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Araújo exonera diplomata após críticas em redes sociais

Paulo Roberto de Almeida afirma que recebeu telefonema do chefe de gabinete reclamando de postagens; no Facebook, ele cita 'autoritarismo'

4 mar 2019 - 19h55
(atualizado às 20h32)
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O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, exonerou nesta segunda-feira, 4, o embaixador Paulo Roberto de Almeida do cargo de presidente do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri). A saída ocorre após Almeida republicar, em seu blog pessoal, artigos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do ex-ministro Rubens Ricupero com críticas à diplomacia brasileira, e também texto do próprio chanceler, que rebate os dois primeiros.

O embaixador assumiu o cargo no Inpri em agosto de 2016, durante o governo de Michel Temer. Segundo ele, o chefe de gabinete do Itamaraty, Pedro Wollny, o telefonou nesta segunda-feira para comunicar a saída. "Ele ligou reclamando das postagens no meu blog pessoal", afirmou ao Estado. "Eles ficaram irritados e ele (Wollny) me telefonou para dizer que não era saudável", disse.

O diplomata Paulo Roberto de Almeida em discurso no Senado Federal em abril de 2017 em sessão solene sobre os 100 anos de Roberto Campos
O diplomata Paulo Roberto de Almeida em discurso no Senado Federal em abril de 2017 em sessão solene sobre os 100 anos de Roberto Campos
Foto: Roque de Sá/Agência Senado / Estadão

Questionado, o Itamaraty afirmou , por meio de nota, que a mudança estava decidida anteriormente. "A troca da presidência do Ipri, no contexto da troca da grande maioria das chefias do Ministério das Relações Exteriores, já estava decidida e foi comunicada ao atual titular", diz a nota.

Em postagem já na noite desta segunda-feira, o embaixador comentou a notícia de sua exoneração com citação a autoritarismo. "Personalidades autoritárias não apreciam espíritos libertários como o meu."

Na publicação no blog, Almeida diz que sua intenção ao reproduzir os textos críticos ao atual chanceler era estimular o debate. "O debate está aberto, e certamente teremos outros textos e outras polêmicas", escreve.

Ele, no entanto, já havia feito outras críticas recentes ao atual governo. No sábado, dia 2, ele republicou em suas redes sociais declarações de Olavo de Carvalho, considerado o guru do atual chanceler, que chama de "Olavices debiloides". "Certas coisas precisam ser relidas para constatar que, efetivamente, estamos em face de uma demonstração explícita de debilidade mental", postou Almeida. "É essa inteligência suprema que orienta a política externa do presente governo?", completa.

Almeida também comentou nas redes sociais declaração do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro, sobre a morte de um neto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Fundamentalistas de esquerda e de direita não só se parecem, como são exatamente iguais", escreveu em seu Twitter.

Almeida é diplomata de carreira desde 1977. Serviu em diversos postos no exterior, entre eles o de embaixador na Bélgica, onde se tornou doutor em ciências sociais em 1984. Atualmente, além do cargo que exercia no Ipri, dá aulas de Economia Política em uma universidade de Brasília.

'Júnior'

Para o diplomata, o ministro Ernesto Araújo é um "júnior" na carreira diplomática. "Houve uma quebra de hierarquia muito clara no Itamaraty desde janeiro e houve também uma ruptura dos procedimentos quanto à reforma na Casa, totalmente sem consulta, sem nenhuma preparação", afirmou.

"Os embaixadores estão obedecendo a ministros de segunda classe no Itamaraty. E todas as secretarias são ocupadas por funcionários júniores, ou menos antigos dos que estavam antes. Há muito embaixador sem função, o que vai ser meu caso agora também", disse.

'Deserto'

Em seu blog, Paulo Roberto de Almeida também anuncia que deve publicar em breve um livro que trata, entre outros temas, da diplomacia no período "lulopetista", no qual, segundo afirma, atravessou um longo "deserto".

"Durante todo o decorrer do regime lulopetista - ou seja, de 2003 a 2016 -, eu não tive nenhum cargo na Secretaria de Estado das Relações Exteriores (SERE), tendo sido 'condenado', desde o início desse regime, a uma longa travessia do deserto, que só veio a termo com o impeachment de meados de 2016, quando finalmente fui convidado para o cargo de diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI), da Fundação Alexandre de Gusmão, vinculada ao Itamaraty", afirma.

Estadão
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