "Neste momento ajudei muitos casais a revolverem suas vidas, inclusive estrangeiros que vieram até aqui para se casar. Alguns cartórios pretendiam desobedecer a lei, mas com a imprensa e o governo socialista ao nosso lado, rapidamente as denúncias foram feitas e os problemas, evitados", diz Antonio, que também é presidente da entidade Opus Gay - Associação Obra Gay.

Fonte: Especial para Terra
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