Coreia do Norte: filha de Kim Jong-un ganha destaque público e é apontada como possível sucessora
Desde sua primeira aparição pública em 2022, a filha do líder norte-coreano, Kim Ju-ae, tem surgido com mais frequência em fotos oficiais ao lado do pai. Essa crescente exposição pode ser um indício de que ela seria a futura sucessora do ditador Kim Jong-un, apostam analistas.
Desde sua primeira aparição pública em 2022, a filha do líder norte-coreano, Kim Ju-ae, tem surgido com mais frequência em fotos oficiais ao lado do pai. Essa crescente exposição pode ser um indício de que ela seria a futura sucessora do ditador Kim Jong-un, apostam analistas.
Baptiste Condaminas, da redação da RFI em Paris, com agências
Kim Ju-ae apareceu pela primeira vez em uma foto em novembro de 2022, de mãos dadas com Kim Jong-un, compartilhando o que parecia ser um momento de cumplicidade entre pai e filha, se não fosse o gigantesco míssil balístico cercado por soldados, em um local de lançamento.
Ela reapareceu alguns meses depois, no início de fevereiro de 2023, durante as celebrações do 75º aniversário das forças armadas do país. Primeiro, em um banquete militar, em posição de destaque entre seus pais, Kim Jong-un e sua mãe, Ri Sol-ju. No dia seguinte, foi vista assistindo à grande parada militar.
As câmeras focaram na criança, então com cerca de dez anos, acariciando afetuosamente o rosto do pai, e a imprensa norte-coreana deu grande destaque ao momento. Um grande mistério envolve a jovem, hoje com 12 anos, sobre quem se sabe muito pouco.
Segundo os serviços de inteligência sul-coreanos, Kim Jong-un é pai de outros dois filhos, incluindo um mais velho. No entanto, nenhuma informação é divulgada sobre os irmãos de Kim Ju-ae, a única que apareceu publicamente até agora. Seu nome e existência foram revelados ao mundo em 2013, durante a visita do ex-jogador de basquete americano Dennis Rodman a Pyongyang.
Dez anos depois, ela está cada vez mais presente nas imagens oficiais divulgadas pelo país. Em 2023, apareceu ao lado do pai em diversas ocasiões: em um teste de lançamento de um novo míssil balístico, em uma partida esportiva marcando o 111º aniversário de Kim Il-sung, durante visita à Administração Nacional de Tecnologia Aeroespacial e na inspeção de um satélite de reconhecimento militar.
Ela também acompanhou o líder em encontros no Comando Naval do Exército durante o Dia da Marinha e nas cerimônias dos 75 anos da fundação da Coreia do Norte.
O papel de Kim Ju-ae torna-se cada vez mais central nas fotografias. A ponto de, em novembro de 2023, ela aparecer não apenas no centro, mas também em primeiro plano de uma imagem em que seu pai é visto ao fundo.
Embora não possua nenhum título oficial, Kim Ju-ae, inicialmente apresentada como filha "querida" ou "amada", passou a ser chamada de filha "respeitada", um adjetivo normalmente reservado às mais altas autoridades. Nem a primeira-dama, nem a influente irmã do presidente recebem tais qualificativos.
Kim Jong-un só foi chamado de "camarada respeitado" após ser designado como futuro líder do país. Em 2024, durante uma visita a uma fazenda, os meios de comunicação estatais norte-coreanos chegaram a qualificar Kim Ju-ae como "conselheira", um termo reservado à elite dirigente.
"Esse nível de adoração pessoal por Kim Ju-ae sugere que ela sucederá Kim Jong-un como próxima líder da Coreia do Norte", afirmou à rede CBS Cheong Seong-chang, diretor do Centro de Estratégia para a Península Coreana do Instituto Sejong.
Segundo esse especialista, "na Coreia do Norte, onde os dirigentes políticos e a população não estão preparados para aceitar uma mulher no comando do país, Kim Jong-un está tornando a sucessão de sua filha um fato consumado ao destacá-la regularmente nos meios de comunicação estatais."
Desde o final de 2022, Kim Ju-ae aparece com frequência na propaganda visual do regime e em posições de destaque, próxima ao pai e à frente dos chefes do Estado-Maior do Exército. Selos representando pai e filha também foram publicados. Especialistas se questionam sobre a estratégia por trás dessa exposição da adolescente. Alguns veem nisso uma forma de Kim Jong-un facilitar o acesso da filha ao poder e preparar sua sucessão.
Essa teoria ganha força porque ela às vezes é retratada em situações mais ativas, como nesta imagem tirada durante um treinamento militar em março de 2024.
Ou em ocasiões diplomáticas, como durante um encontro com o embaixador russo na Coreia do Norte ou com a ministra russa da Cultura, durante um espetáculo realizado no Grande Teatro de Pyongyang-Leste, em junho de 2025.
Desde o início do ano, a herdeira participou de pelo menos nove eventos oficiais, com exceção de uma cerimônia celebrando a terceira fase da construção de 10.000 moradias em Pyongyang e da visita a um complexo turístico na costa da província de Kangwon.
A maioria desses eventos está ligada às atividades militares do país, como tem ocorrido desde o início de suas aparições públicas. Como o Exército é um elemento-chave do poder norte-coreano, especialistas acreditam que o líder está mostrando à filha como administrar esse setor essencial, que ele apresenta como o principal legado de sua família. Segundo analistas, ele também teria oferecido aos oficiais superiores a oportunidade de conhecê-la e demonstrar sua lealdade a ela.
Problemas cardíacos
Para alguns especialistas, essa vontade de destacar Kim Ju-ae pode estar relacionada ao estado de saúde de Kim Jong-un, suspeito de sofrer de problemas cardiovasculares, os mesmos que afetaram seu pai e seu avô. E inserir sua filha no cenário político e midiático não é algo trivial.
Seria apenas uma manobra para apresentar o líder norte-coreano como um bom pai de família? Um meio de eliminar qualquer ambiguidade caso deixe o poder? Uma forma de afirmar, com força, a estabilidade e a longevidade de sua dinastia?
Os serviços de inteligência sul-coreanos acreditam, de todo modo, que "o plano de sucessão está parcialmente pronto". No entanto, não descartam a possibilidade de que outro irmão ou irmã possa surgir como alternativa nesse plano, já que a Coreia do Norte não fez nenhum anúncio oficial a esse respeito. Enquanto isso, "não se pode dizer que a promoção de Kim Ju-ae não tenha nada a ver com a questão da sucessão", afirma Cheong Seong-chang.