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Eleitores votam com expectativa 'plebiscito' no 2º turno

Próxima etapa da eleição, se houver, tende a ser "petismo x antipetismo"

7 out 2018 - 08h38
(atualizado às 09h30)
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Marcada por turbulências que variaram da expectativa em torno de decisões judiciais sobre a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ataque a faca contra o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, a eleição presidencial de 2018 chega ao primeiro turno neste domingo com a expectativa de levar à rodada decisiva de votação um duelo entre petismo e antipetismo.

Diante de uma polarização que só fez acirrar nos últimos meses, mais de 147 milhões de eleitores estão aptos a votar nos 5.570 municípios do país e devem dar a Bolsonaro a maior votação entre os postulantes ao Palácio do Planalto, seguido pelo petista Fernando Haddad, que substituiu Lula após o ex-presidente ter a candidatura barrada pela Lei da Ficha Limpa, de acordo com as pesquisas de intenção de voto.

Eleitores fazem fila para votar em seção eleitoral na Rocinha, no Rio de Janeiro
Eleitores fazem fila para votar em seção eleitoral na Rocinha, no Rio de Janeiro
Foto: Sergio Moraes / Reuters

Levantamento do Datafolha divulgado no sábado mostrou Bolsonaro com 40% dos votos válidos, seguido por Haddad com 25%. Sondagem do Ibope, também divulgada na véspera do pleito, colocou o candidato do PSL com 41% dos votos válidos, enquanto o petista somou os mesmos 25% apontados pelo Datafolha.

Mais atrás, Ciro Gomes, do PDT, teve 15% no Datafolha e 13% no Ibope, enquanto o tucano Geraldo Alckmin somou 8% dos votos válidos em ambos institutos.

Confirmado o cenário apontado pelos institutos de pesquisa, Bolsonaro e Haddad deverão fazer um segundo turno plebiscitário, na avaliação de analistas. De um lado o petismo manifesto na figura de Lula e representado pelo ex-prefeito de São Paulo Haddad. De outro, o antipetismo, até 2014 encarnado pelo PSDB, mas que agora tem no ex-capitão do Exército Bolsonaro seu maior expoente.

"A principal mudança de 2018 é a alteração no antipetismo. O antipetismo que se chamou PSDB de 1994 a 2014 passou a se chamar Jair Bolsonaro", disse o analista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria.

O antagonismo ao PT, partido que venceu as quatro últimas eleições presidenciais, tem sido um dos eixos centrais do discurso de Bolsonaro. Durante a campanha, em evento no Acre, ele sugeriu "fuzilar a petralhada" do Estado, enquanto simulava uma metralhadora com um tripé de câmera de vídeo.

No sábado, em vídeo divulgado em suas redes sociais, prometeu "curar" lulistas com trabalho.

Mas não só de antipetismo vive o caldo de cultura que ajuda a explicar a ascensão de Bolsonaro. Na visão de analistas, o "divórcio" entre a classe política e a esmagadora maioria da sociedade e um governo mal avaliado também colaboraram para o crescimento do candidato do PSL, que tem incentivado o voto útil dos contrários ao PT para tentar conseguir eleger-se já neste domingo.

Haddad, por sua vez, entrou tardiamente na campanha, somente em 11 de setembro, após Lula ter sua candidatura barrada. Desde então, viu sua intenção de voto dar um salto nas pesquisas, movimento que foi acompanhado pela alta da sua rejeição. As duas altas são explicadas pela transferência do capital político de Lula, figura amada e odiada em intensidades similares na política brasileira.

Batalha de rejeições

De acordo com as pesquisas, e confirmado um segundo turno entre Haddad e Bolsonaro, o ex-capitão e o petista deverão protagonizar uma eleição entre dois nomes com elevada rejeição entre o eleitorado --Bolsonaro é rejeitado por 44% no Datafolha e 43% no Ibope, e Haddad por 41% no Datafolha e 36% no Ibope.

"Muito provavelmente nós vamos ter uma eleição de segundo turno que vai estar muito mais marcada por elementos negativos --quer dizer, Haddad tentando desconstruir Bolsonaro e Bolsonaro tentando desconstruir Haddad-- do que de fato por uma lógica de valores positivos", disse o cientista político Creomar de Souza, da Universidade Católica de Brasília.

Haddad não centrou fogo em Bolsonaro durante a maior parte da campanha, deixando essa tarefa para seus adversários, mas com o crescimento do candidato do PSL na reta final, começou, ainda nos últimos dias da campanha de primeiro turno, a dar o tom do que devem ser as próximas três semanas até o segundo turno, marcado para 28 de outubro.

Na sexta-feira, Haddad acusou diretamente Bolsonaro pela enxurrada de notícias falsas que têm sido direcionadas à campanha do PT.

Já no sábado, véspera da eleição, Haddad disse que seus adversários querem que Bolsonaro vença no primeiro turno pois acreditam que o ex-capitão "derrete" se tiver que debater, e afirmou que o projeto defendido pelo presidenciável do PSL deixaria os eleitores com saudades do governo do presidente Michel Temer (MDB).

Esfaqueado em 6 de setembro e hospitalizado por 23 dias, período em que passou por duas cirurgias de emergência, Bolsonaro participou de apenas dois debates televisivos, ambos realizados antes de Haddad subir à cabeça de chapa petista.

Os dois prováveis adversários no segundo turno ainda não duelaram frente a frente, já que o candidato do PSL não compareceu aos dois encontros realizados após receber alta, alegando recomendação médica.

"Nossa expectativa é de debate olho no olho, frente a frente, em vez dele usar a rede social para ofender e difamar", disse Haddad na sexta.

Premissas relativizadas

Diante de um cenário altamente polarizado, os demais postulantes ao Planalto não foram capazes --em se confirmando o cenário apontado pelas pesquisas-- de romper esta tendências, mesmo com alguns deles tendo à disposição instrumentos de campanha que foram cruciais em disputas anteriores.

Alckmin articulou a maior coligação, que lhe deu quase metade do tempo de propaganda eleitoral no rádio e na televisão. Henrique Meirelles (MDB) financiou sua própria campanha, após a mudança nas regras de financiamento de campanha. Nenhum dos dois conseguiu sequer ameaçar fazer frente a Bolsonaro, que teve 8 segundos na TV e uma campanha focada nas redes sociais.

Outros candidatos, mais identificados com a centro-esquerda --casos de Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede)-- não conseguiram, ao menos até a véspera do pleito, atrair o eleitorado de Lula depois da entrada oficial de Haddad na disputa.

"Alguma premissas que a gente tinha quase como cláusulas pétreas da eleição foram relativizadas. Mas é relativamente cedo para a gente ignorar o poder, a importância de algumas delas", disse o analista Danilo Gennari, sócio da Distrito Relações Governamentais em Brasília, argumentando que a dinâmica da eleição presidencial não se reproduziu da mesma maneira em disputas majoritárias estaduais.

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