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Com a seca, volta às aulas é apreensiva em São Paulo

Pais ouvidos pelo Terra temem que as escolas cancelem aulas ou serviços, principalmente a merenda, por conta da falta d'água

2 fev 2015 - 15h19
(atualizado às 17h46)
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Por conta de um poço artesanal, colégio Dante Alighieri não chegou a ter redução na pressão de água
Por conta de um poço artesanal, colégio Dante Alighieri não chegou a ter redução na pressão de água
Foto: Elisa Feres / Terra

Mesmo com as últimas chuvas, o nível do Sistema Cantareira, que abastece grande parte da cidade de São Paulo, mantém capacidade em torno de 5%. Nesta segunda-feira, quando começaram as aulas da rede estadual, o Terra percorreu algumas instituições de ensino públicas e privadas da capital e ouviu relatos de preocupação de pais que temem que os efeitos desta seca cheguem ainda mais fortes às escolas de seus filhos.

A ajudante de cozinha Vânia Pereira de Sousa, de 34 anos, tem uma filha e uma sobrinha, de 9 e 6 anos, respectivamente, que estudam na Escola Estadual Prudente de Moraes, no Bom Retiro. De acordo com ela, o local passou alguns dias sem água em novembro do ano passado. Na ocasião, os pais foram informados de que as crianças poderiam faltar. Se preferissem ir, não teriam como usar descarga no banheiro nem comer merenda.

"As aulas começaram hoje de manhã e ainda não deram nenhuma orientação para a gente. Parece que a escola está com água normalmente. Mas ficamos apreensivos. Temos que esperar para ver se não vai faltar de novo", disse ela à reportagem.

Vânia mora com a família no bairro da República. Em seu prédio, o abastecimento está sendo cortado todas as noites há alguns meses.

A autônoma Claudia Ferreira, 36, também tem uma filha, 7, matriculada na mesma escola. Ela contou que a situação ali não é tão grave, pois o espaço possui caixas que pegam água da chuva para uso. "A única coisa que já nos pediram foi para trazer garrafinha com água de casa para as crianças beberem", afirmou.

Em sua residência, na Luz, a crise hídrica chegou há poucos dias; o abastecimento tem sido cortado diariamente das 19h às 8h. "Como já sabemos que ficaremos sem, enchemos baldes e garrafas para reservar água para as noites", disse.

<p>A ajudante de cozinha Vânia Pereira de Sousa, que tem uma filha e uma sobrinha matriculadas na Escola Estadual Prudente de Moraes, em São Paulo</p>
A ajudante de cozinha Vânia Pereira de Sousa, que tem uma filha e uma sobrinha matriculadas na Escola Estadual Prudente de Moraes, em São Paulo
Foto: Elisa Feres / Terra

Em muitas instituições particulares, porém, a crise parece não ter chegado. Um dos colégios que menos tem sofrido é o Dante Alighieri, que fica na Alameda Jaú, Cerqueira César, onde toda a água utilizada vem de um poço artesiano local. Por conta da fonte própria, ele não chegou a ter redução na pressão. Além disso, a direção está desenvolvendo uma série de ações para conscientizar seus estudantes sobre o uso racional.

"Acho importante a escola desenvolver este tipo de ação. Ela deve criar campanhas menos superficiais, que não falem apenas 'desligue a torneira', mas ensine os alunos de onde vem a água, como ela é captada, porque árvores no espaço urbano ajudam. Nas escolas privadas isso costuma ser feito, nas públicas sabemos que não é tão fácil. Como você vai ensinar uma criança que não tem nem saneamento básico a guardar água? A discussão, principalmente aqui, tem que ser maior", afirmou a advogada e ambientalista Patrizia Tommasini, 47 anos, cujos três filhos (de 14, 11 e 8 anos) estudam no colégio.

Posicionamento da escola

Liete Ferraz e Miriam Ida Koiffman, diretora e vice da Escola Estadual Prudente de Moraes, receberam o Terra para uma visita e disseram que o local nunca passou por problemas de abastecimento. Segundo elas, houve falha em uma bomba da caixa d'água apenas em um único dia do ano passado, mas a questão foi rapidamente resolvida. 

"Uma das placas da bomba quebrou, então dissemos aos pais que as crianças não precisavam vir, que a aula poderia ser reposta posteriormente. Mas foi só isso. Além de termos uma caixa com capacidade grande, temos um sistema que capta água da chuva. E, mesmo se eventualmente não chovesse e faltasse água da caixa e da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), poderíamos solicitar a compra de galões. Não há motivo para tanta preocupação", explicou Miriam. 

<p>Coordenação local pediu para que uma empresa regule o jato das torneiras dos bebedouros para deixá-los mais fracos para evitar desperdício</p>
Coordenação local pediu para que uma empresa regule o jato das torneiras dos bebedouros para deixá-los mais fracos para evitar desperdício
Foto: Elisa Feres / Terra

Mesmo assim, de acordo com elas, algumas medidas estão sendo tomadas para evitar o desperdício. A coordenação pediu para que uma empresa regule o jato das torneiras dos bebedouros para deixá-los mais fracos e a ida dos alunos ao banheiro está sendo mais controlada, por exemplo.

"Fazemos tudo que podemos aqui. Mas muitas dessas crianças moram em ocupações pela cidade. Elas não têm estrutura nenhuma, as casas são cheias de 'gambiarras' em elétrica e hidráulica. Consicentizá-las é um trabalho difícil. Tem aluno que mora até no lixão! Como você vai falar para ele que tem que tomar banho e escovar o dente economizando água? Muitas vezes eles nem conseguem fazer isso fora daqui. Essa parte social não temos como resolver", completou a vice-diretora. 

Nota do Governo Estadual

A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo disse, em nota, que, assim como a Prudente de Moraes, outras 10 escolas da rede já receberam modelos de captação de água da chuva. Ele funciona da seguinte maneira: um sistema construído na cobertura dos prédios escolares recolhe a água e, por meio de canos subterrâneos, a manda direto para um filtro de impurezas. Em seguida, ela, agora filtrada, é bombeada para distribuição e utilização.

Essa água costuma ser usada principalmente nos banheiros e lavatórios. Ainda segundo o comunicado, o sistema deverá ser implantado em mais de 100 unidades de ensino estaduais. 

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Fonte: Terra
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