Condenação de Uribe na Colômbia reacende debate sobre ligação entre milícias e política
Após um longo processo judicial iniciado em 2012, o ex-presidente colombiano Álvaro Uribe foi condenado por tentar subornar um paramilitar, com o objetivo de impedir que fosse implicado nas ações de esquadrões armados de extrema direita. A decisão representa um avanço inédito na busca por justiça em relação aos crimes do paramilitarismo na Colômbia.
Após um longo processo judicial iniciado em 2012, o ex-presidente colombiano Álvaro Uribe foi condenado por tentar subornar um paramilitar, com o objetivo de impedir que fosse implicado nas ações de esquadrões armados de extrema direita. A decisão representa um avanço inédito na busca por justiça em relação aos crimes do paramilitarismo na Colômbia.
Raphaël Morán, da RFI
A condenação do ex-presidente colombiano Álvaro Uribe é inédita e representa um avanço na busca por justiça em relação aos crimes cometidos pelo paramilitarismo na Colômbia.
Jacobo Grajales, professor de Ciências Políticas na Universidade Paris 1 Sorbonne, destaca que Uribe, enquanto governador do departamento de Antioquia nos anos 1990 — uma das regiões mais conflituosas do país —, apoiou publicamente cooperativas de segurança conhecidas como "Convivir", que atuaram como fachada legal para o paramilitarismo ao longo daquela década.
Além disso, Grajales aponta acusações recorrentes de que Álvaro Uribe e seu irmão, Santiago, teriam criado seus próprios grupos paramilitares em torno de uma fazenda da família.
Embora tais denúncias nunca tenham sido judicialmente comprovadas, um dos obstáculos à responsabilização foi a mudança de versões por parte de testemunhas — algumas das quais desapareceram ou foram assassinadas. "A condenação de ontem é um marco histórico nos esforços de esclarecimento da verdade sobre o paramilitarismo na Colômbia", afirmou o especialista à RFI.
Ligações entre políticos e milícias armadas
Segundo Grajales, já houve condenações pelos crimes cometidos pelos paramilitares, prova de um certo progresso na justiça: "Tem sido uma luta de mais de 20 anos, houve assassinatos de juízes, assassinatos de testemunhas, assassinatos de procuradores e, sobretudo, também de defensores de direitos humanos que se envolveram na investigação desses temas", ressaltou.
"No caso específico do paramilitarismo, os juízes e as juízas na Colômbia demonstraram que grande parte da classe política regional se aliou a grupos paramilitares. Houve dezenas de deputados e senadores condenados por suas ligações com esses grupos paramilitares nos anos 2000 e 2010. O próprio primo de Álvaro Uribe, que era senador, foi condenado por vínculos com os paramilitares. A responsabilidade do Exército já foi estabelecida", detalha o especialista.
"O único ponto que ainda não foi plenamente estabelecido do ponto de vista judicial é a responsabilidade que possa ter existido por parte da Presidência da República na formação desses grupos e nos crimes de guerra e crimes contra a humanidade que possam ter sido cometidos", conclui.
Justiça e reconciliação
O senador de esquerda Iván Cepeda, que há 13 anos lidera investigações sobre os laços entre Uribe e o paramilitarismo, acredita que essa condenação pode representar um ponto de virada rumo à reconciliação nacional. Segundo ele, a verdade e a justiça são elementos fundamentais para reparar as vítimas dos crimes cometidos pelos grupos armados ilegais.