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SP planeja volta às particulares com rodízio de 1x na semana

'Estadão' analisou protocolos de retomada de 14 grandes colégios da capital paulista

10 set 2020 - 19h02
(atualizado às 19h40)
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Grandes escolas particulares da cidade de São Paulo pretendem voltar às aulas com todos os seus alunos em vez de escolher séries para serem priorizadas. Esses colégios vão usar o que ficou conhecido como esquema de "bolhas" ou "clusters" em outros países, em que as turmas são divididas em pequenos grupos e fazem rodízio dos dias em que estarão presencialmente. Dessa forma, em geral, os alunos acabarão indo apenas uma ou duas vezes por semana à escola e farão o restante do ensino remotamente em casa.

Vista da Escola Estadual João Turim em Curitiba (PR), nesta quarta-feira (19). O governo do Paraná e prefeitos do estado, discutem protocolo de retorno às aulas em uma reunião na terça (18). O foco da reunião foi a aplicação das medidas sanitárias em cada região. O retorno ainda não tem data definida e só acontecerá com avaliação da Secretaria da Saúde.
Vista da Escola Estadual João Turim em Curitiba (PR), nesta quarta-feira (19). O governo do Paraná e prefeitos do estado, discutem protocolo de retorno às aulas em uma reunião na terça (18). O foco da reunião foi a aplicação das medidas sanitárias em cada região. O retorno ainda não tem data definida e só acontecerá com avaliação da Secretaria da Saúde.
Foto: Eduardo Matysiak / Futura Press

A Prefeitura ainda não liberou a volta às aulas na capital e a decisão do prefeito Bruno Covas (PSDB) é esperada para a semana que vem. Profissionais das escolas passaram os últimos meses debruçados em logísticas - com altos gastos - para viabilizar a abertura e agora dizem temer que a cidade não autorize a volta. O Estadão analisou 14 protocolos de escolas particulares já prontos ou conversou com os responsáveis que finalizam os documentos para enviar aos pais de alunos. Todas elas se dizem prontas para abrir assim que for autorizado.

A regra do governo do Estado é a de que, na primeira etapa, devem voltar apenas 35% dos estudantes sem especificar como essa conta deve ser feita. A gestão João Doria (PSDB) prevê a retomada em 7 de outubro, mas prefeitos precisam autorizá-la. Desde essa terça-feira, 8, o governo paulista liberou a reabertura de escolas para a oferta de atividades extracurriculares, como aulas de reforço e, segundo o Estado, 128 cidades deram aval para iniciar a retomada de atividades presenciais.

A ideia das bolhas é a de que os alunos tenham contato com um grupo menor de colegas, o que diminui as chances de transmissão da covid-19 e controla melhor se ela eventualmente acontecer. Países como Alemanha e Inglaterra usaram o modelo. Muitas das escolas tomaram essa decisão com base em orientação dos hospitais Albert Einstein e Sírio Libanês, que cobram até R$ 250 mil para assessorar instituições neste momento de pandemia. A recomendação é que esses pequenos grupos façam tudo junto e separados dos outros, como recreio, alimentação e aulas. Em muitas escolas, as carteiras até serão identificadas com os nomes dos estudantes.

Alguns pais, principalmente os que discordam da volta este ano, acreditam que não vale a pena o filho retornar para ir poucas vezes na semana. "A gente precisa começar. Para chegar a um modelo completo, que todos desejamos, temos de passar por isso", diz a diretora pedagógica do Colégio Santa Cruz, Débora Vaz. "Faz parte do processo de aprendizagem, de como passar a viver juntos numa experiência segura. Nós - educadores, estudantes e família - estamos todos aprendendo", completa.

Especialistas em educação e o secretário estadual da Educação, Rossieli Soares, têm defendido que mesmo apenas um dia presencialmente na escola faz diferença para o estudante, principalmente por causa do vínculo com o professor, essencial na aprendizagem. No Santa Cruz, o protocolo prevê que crianças da educação infantil (creche e pré-escola) até o 1º ano do fundamental irão duas vezes por semana; os de 2º ano em diante, apenas uma vez, nesta primeira etapa.

Segundo o plano do governo do Estado, a quantidade de alunos nas escolas aumentará para 70% do total na segunda etapa. Ela ocorre quando 60% da população de São Paulo estiver em áreas que ficaram por 14 dias na fase verde (a segunda menos restritiva no plano estadual de flexibilização da quarentena, que tem cinco etapas). Neste momento, apenas duas regiões estão na fase laranja e o restante, na amarela (uma anterior à verde). Para uma mãe do Santa Cruz que pediu para não ter o nome divulgado, não "vale a pena colocar toda uma comunidade escolar em risco, professores, profissionais de limpeza, porteiros" para que a filha vá poucas vezes ao colégio até o fim do ano.

Pesquisas de opinião indicam que cerca de 70% dos pais não querem a volta às aulas agora. Todas as escolas estão fazendo também sucessivas consultas próprias e elaborando seus planos de volta levando em conta a quantidade de alunos cujos pais autorizarão a ida ao colégio. Nos levantamentos internos, em geral, entre 30% e 50% das famílias têm respondido que mandariam os filhos. Há uma percepção entre os diretores de que esses números podem aumentar com a volta efetivamente autorizada pela Prefeitura.

Divisão de turma

Na matemática feita pelo Colégio Oswald de Andrade, na zona oeste, as salas serão divididas em três turmas, por exemplo 1º ano C (grupo 1), 1º ano C (grupo 2) e 1º ano C (grupo 3). Em uma semana, o grupo 1 vai na segunda-feira à escola, o 2, na terça, e assim sucessivamente, começando novamente a sequência na quinta-feira e seguindo na próxima semana. O mesmo vai ser feito em todas as séries, considerando o número de alunos cujos pais permitiram a volta. "A ideia é ser democrático e trazer todo mundo. Não há como justificar para o pai que um ano é mais importante que o outro", diz Claudio Giardino, diretor executivo do grupo OEP, que inclui os colégios Oswald, Elvira Brandão e Piaget.

Na Escola Viva, na zona sul da capital, a decisão foi a mesma. "Até pensamos em priorizar o 3º do ensino médio, que não terá mais um ano, mas entendemos que voltar para a escola é um direito de todos, todo mundo que quiser vai poder voltar", diz a diretora Camilla Schiavo. Outras instituições ouvidas pelo Estadão com protocolos semelhantes são Colégio Dante Alighieri, Porto Seguro, Pentágono, Gracinha, Miguel de Cervantes, Escola da Vila e Projeto Vida.

No Colégio Bandeirantes, todos os alunos voltarão na 1ª etapa, mas algumas séries irão numa semana durante quatro dias e depois ficarão a outra semana em casa, quando vão outras séries. A Escola Luminova foi a única das ouvidas que escolheu retomar na primeira etapa apenas com educação infantil, 1º e 2º anos "por serem séries de alfabetização e quem mais precisa desse tipo de atividade neste momento", diz o diretor acadêmico Luizinho Magalhães. O restante da escola permanecerá com ensino online.

O coordenador do Pronto Atendimento Pediátrico e médico da saúde escolar do Sírio Libanês, Ricardo Luiz Affonso Fonseca, explica que o esquema de "clusters" ou "bolhas" encara o grupo como se fosse um indivíduo. "Um grupo de cinco crianças usa o parquinho e depois você higieniza o local para o próximo grupo de cinco crianças e depois para próximo. Não precisa higienizar para cada criança que usa", diz. Se houver contaminação de algum aluno do grupo, todos precisam fazer quarentena.

Os professores, no entanto, principalmente da educação infantil e fundamental 1 (1º ao 5º ano), que são polivalentes, poderão ter contato com todos os pequenos grupos. "A professora é adulta, tem capacidade maior de controlar o distanciamento, foi treinada para os protocolos, então o risco é menor", explica a diretora de Desenvolvimento de Projetos e Consultoria do Hospital Albert Einstein, Anarita Buffe.

Bibliotecas vão adotar quarentena de livros

Outras medidas que serão adotadas pelas escolas consultadas, algumas comuns a todas, outras não, incluem quarentena de livros e exigência de cinco máscaras para cada aluno. As bibliotecas, em geral, permanecerão abertas, mas não será mais possível andar pelos corredores das prateleiras, tocando os livros, para escolher o preferido. Eles terão de ser pedidos para uma funcionária ou online e, depois de devolvidos, terão de ficar dias parados antes de serem retirados novamente. Isso acontecerá no Pentágono e Oswald, por exemplo.

No Dante e no Santa Cruz, as crianças deverão levar cinco máscaras cada para fazer três trocas durante o dia. "Uma quando chega, uma no lanche, uma na saída", informa o protocolo do Dante. Outras escolas pedem uma quantidade menor, mas há a divergência sobre a idade em que as máscaras serão exigidas. A Sociedade Brasileira de Pediatria pede que o uso seja feito a partir de 2 anos, mas há colégios que só vão recomendar máscaras para crianças acima de 5 anos.

A refeição na escola também vai ser diferente em cada uma delas. Em algumas, as cantinas estarão fechadas, em outras, vão funcionar em esquema de delivery, como na Luminova. Outras permitem alimentação só na sala de aula. No Bandeirantes, o tempo no colégio foi reduzido e os alunos não poderão comer na escola. "Esse momento da alimentação é muito crítico, todo mundo tira a máscara, fica mais exposto", explica a diretora pedagógica do Band, Mayra Lora.

Há ainda recomendação para as crianças pequenas e professoras tirarem os sapatos assim que entrarem na sala de aula, como na Projeto Vida, na zona norte. Alunos maiores terão que levar poucos materiais na mochila e não compartilhar nada com colegas. Em comum, as 14 escolas consultadas vão medir temperatura de todos ao entrar, exigir distanciamento de 1,5 metro, sinalizar os caminhos para os alunos caminharem dentro do colégio e fazer rígida higienização do espaço e das mãos de todos.

Estadão
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