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5 revelações do discurso do Estado da União de Donald Trump

Com momentos beligerantes e emocionais, Trump fez nesta terça-feira (4) à noite aquele que provavelmente deve ser seu último discurso em sessão conjunta do Congresso americano antes de disputar sua reeleição em novembro deste ano.

5 fev 2020 - 08h21
(atualizado às 11h28)
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Foi um discurso do Estado da União histórico, proferido pelo presidente americano Donald Trump um dia depois do início caótico do processo de escolha do candidato presidencial democrata e um dia antes de o Senado dar seu veredicto no julgamento do impeachment do mandatário.

Foto: BBC News Brasil

Com momentos beligerantes e emocionais, Trump fez nesta terça-feira (4) à noite aquele que provavelmente deva ser seu último discurso em sessão conjunta do Congresso americano antes de disputar sua reeleição em novembro deste ano.

Foi uma noite memorável em torno da tradicional fala à nação, considerada o discurso político mais importante do ano no país.

Veja abaixo cinco destaques.

1. Adeus, decoro

O discurso do presidente foi marcado por duas notáveis faltas de decoro. Tudo começou quando o presidente republicano entregou o texto de seu discurso à presidente da Câmara dos Representantes (equivalente à Câmara dos Deputados), a democrata Nancy Pelosi: ele virou a cara quando ela estendeu a mão para cumprimentá-lo.

Então, Pelosi se recusou a usar o termo tradicional de que era uma "honra" apresentar o presidente.

Após a conclusão do pronunciamento, Pelosi rasgou o texto do discurso e o jogou em sua mesa. Mais tarde, ela disse a um produtor da emissora Fox News que aquela era a "coisa mais educada possível", dadas as outras opções.

Houve também momentos durante o próprio discurso em que a tensão transbordou. O presidente atacou propostas de presidenciáveis democratas de abolir o seguro de saúde privado, dizendo que "nunca deixaria o socialismo destruir a Saúde dos EUA". Ele também fez um longo ataque aos Estados dirigidos pelos democratas de Nova York e Califórnia por causa de suas políticas de imigração.

Quando o presidente abordou os direitos de ter armas, um membro da plateia — o pai de uma criança morta no massacre em uma escola de Parkland, na Flórida, em 2018 — foi retirado da Câmara por gritar contra o presidente.

Em todo o discurso, suas falas eram frequentemente recebidas por aplausos estridentes dos congressistas republicanos, enquanto os democratas ficavam em silêncio ou vaiavam.

Em seu discurso no ano passado, o presidente refutou "a política de vingança, resistência e toma lá, dá cá", pregando a cooperação e o bem comum.

Mas isso tudo ficou de lado neste ano, refletindo o acirramento da polarização política americana.

2. Economia deve dominar campanha de reeleição

Em geral, em ano eleitoral, um presidente que vai disputar a reeleição apresenta temas importantes de sua campanha eleitoral. Se esse for o caso, o discurso de Trump deixa claro que ele vai apostar suas fichas na situação econômica do país.

Embora os números de crescimento da economia do ano passado tenham sido modestos, o presidente tem apresentado um desempenho econômico equivalente ao da era Obama. No auge de seu discurso, que deve chegar à maioria dos americanos, Trump misturou fatos, opiniões e números que apoiam sua afirmação de que o país vive um ótimo período e que permanecerão assim se ele ficar mais quatro anos no cargo.

Ele citou medidas como desregulamentação, reduções de impostos e novos acordos comerciais como receita para a prosperidade. Na campanha eleitoral deste ano, pode esperar que ele defenda que uma mudança de rumo sob um presidente dmocrata atingirá os eleitores no lugar que mais dói: seus bolsos.

3. Um toque de inclusão

Em seu discurso, Trump afirmou que estava construindo a "mais próspera e inclusiva sociedade do mundo".

O uso da palavra inclusiva não foi por acaso. Ao longo de sua fala, o presidente tratou diversas vezes de grupos minoritários nos Estados Unidos, fatias estas que, segundo as pesquisas, são bastantes céticas em relação a ele.

Trump falou de como ele reformou o sistema penal e patrocinou faculdades negras. Ele ressaltou especificamente os mais baixos níveis de desemprego de "afro-americanos, hispano-americanos e americanos-asiáticos".

De fato, essas taxas são as mais baixas desde os anos 1970, quando elas começaram a ser computadas. O desemprego entre negros e hispânicos é de 5,5% e de 3,9%, respectivamente.

Mas a disparidade salarial ainda é enorme. Em média, um americano negro ganha 26% menos que um americano branco, por exemplo.

Quando tratou de imigração em sua fala, mencionou Raul Ortiz, que foi recentemente indicado ao cargo de sub-chefe da Patrulha de Fronteira americana.

Se o presidente for bem-sucedido em sua empreitada entre eleitores minoritários, e conseguir convencer eleitores independentes de que as acusações de racismo e xenofobia contra ele são falsas, seu caminho para a reeleição se torna muito mais fácil.

Seu discurso de Estado da União indica que ele sabe muito bem disso.

4. Ares de programa de auditório

Todos os presidentes desde o republicano Ronald Reagan contam com homenagens a convidados especiais, como uma forma de destacar políticas ou reconhecer valores ou sacrifícios de indivíduos notáveis.

Mesmo nos momentos mais difíceis, esses momentos dão ao presidente a chance de pedir aplausos e apoio de ambos os partidos do Congresso.

Nesta terça-feira, Trump, um notório showman, deu um passo além. Ele concedeu uma bolsa de estudos a uma estudante negra em uma escola particular, premiou um apresentador de rádio conservador, Rush Limbaugh, com a Medalha da Liberdade (entregue pela primeira-dama Melanie Trump) e surpreendeu a família de um militar americano ao anunciar seu retorno após sete meses no Afeganistão.

"Nós não poderíamos segurá-lo mais lá", afirmou Trump, num momento que lembrava um programa de auditório.

5. Prioridades de gestão

O presidente democrata Bill Clinton costumava fazer discurso sobre o Estado da União carregados de ideias e propostas acerca de diversas áreas.

Esse não é bem o estilo de Trump, mas ele citou algumas poucas prioridades de sua gestão — nenhuma delas, inclusive, deve prosperar no Congresso por causa do impasse bipartidário que vive o Legislativo americano (a Câmara sob comando dos democratas e o Senado, dos republicanos).

Ele pediu mais recursos para treinamentos vocacionais em escolas públicas americanas e por ações que reduzam o custo de medicamentos, o que despertou na hora manifestações de deputados democratas de que ele já aprovaram projetos nesse sentido e que a bola está com os senadores republicanos.

Quando o presidente sugeriu que ele estava dedicado a garantir que os planos de saúde sempre cubram condições pré-existentes, os democratas reagiram com veemência. O presidente, na verdade, apoia uma ação que anularia a lei que garante essa proteção aos segurados.

Menções a gastos em infraestrutura, uma obsessão entre os congressistas de ambos os partidos ao longo de toda a presidência de Trump, receberam amplo apoio dos presentes, assim como a defesa de missões espaciais para a Lua e para Marte.

Trump também cobrou uma lei que permita a vítimas de crimes cometidos por imigrantes sem documentação oficial que processem entes federativos que não cooperem com leis federais anti-imigração.

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