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A Rússia Soviética Etapas III: O Grande Terror

15 dez 2017 - 12h00
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O Grande Terror (1936-1938)

Stalin como generalíssimo
Stalin como generalíssimo
Foto: Divulgação

Dois fatores principais conduziram a URSS à política do terrorismo de estado. O primeiro deles foi a ascensão de Adolf Hitler, na Alemanha, em janeiro de 1933, com sua determinação abertamente anticomunista; o segundo deu-se com o assassinato de Kirov, o líder stalinista de Leningrado, em 1934. O impacto da morte dele foi a espoleta que deflagrou o expurgo e extermínio de grande parte da liderança comunista, acusada de todo o tipo de impropriedade.

A URSS deste tempo havia se instituído como um Estado Paranóico. Stalin aproveitou a fatídica agressão ao seu lugar-tenente como um sinal que levaria seus adversários ao assassinato de outros integrantes do regime. O ato solitário de Nicolaievski, um comunista decepcionado, o sujeito que atirou em Kirov, como a ponta de uma grande conspiração que uniu os maiores absurdos. Comunistas de origem judaica foram apontados como colaboradores do nazismo, militantes fidelíssimos foram acusados de serem agentes ingleses, alemães ou japoneses, de acordo com a conveniência dos promotores. Um tribunal similar ao inquisitorial, aberto em Moscou, em 1936, sob a magistratura de Vischinski, para satisfazer o desejo de punição da Bolchaya tchistka (a Grande Purga), sentenciou a morte a maioria dos réus. Na relação dos banidos e executados encontravam-se ‘os velhos bolcheviques’, como Kamenev, Zinoviev, Bukharin, etc.

Os cinco marechais soviéticos, só dois sobreviveram
Os cinco marechais soviéticos, só dois sobreviveram
Foto: Divulgação

A campanha de extermínio da oposição, fosse ela qual fosse, atingiu não só os altos quadros da burocracia soviética (Piatakov), como os mais graduados oficiais das forças armadas (o marechal Tukhachevski) e a própria polícia política, a NKVD (Yezhov) que até então coordenara as prisões, as acusações falsas, e o extermínio dos caídos em desgraça.

Poetas, artistas e literatos tiveram a sua cota de perdas que atingiu dois mil deles (Isaac Babel, Ósip Mandelstam, etc.). Este último caíra em desgraça ao saberem da sua epigrama contra o secretário-geral

“Estamos vivendo, mas não podemos sentir a terra onde estamos, /A dez passos você não pode ouvir o que dizemos/ Mas se as pessoas querem falar /Elas devem mencionar o Caucasiano do Kremlin."

O braço assassino do regime alcançou inclusive os comunistas estrangeiros que, desde os anos de 1920-1930, haviam procurado asilo na URSS. Foram denunciados como ‘quinta coluna’, comungados com inimigos, traidores em potencial da causa soviética. Não deixa de ser menos absurda a perseguição aos oficiais soviéticos exatamente no momento em que a Alemanha Nazista, inimiga mortal do comunismo, se projetava para o Leste, com a absorção dos sudetos na Tchecoslováquia, e acelerava ainda mais seus preparativos de restauração da indústria bélica e do serviço militar obrigatório (o desterro ou extermínio de milhares de militares, estimados em 35 mil, serviu como um estímulo para Hitler invadir a URSS em 1941).

O ditador comunista explicava a seus próximos a estranha doutrina que apontava que a reação crescentemente hostil aumentava conforme o ‘socialismo avançava’. A resistência de amplos setores somente poderia ser quebrada com violência épica neutralizadora de qualquer insatisfação. A cada ano aprofundava a luta de classes e a tensão social daí decorrente.    

No final do macro-expurgo Stalin enfeixou por inteiro o poder soviético. Os que podiam lhe fazer oposição – ‘velhos bolcheviques’, burocratas do partido e militares - estavam presos ou mortos, Grupo ou facção alguma se interpôs frente às políticas por ele adotadas. Certamente que nenhum outro chefe de estado historicamente conhecido sequer empatou com a autoridade do vojd (o chefe) soviético.

(*) Os mais de 50 nomes que fizeram parte do Politburô entre 1919-1936, 55% deles foram executados ou morreram em campos de concentração (lager) que vieram a compor o GULAG (conjunto de campos de trabalhos forçados espalhados pela Rússia Ocidental e Asiática a partir de 1930). Na luta pela consolidação do poder, Stalin liquidou cerca de dois terços dos quadros do Partido Comunista da URSS e [ ao menos 5.000 oficiais do Exército acima da patente de major, 13 de 15 generais de cinco estrelas do Exército Vermelho e inúmeros civis, considerando-os todos "inimigos do povo”

Nos levantamentos investigados pela ação da NKVD (GUGB NKVD), de Outubro 1936 a Novembro de 1938, pelo menos 1.710.000 pessoas foram presas e 724.000 pessoas executadas.

Todavia historiadores ocidentais como Robert Conquest, Robert Service, Annie Kriegel, e outros, sobrelevaram as vítimas em 20 ou mais milhões de aprisionados ou mortos, Cifras que trazem um problema. Como numa população de um tanto mais do que 150 milhões de habitantes poderiam as perdas a chegar a tão elevado número? Praticamente a parte masculina teria sido desfalcada em quase sua metade.

O Arquipélago Gulag

A Administração Geral de Colônias de Trabalho Coletivo (GULAG), no ano de 1940. era composta por 53 campos, 425 colônias e 50 colônias juvenis tendo em cativeiro 1.668.200 presos, outros pesquisadores apontam para 3, 5 milhões (Alec Nove) e 2,3 milhões (V.N.Zeroskov).

As quatro torrentes de violência (de 1917 a 1944)

De 1917-18: ataque aos brancos contra-revolucionários e aos esquerdistas não-bolcheviques: mencheviques, social-revolucionários e anarquistas.

De 1929-32: coletivização da terra. Perseguição aos kulaks e camponeses que resistiam à perda das propriedades em função dos colcozes e solfkozes.

De 1936-38: processos de Moscou. Altos funcionários do partido, burocratas, militares e integrantes da GPU (polícia política), foram expurgados, responderam como réus nos tribunais de Moscou. Sentenciados ao desterro ou à morte.

De 1944-46: abrangeu aos povos minoritários acusados de colaboracionismo com os nazistas durante a invasão da URSS: tártaros, calmucos, tchetchenos e outros. Os prisioneiros soviéticos que retornaram da Alemanha foram acusados de covardia e falta de resistência ao inimigo invasor e condenados aos campos de concentração.

Fonte: Soljenitsin, A. – O Arquipélago Gulag. 

Fonte: Especial para Terra
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