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Fuvest aborda covid, uso da cloroquina e ditadura militar

Presença de temas mais atuais no exame destoa do que foi visto no Enem; vestibular da USP trouxe ainda questões sobre queimadas no Cerrado, desmatamento na Amazônia e fake news

12 dez 2021 - 22h14
(atualizado em 13/12/2021 às 07h21)
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Estudantes no campus da USP para prova da FUVEST, na cidade da São Paulo, SP, neste domingo, 12
Estudantes no campus da USP para prova da FUVEST, na cidade da São Paulo, SP, neste domingo, 12
Foto: Ronaldo Silva / Futura Press

Os estudantes que prestaram a primeira fase do vestibular da Universidade de São Paulo (USP) neste domingo, 12, se depararam com questões abordando a pandemia de covid-19 e os efeitos do uso indiscriminado da cloroquina. O medicamento foi incorporado, junto a outros remédios cuja ineficácia foi comprovada pela ciência, ao chamado 'kit covid'. A presença de temas considerados mais atuais na prova organizada pela Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest) destoa do que foi visto no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem),que usou questões mais antigas nesta edição.

Cerca de 110 mil pessoas se inscreveram na Fuvest 2022. Assim como na edição anterior, o vestibular seguiu com as medidas de segurança sanitária. O uso de máscaras de proteção, por exemplo, foi obrigatório. A abstenção da primeira fase foi de 13,7%, ante 13,2% no vestibular 2021. Na edição para ingresso em 2020, a última pré-pandemia, o indicador de ausentes havia sido de 7,9%.

Para Vinicius Beltrão, coordenador de Ensino e Inovações do SAS Plataforma de Educação, "a Fuvest deste ano trouxe temas bastante atuais, principalmente com relação à vacinação e também à questão pandêmica". Para o coordenador do SAS, as questões foram, além de tudo, "bastante interdisciplinares", exigindo o cruzamento de informações entre as áreas por parte dos estudantes. Ele explica que a pandemia foi representada nas questões tanto direta, quanto indiretamente.

Coordenadora pedagógica do Objetivo, Vera Lúcia Antunes entende que o vestibular da USP deste ano foi um exame "padrão Fuvest". "Foi uma prova inteligente, criativa, bem atualizada", avalia a coordenadora do Objetivo.

Na visão do gerente de Inteligência Educacional e Avaliações do Poliedro, Fernando Santo, a Fuvest 2022 pode ser definida como "atualizada e contextualizada", ao mesmo tempo em que foi tradicional em áreas como Física e Química. Para Santo, três são os principais recados transmitidos pelo vestibular da USP. "Vacina salva vidas, cloroquina pode matar e em 64 ocorreu ditadura militar no Brasil", diz.

"Sem perder a essência de um vestibular tradicional, ao manter a cobrança de temas clássicos da educação básica, a prova da Fuvest se mantém conectada à realidade dos estudantes", avalia o gerente do Poliedro. Ele coloca como um dos destaques o fato de o exame ter abordado a covid-19 de forma explícita em três das 90 questões.

A primeira foi uma de Geografia, em que houve a comparação entre o problema das enfermidades tropicais e a situação dos países de baixa renda. A pandemia, conforme o enunciado da questão, "ressaltou a importância das pesquisas científicas na descoberta, tratamento e controle de doenças tropicais negligenciadas, muitas delas recorrentes em diferentes países do mundo".

A segunda questão com um enunciado na mesma linha mesclou Geografia com Biologia ao associar a imunização completa com a queda na mortalidade na cidade de São Paulo. Foi destacado ainda o desafio de vacinar todos nas regiões com baixo índice de desenvolvimento humano (IDH) da cidade de São Paulo.

Por fim, houve uma terceira questão, desta vez de Matemática, em que foi apresentado aos estudantes uma análise gráfica da circulação de pessoas no Rio de Janeiro em resposta às medidas restritivas na cidade.

Para além dos casos em que a covid foi abordada de forma explícita, o gerente do Poliedro destaca que houve uma questão alertando sobre a possibilidade de anemia hemolítica em pessoas com deficiência na produção da enzima G6PD quando são expostas à primaquina e à cloroquina, remédio sem eficácia contra o coronavírus defendido pelo presidente Jair Bolsonaro.

O vestibular abordou ainda assuntos como as queimadas no Cerrado, o desmatamento na Amazônia e as diferenças entre homens e mulheres no tempo diário dedicado ao trabalho. A mancha de petróleo que apareceu no litoral brasileiro em 2019 foi outro assunto presente.

As fake news, além disso, também tiveram espaço na prova. "Tendemos a rejeitar fatos que ameaçam nosso senso de identidade e sempre buscar informações que confirmem nossas próprias crenças, seja por meio de memórias seletivas, leituras de fontes que estão do nosso lado ou mesmo interpretando os fatos de determinada maneira", diz o enunciado de uma das questões.

Na área da História, Santo destaca a presença de uma questão que explica sobre como a noção de ditadura pode mudar ao longo do tempo. Em uma das alternativas da pergunta, reforça o gerente do Poliedro, há um item reforçando que em 64 ocorreu ditadura militar no Brasil.

Em novembro, ao criticar o Enem, Bolsonaro disse que, se pudesse interferir no exame, ele teria mais questões "objetivas" e também sugeriu querer que o teste tivesse perguntas sobre a ditadura militar - mas sem discutir se o período foi ou não uma ditadura.

Enem deste ano não abordou temas mais atuais, como pandemia

Neste ano, o segundo dia de provas do Enem, que reúne os exames de Ciências da Natureza e Matemática, evidenciou o envelhecimento do banco de questões que compõem o teste. Não caíram temas mais atuais, como a pandemia de covid-19, e a prova se mostrou mais conteudista - com questões diretas, que exigiam do estudante fórmulas e menos interpretação.

Conforme apontado pelo Estadão, o Banco Nacional de Itens, onde ficam as questões selecionadas para fazer parte das provas do Enem, não foi atualizado em 2020 e 2021, por causa da pandemia. Esse foi um dos motivos para que a prova deste ano não tivesse mudanças significativas em relação aos anos anteriores.

Estadão
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