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Cristóvão Colombo e a busca pela Cidade do Céu

10 jun 2014 - 13h24
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Cristóvão Colombo e a busca pela Cidade do Céu Voltaire Schilling A ilha que hoje abriga duas repúblicas do Mar das Caraíbas, a do Haiti e a de Santo Domingo, foi no passado, na época do Descobrimento, confundida por Cristóvão Colombo como um portal para chegar à Quinsai, a fantástica Cidade do Céu. Admirador de Marco Polo, em quem se inspirou, o navegador genovês tinha certeza que depois de aprumar suas caravelas em direção ao Oceano Atlântico terá chegado aos fundões da Ásia, local fantástico que abrigava fortunas incalculáveis e cuja capital era a sede do fabuloso império do Grande Cã.

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O relato de Marco Polo

"Diziam os índios que nessa ilha havia minas de ouro e pérolas, e o Almirante viu um local propício para elas... e entendia o Almirante que ali corriam as naves do Grande Cã, e de grande porte... que estas terras são boas e férteis, as desta ilha Espanhola [hoje Santo Domingo], que não há ninguém capaz de exprimir em palavras e que só pode acreditar quem já viu".

Diário de Viagem de Colombo, outubro/dezembro de 1492

Marco Polo, impressionado, assegurou que Quinsai era "a mais bela e nobre cidade do mundo". Situada nos confins da Ásia, tudo nela era imponente e magnífico, um colosso de 160 quilômetros de circunferência, servida por 12 mil pontes e por incontáveis arcos, sob os quais desfilavam embarcações vindas de todos os cantos do império do Grande Cã. Na Cidade do Céu, como a chamavam, via-se um formigueiro humano com 12 mil armazéns e oficinas, nas quais cada mestre dispunha de 30 a 40 auxiliares, atendendo a um ativo mercado onde circulava papel-moeda controlado por ricaços que viviam à forra como se fossem reis.

Ao redor de um grande lago, seguiu Marco Polo no seu relato, situavam-se as casas luxuosas e ainda dois palácios esplêndidos construídos para celebrar bodas e demais festejos, tudo muito bem protegido por sentinelas. Nas ruas não se via lama, visto que lajes e ladrilhos cozidos, cobrindo o chão, tornavam o trânsito fácil em direção a 3 mil saunas por lá espalhadas. Nelas, os seus felizes habitantes, separados por sexos, refaziam-se com banhos tépidos. A capital do Canato se encontrava a certa distância do mar, ligada a ele por um rio muito largo, no qual navegavam barcos abarrotados com o que havia de bom.

Polo inspira Colombo

Essa descrição de Quinsai, encontrada em O Livro das Maravilhas, de Marco Polo, é que atiçou a imaginação de Cristóvão Colombo. Como seu antepassado famoso em toda a Europa, também ele queria encontrar a Cidade do Céu. Se um mercador veneziano, no longínquo século 13, conseguira desbravar as entranhas do misterioso Oriente, agora era a vez de um marinheiro genovês lançar-se na mesma aventura.

Navegando para o Ocidente, ele conseguiria repetir o mesmo destino de Polo chegando a Cipango e a Cathay pelo outro lado do mundo. Isso explica o périplo incansável dele pelas ilhas do Mar das Caraíbas, desde que viu a primeira delas em 12 de outubro de 1492.

Colombo, desde o começo – asseguraram Herrera e Gomara, historiadores da Conquista – estava atrás daquele rio fabuloso que o levaria aos interiores da afamada Quinsai, pois entendia que aqueles arquipélagos encontrados pela frente eram as sentinelas geológicas dos subúrbios do reino do Grande Cã, as guardas avançadas da Cidade do Céu. Por isso, os espanhóis, adentrando no Mar das Caraíbas antes de chamarem a bela ilha de La Española, hoje Santo Domingo, denominaram-na de Quisquela, uma versão acastelhanada da Cidade do Céu. Foi por lá que tudo teve o seu princípio.

A primeira de tudo o mais

É na ilha de Santo Domingo (hoje subdividida entre a República Dominicana e o Haiti) que se encontra a primeira capela, a primeira catedral, a primeira ferragem e o primeiro assentamento europeu no Novo Mundo. Num lugar chamado depois de Navidad, hoje Cabo Haitiano, a caravela Santa Maria, justo na noite de natal de 1492, naufragou ao chocar-se com um recife, fazendo com que Colombo aproveitasse o bivaque forçado naquelas praias para ali construir um vilarejo. Ali deixou 39 dos seus marinheiros, que pouco tempo depois foram exterminados pela tribo do cacique Caonabo. Daquele ponto, enviou vários emissários seus para o interior da ilha, levando cartas de apresentação dos reis da Espanha dirigidas ao Cã, mas nunca encontraram ninguém naquelas paragens que representasse o soberano mongol.

Nos anos seguintes, com a presença cada vez maior dos colonos vindo da Espanha, o Reino dos Tainos, os habitantes primitivos de La Española, uns duzentos mil deles, foi dizimado pela pólvora, pela espada e pelos germes vindos de fora. Menos de trinta anos após a chegada dos brancos, a guerra de extermínio, a fome e a varíola, fizeram um estrago irreparável entre eles.

Os esforços de Colombo para encontrar a quase divina sede do Grande Cã foram um desperdício de tempo. Nunca nenhum índio, xamã ou cacique, daquelas ilhas recém-descobertas havia ouvido falar na Cidade do Céu, pois tudo não passara de um grande engano do Almirante. Os nativos, por igual, se equivocaram quando viram aquela gente estranha, de barba e cheiro forte, dando-lhes guizos e miçangas, visto que, por ingenuidade, acreditaram que os espanhóis tinham descido do céu.

Professor Voltaire Schilling indica:

Cristóvão Colombo. Diários da Descoberta da América, Porto Alegre, L&PM.

Marco Polo. O Livro das Maravilhas, Porto Alegre, L&PM.

Fonte: Especial para Terra
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