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Meirelles muda de tática e 'cola' em Lula nas eleições 2018

Ex-ministro vai usar período em que chefiou o Banco Central na gestão do petista para tentar crescer nas pesquisas

30 jun 2018 - 05h03
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BRASÍLIA - Estagnado nas pesquisas de intenção de voto, Henrique Meirelles fará uma aposta de risco para obter apoio e conseguir ser oficializado como candidato do MDB ao Palácio do Planalto nas eleições 2018. Sob desgaste de ter sido ministro da Fazenda do governo de Michel Temer, campeão no quesito impopularidade, Meirelles vai engrossar o discurso e usar na campanha o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que, apesar de condenado e preso na Lava Jato, ainda lidera os levantamentos quando seu nome é testado.

A mudança de tom começou nesta quinta-feira, 28, após a equipe de comunicação de Meirelles concluir que, para crescer nas pesquisas e deixar o solitário dígito de 1%, ele precisa "surpreender", criar fatos políticos e chamar a atenção. O ataque aos adversários Jair Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT) faz parte da estratégia. A etapa seguinte será explorar a "herança" de Lula.

A ideia é destacar que Meirelles foi presidente do Banco Central nos dois mandatos do petista (2003 a 2010). Enquanto a defesa de Temer aparece nas pesquisas como um "fardo", a vinculação com Lula é vista como "trunfo". O ex-ministro faz questão, porém, de separar Lula da presidente cassada Dilma Rousseff.

Meirelles culpa Dilma por agravamento da crise

Na noite desta sexta-feira, 29, em reunião com empresários do Distrito Federal, Meirelles culpou Dilma pelo agravamento da crise. Ao criticar Bolsonaro e Ciro, sob o argumento de que "há candidatos que desejam acabar com o teto de gastos", ele deu uma estocada na petista.

"Isso me lembra de uma reunião de 2006, na qual a então chefe da Casa Civil (do governo Lula) fez uma afirmação impressionante. Ela disse: 'Despesa pública é vida'", contou. Em seguida, não escondeu a divergência com Dilma: "Precisa ver para quem, não é?".

Ao Estado, Meirelles disse não haver dúvidas de que a política econômica da gestão Dilma foi muito diferente da adotada por Lula e por Temer. "Fui presidente do Banco Central no governo Lula e a economia cresceu. Saí, veio a Dilma e a economia entrou em recessão. Voltei com Temer e houve novo crescimento. É um fato."

Ideologia. Na prática, a campanha quer mostrar que o ex-chefe da equipe econômica é um homem tão "preparado" para tirar o Brasil da crise que está acima de ideologias e partidos. Não será uma tarefa simples, mesmo porque dirigentes do MDB não o liberaram da missão de defender o "legado" de Temer, reprovado por 79% dos eleitores, de acordo com pesquisa CNI/Ibope.

"É fácil defender as reformas e o que foi feito para o Brasil crescer e criar empregos. Não entro em questões individuais nem de Temer nem do Lula", afirmou Meirelles ao Estado.

Para o ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, o pré-candidato do MDB precisa agora falar mais para a opinião pública. "Ele foi chamado para tirar o Brasil de uma situação de crise, assim como havia sido chamado pelo Lula quando a situação era gravíssima. E ele não fugiu do chamamento", insistiu.

Em carta divulgada nas redes sociais, Meirelles diz que nunca aceitou a divisão do País. "Atendi ao convite de Lula e tenho orgulho (...) de que meu trabalho naquele período possibilitou que tantas pessoas saíssem da pobreza rumo à classe média", escreveu o ex-titular da Fazenda.

O figurino que o MDB quer vestir em Meirelles, a 99 dias da eleição, é o de candidato de centro com bom trânsito em várias alas, "equilíbrio" e "pulso firme" para apagar incêndios. Não sem motivo a campanha é ancorada pelo mote #ChamaOMeirelles. O problema é que, ao contrário do que ele próprio previa, a economia não reagiu como esperado e o desemprego continua alto.

A manutenção do ex-ministro no páreo depende agora do seu desempenho. A portas fechadas, dirigentes do MDB observam que Meirelles somente será levado à convenção - prevista para o fim de julho ou início de agosto - se tiver potencial para se tornar competitivo.

A preocupação do Planalto e da cúpula do MDB é hoje menos com resistências internas e mais com a falta de protagonismo de Meirelles na cena política. Se o quadro não mudar, a tendência do MDB será a de não apresentar chapa própria e liberar arranjos regionais. / COLABORARAM JULIA LINDNER e ANNE WARTH

Estadão
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