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América Latina

Populismo paira sobre América Latina, alerta estudo

Em 13 meses, 8 eleições presidenciais podem mudar panorama político. Desilusão e baixo crescimento abrem oportunidade para outsiders.

22 nov 2017 - 15h30
(atualizado às 16h17)
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Nos próximos 13 meses, um ciclo de nove eleições presidenciais pode mudar radicalmente o panorama político da América Latina. Dois de cada três latino-americanos serão convocados para as urnas. Com exceção da Argentina, os pleitos vão ocorrer em todas as grandes economias da região: Brasil, México, Colômbia, Venezuela e Chile. E também no Paraguai, Honduras e Costa Rica.

Urna eletrônica brasileira
Urna eletrônica brasileira
Foto: Agência Brasil

A temporada foi aberta no último fim de semana, com o primeiro turno das eleições presidenciais do Chile e deve se encerrar em dezembro de 2018, na Venezuela, caso o presidente Nicolás Maduro não resolva adiar a data.

Tal ciclo normalmente seria um sinal da força da democracia na região, mas os pleitos vão ocorrer em meio à crescente insatisfação de eleitores com casos de corrupção, a desconfiança em relação à classe política tradicional e estagnação econômica.

Esse cenário deve na maior parte dos países abrir espaço para outsiders, especialmente populistas, tanto da direita quanto da esquerda, aponta um relatório elaborado pela consultoria Economist Intelligence Unit (EIU), ligada à revista britânica The Economist.

"Isso cria oportunidades para aproveitar o sentimento anti-establishment e criar surpresas nas eleições de 2018", diz o documento. No Chile, Colômbia, México e Brasil, os atuais presidentes registram baixos índices de aprovação, e dificilmente devem conseguir fazer um sucessor.

Dois nomes de populistas que vem crescendo nas pesquisas são destacados pela consultoria: o ex-oficial militar e deputado federal brasileiro Jair Bolsonaro, populista de direita, e o mexicano Andrés Manuel López Obrador, de esquerda.

Brasil: uma chance para o centro

No caso do Brasil, o relatório aponta que, se a economia continuar a demonstrar sinais de retomada, maiores vão ser em 2018 as chances de candidatos centristas, mais alinhados ao mercado, afastando o temor da ascensão dos populistas.

Isso deve beneficiar especialmente o PSDB, que, ainda que tenha sido duramente atingido por escândalos de corrupção, ainda é visto como fiscalmente responsável e menos propenso a aventuras que possam colocar uma retomada econômica em risco.

"Se a recuperação incipiente da economia brasileira se fortalecer, as chances de vitória de um candidato de um partido centrista - muito provavelmente do PSDB - vão florescer", diz o documento, que aponta ainda que altos índices de rejeição de pré-candidatos como o ex-presidente Lula e Bolsonaro devem torpedear suas chances em um segundo turno caso o adversário seja um centrista. No momento, um dos nomes mais cotados para assumir a candidatura do PSDB é o atual governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

A consultoria prevê que o PIB brasileiro de 2018 tenha crescimento de 2,3%, após uma alta de 0,7% neste ano.

O cenário mais desolador apontado pelo relatório seria um segundo turno entre um candidato de extrema esquerda e um de extrema direita, "o que representaria uma quebra do histórico de consenso pragmático do Brasil".

"Nesse contexto, a campanha presidencial deve ser obscurecida por preocupações com a volta do populismo econômico que contribuiu para a brutal recessão de 2015-2016. Por ora, os investidores estão tendo uma visão otimista, mas devem ficar mais nervosos conforme as eleições se aproximem."

Ainda sobre o caso brasileiro, o estudo aponta que o vencedor das eleições herdará "contas públicas precárias" e vai precisar aprovar mais reformas impopulares.

México

Assim como ocorre no Brasil, a insatisfação com o atual presidente, Enrique Peña Nieto, está alimentando forças antiestablishment. Seu governo sofre com acusações de corrupção e uma grave crise na segurança pública. Também há o fator Donald Trump, o presidente americano que estremeceu as relações com o México ao lançar planos de construir um muro na fronteira.

"Tudo isso é útil para o atual líder na corrida", diz o relatório da EIU. O líder nas pesquisas é justamente o populista de esquerda Andrés Manuel López Obrador, fundador e líder do Morena (Movimento de Regeneração Nacional). A eleição está marcada para 1° de julho.

Colômbia

O pleito presidencial da Colômbia vai ocorrer após a assinatura do acordo de paz com os guerrilheiros das Farc, que foi rejeitado pela população em um referendo. As eleições, marcadas para 27 de maio, devem ser dominadas por "novos movimentos políticos independentes", diz o relatório, tanto na esquerda quando na direita, que pretendem capitalizar com o crescente descontentamento dos colombianos com o atual establishment político.

Por enquanto, a liderança nas pesquisas é de Sergio Fajardo, ex-prefeito de Medellín que se apresenta como independente, mas é identificado como sendo de centro-esquerda. Seu provável adversário em um eventual segundo turno deve ser o ex-vice-presidente Gérman Vargas, de centro-direita, que também lançou seu próprio movimento político. Segundo o relatório, as condições do acordo de paz devem dominar os debates eleitorais.

Chile

No último domingo (19/11), o Chile já foi às urnas para escolher os candidatos que vão disputar o segundo turno, que vai ocorrer em 19 de dezembro. O ex-presidente de centro-direita Sebastián Piñera recebeu 36,7% dos votos. Seu adversário na segunda rodada será o jornalista e senador Alejandro Guillier, um independente apoiado por partidos de esquerda e que defende as reformas da atual presidente, Michelle Bachelet. Ele recebeu 22,7%.

Assim como ocorreu em outros países da região, o Chile também foi sacudido recentemente por escândalos de corrupção e também passou por desaceleração econômica, o que acabou minando a confiança no atual governo. O relatório destaca que mesmo Piñera foi envolvido em acusações de corrupção, o que acabou turbinando a candidatura de um outsider como Guillier. Mas no final, aponta o documento, a economia deve ser o fator decisivo, e os planos do centrista Piñera devem ter mais apelo entre os eleitores.

Costa Rica, Paraguai e Honduras

Economias menores da região, o trio vai escolher seus presidentes entre novembro de 2017 e abril de 2018. Na Costa Rica, o relatório também aponta que a erosão da influência dos partidos tradicionais deve influenciar o pleito. No Paraguai, o debate será em torno do legado do atual presidente, Horacio Cartes, que fez esforços para modernizar o país e não conseguiu aprovar uma emenda que permitiria sua reeleição. Em Honduras, um raro caso de presidente latino que deve conseguir se reeleger: Juan Orlando Hernández deve conquistar um segundo mandato no pleito marcado para 26 de novembro deste ano.

Venezuela

Oficialmente , a Venezuela terá eleições presidenciais em dezembro de 2018. Só que o governo de Nicolás Maduro, que cada vez mais vem escancarando seu autoritarismo, já deu vários exemplos no passado de desrespeito ao calendário eleitoral. Eleições são adiadas, e regras de candidaturas são modificadas a todo momento.

"Se as eleições acontecerem, é impossível que sejam livres e transparentes", aponta o relatório da IEU.

Contanto ainda com uma oposição desorganizada, que passou por um choque após as eleições regionais de outubro - marcadas por suspeitas de fraudes e coerção de eleitores -, o governo Maduro deve vencer mais esse pleito, caso ele ocorra como previsto. Ainda assim, o relatório não vê um futuro a longo prazo para o caudilho chavista.

"A dizimação do PIB, a continua destruição da capacidade petrolífera da Venezuela vão, se não ocorrer uma entrada de recursos externos, terminar por prostrar o governo Maduro. Mas 2018 pode não ser o ano em que isso vai acontecer."

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