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América Latina

Relatório encoraja protesto por mexicanos desaparecidos

Peritos argentinos alegam que não há evidência científica para estabelecer que existem restos mortais dos 43 estudantes desaparecidos em setembro no local indicado pela procuradoria

10 fev 2015 - 00h29
(atualizado às 07h37)
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Familiares dos 43 estudantes desaparecidos no México em setembro passado participam de coletiva de imprensa no Centro de Direitos Humanos Miguel Agustín Pro Juarez na Cidade do México, em 9 de fevereiro
Familiares dos 43 estudantes desaparecidos no México em setembro passado participam de coletiva de imprensa no Centro de Direitos Humanos Miguel Agustín Pro Juarez na Cidade do México, em 9 de fevereiro
Foto: Reuters

O relatório dos legistas argentinos, que apresenta irregularidades na investigação sobre o desaparecimento de 43 estudantes no México, deu asas para que seus pais sigam lutando, pois confessaram nesta segunda-feira que estão certos de que seus filhos estão vivos, enquanto o governo mexicano acusou os analistas de querer semear dúvidas.

"Já temos certeza que nossos filhos estão vivos e não vamos parar, nem vamos temer a repressão. Vamos lutar mais forte por nossos filhos", disse Mario González, um dos pais dos desaparecidos.

Os familiares dos 43 jovens organizaram hoje uma entrevista coletiva para expressarem sua opinião sobre uma série de irregularidades denunciadas no último fim de semana pela Equipe Argentina de Antropologia Forense (EAAF) em torno das investigações sobre o desaparecimento dos jovens no dia 26 de setembro em Iguala, no estado de Guerrero, no sul do país.

Além disso, fizeram duras críticas à Procuradoria Geral da República (PGR) do México, que hoje respondeu aos legistas com um comunicado, os acusando de querer semear dúvidas em torno da investigação.

Entre outras coisas, a instituição garantiu que os peritos da EAAF, uma prestigiada organização criada nos anos 1980 na Argentina, só dominam as disciplinas de antropologia, criminalística e genética, por isso "não têm conhecimentos de especialistas em outros ditames".

Além disso, responsabilizou o grupo de não ter estado presente durante a recuperação de sacos com fragmentos ósseos no rio San Juan, no dia 29 de outubro de 2014, onde foram encontrados restos mortais que supostamente são dos jovens.

Os peritos denunciaram que a PGR os comunicou quando os sacos já estavam abertos e os restos espalhados e sendo analisados pelos peritos da própria procuradoria.

O procurador-geral, Jesús Murillo, garantiu no dia 27 de janeiro que a PGR tinha comprovado cientificamente que os 43 jovens foram assassinados e incinerados por membros do cartel Guerreros Unidos em um lixão do município de Cocula, também em Guerrero, e suas cinzas espalhadas no rio citado.

No entanto, a EAAF indicou em seu documento que, até o momento, "ainda não há evidência científica para estabelecer que, no lixão de Cocula, existam restos humanos que correspondam" aos estudantes, por isso o caso não pode ser encerrado.

Os familiares dos estudantes estão "100%" com os peritos, disse González, que acusou Murillo de "não dar credibilidade aos argentinos" e sim "aos delinquentes", em referência aos depoimentos de criminosos detidos, nos quais se baseia a hipótese oficial.

"Os peritos têm a plena confiança dos pais dos estudantes. Em suas várias décadas de trajetória, a equipe argentina nunca agiu sem rigor científico; a PGR, no entanto, sim", declarou, por sua vez, o representante dos amigos dos jovens, Omar García.

"A verdade histórica não foi estabelecida, não há verdade científica do fato. Dezenas de envolvidos continuam foragidos, não foi investigada a proteção do Exército aos Guerreros Unidos", disse García, citando algumas questões que ainda precisam ser esclarecidas.

Em nome de todos os presentes, o representante dos amigos dos jovens exigiu "respeito e condições ótimas" para que os argentinos possam realizar seu trabalho e que os membros da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que irão ao México nos próximos dias, tenham acesso a todos os documentos e análises do caso.

Nesse sentido, o representante dos pais, Felipe de la Cruz, se declarou preocupado com as represálias que a EAAF possa sofrer, "porque sabemos que tipo de governo temos no México".

"Quando algo não vai bem (para o governo) e há alguém que os denuncia, vem a repressão, a pressão. Se algo acontecer com a equipe de legistas argentinos, nós, os pais de família, iremos considerar o governo do México como responsável", acrescentou.

Apesar das tentativas da procuradoria para encerrar o caso, acrescentou De la Cruz, os familiares buscarão "a justiça até as últimas consequências" e não vão "descansar até que a verdade seja descoberta".

EFE   
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