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Existe algum órgão que ainda não pode ser transplantado?

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Em um mundo de novas tecnologias e facilidades, os transplantes estão cada vez mais acessíveis na medicina. Mas será que todos os órgãos do corpo humano já podem ser transplantados? Pode-se dizer que o único que ainda não é possível é o cérebro. Será que conseguiremos passar o cérebro de uma pessoa para outra?

Dallas Wiens antes (esq.) e após o transplante completo de rosto realizado em Boston em maio de 2011. Com o avanço da medicina, temos capacidade transplantar praticamente qualquer parte do corpo. Para médico do Hospital das Clínicas de Porto Alegre, a capacidade da medicina atual são não permite tocar no cérebro. E nem permitirá tão cedo
Dallas Wiens antes (esq.) e após o transplante completo de rosto realizado em Boston em maio de 2011. Com o avanço da medicina, temos capacidade transplantar praticamente qualquer parte do corpo. Para médico do Hospital das Clínicas de Porto Alegre, a capacidade da medicina atual são não permite tocar no cérebro. E nem permitirá tão cedo
Foto: Reuters

Para o chefe do Serviço de Imunologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Luiz Fernando Jobim, o cérebro é o grande órgão que nunca foi e não vai ser tão cedo transplantado. "É muito complexo e tem toda a parte nervosa, que dificilmente se conseguirá conectar com o resto do corpo", afirma.

Neste ano, Dmitry Itskov, um bilionário russo, anunciou um plano megalômano de tentar implantar um cérebro em um robô. Segundo Luiz Fernando Jobim, o plano não passa de ficção científica. "Não existe nem tentativas para isso", disse Jobim sobre o processo de transplante de cérebro.

Mas, mesmo para os casos tradicionais, esse tipo de cirurgia não é tão simples. O transplante de medula óssea, por exemplo, Jobim considera o mais complexo. "Talvez seja o mais fácil de realizar, por ser praticamente uma transfusão de sangue, mas precisamos que o doador e o receptor sejam geneticamente idênticos, ou com uma diferença muito pequena na compatibilidade HLA (genética)", afirma o especialista. "Não podemos ter grandes diferenças, pois a medula óssea transplantada vai rejeitar o paciente, ao contrário do que acontece no rim, que o paciente rejeita o rim. No transplante, o enxerto é o que rejeita o hospedeiro".

A evolução
Jobim desta que o grande marco na área (depois de iniciados os transplantes) foi a descoberta do sistema genético HLA (sigla em inglês para antígenos leucocitários humanos), por Jean Dausset - que levou um Nobel pelo feito -, que permite descobrir o nível de compatibilidade entre órgão e paciente. "Isso foi bem no início, Eles observaram que a genética era importante, que a barreira era imunogenética."

O médico destaca também o uso da ciclosporina A, um imunossupressor. "Antes dela, só se transplantavam os rins, pois usavam a cortisona e um imunossupressor de primeira geração, mas não existia a ciclosporina A. Quando fizeram o primeiro transplante de coração em São Paulo, não deu certo, pois foi na era pré-ciclosporina. Nenhum teve sucesso. O professor Ivo Nesralla (presidente do instituto de cardiologia do RS) fez o primeiro transplante de coração de sucesso no Brasil, logo que a ciclosporina A foi introduzida. Após isso vieram outros transplantes, como de fígado."

E os desafios para os médicos hoje? Jobim acredita que existam dois principais: melhorar os imunossupressores e, principalmente, aumentar o número de doadores. " Os transplantes estão indo bem, o maior desafio é conseguir mais doador. Eles são limitados em todos os países, em todo lugar falta doador. Esse é o maior desafio".

Transplante de rosto - qual é o risco?

Nos últimos anos, tem sido cada vez mais comum o transplante de rosto e de membros. Mas, para o médico de Porto Alegre, eles apresentam um risco maior. "Órgão mais imunogênico é a pele. Dificilmente você consegue fazer transplante de pele, a não ser que você use uma imunossupressão. As pessoas hoje em dia que fazem esse transplante de face estão encharcadas de imunossupressores. São iniciativas muito pro lado personalista (...) mas a gente sabe que eles estão se perguntando 'será que vale a pena? Será que não tem uma solução plástica?' Eles estão com a imunossupressão descomunal, pois tem pele junto, é muito imunogênico. Só o futuro vai nos dizer se essas coisas poderão ser continuadas, com a melhora da imunossupressão."

Fonte: Terra
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