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Sem dancinha: Profissionais bombam nas redes com conteúdo especializado

Redes sociais viram vitrine e ajudam profissionais a alcançar novos clientes e expandir oportunidades no mercado

22 set 2022 - 13h10
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Qual é a imagem que vem à sua cabeça quando pensa em um influenciador digital? Provavelmente, você imagina algum blogueiro famoso com milhares de seguidores que recebe muito dinheiro para divulgar produtos e serviços nas redes. Esse estereótipo realmente existe, mas profissionais como médicos, psicólogos e advogados também têm encontrado na internet um caminho para aumentar a credibilidade, conquistar novos clientes e diversificar as fontes de renda.

Para além do alcance, se aventurar no mundo das redes sociais pode abrir portas para novas oportunidades. Os infoprodutos, como cursos e e-books, por exemplo, são recorrentemente utilizados por esses profissionais por ser uma forma simples e barata de gerar renda a partir do conhecimento especializado.

"Há centenas de possibilidades de criação, basta encontrar o que você pode ensinar, replicar o método e desenvolver esse produto", diz Fátima Pissarra, diretora da Mynd8. Ela afirma, no entanto, que produção de conteúdo não é sinônimo de dancinha nas redes sociais, é trabalho, demanda disciplina e seriedade.

Segundo Fátima, para gerar engajamento na rede, o primeiro passo é estruturar esse objetivo como parte da estratégia de negócio. É importante analisar o espaço, a concorrência e buscar entender se há demanda. "A internet não é terra de ninguém, você não coloca qualquer coisa e espera dar certo. É preciso buscar o melhor caminho para que seja mais fácil de ser efetivo", explica.

Hoje, o Brasil é o segundo país com maior número de influenciadores no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, segundo dados da Nielsen. No total, são 13 milhões de pessoas com mais de 1 mil seguidores. Os mais ativos, com mais de 10 mil seguidores, somam cerca de 500 mil pessoas.

A abertura desse mercado, que ainda não tem regulamentação, surgiu com o marketing digital e o maior acesso da população à internet e às redes sociais. Com milhares de seguidores, esses profissionais têm o poder de influenciar de forma simultânea hábitos de consumo, de saúde e estilo de vida - o que encanta crianças e adolescentes que sonham em se tornar um youtuber, tiktoker ou instagrammer. Para se ter ideia, estimativas da Business Insider mostram que o setor deve movimentar neste ano US$ 15 bilhões.

No caso de profissionais formados em outras áreas, no entanto, a produção de conteúdo tem mais o objetivo de turbinar a carreira do que gerar renda com as redes. Mas uma coisa leva à outra. Ao aumentar a exposição e o alcance na internet, eles acabam agregando valor ao negócio, podem cobrar mais pelos serviços prestados e ficam com as agendas lotadas.

O Estadão conversou com alguns influenciadores profissionais de outras áreas, que contaram as mudanças trazidas pelas redes em suas profissões. Veja a seguir:

Doutora conceituada

Pioneira no estudo da pele negra no Brasil, a dermatologista Katleen Conceição começou na internet com um blog em 2010. A falta de conteúdos sobre a pele negra a motivou a divulgar informações acerca das melhores técnicas e produtos com foco na especialidade dela.

Do blog, migrou para outras redes sociais e começou a conquistar um público que até então era invisibilizado pela falta de profissionais especializados. "Os meus seguidores curtem e querem conteúdo porque eles realmente acreditam no meu trabalho", conta Katleen.

Com a pandemia, a dermatologista se aventurou ainda mais na produção de conteúdo e acompanhou o boom das lives no Instagram. O resultado foi um crescimento de 80% no número de seguidores e uma visibilidade ainda maior para as empresas e credibilidade no mercado.

"Eu saí desse lugar de médica famosa e blogueirinha para uma doutora conceituada", afirma. Com uma agenda lotada e vagas disponíveis apenas para daqui a seis meses, a médica afirma que foi por meio das redes que ela conseguiu deixar sua marca no mercado e ficar conhecida como referência nacional no assunto.

Com mais de 260 mil seguidores no Instagram, Katleen mostra detalhes da rotina de trabalho, dá dicas sobre os cuidados com a pele e explica protocolos de tratamento. "Eu acho que as pessoas querem pessoas de verdade, sem essa coisa injetada de perfeição. Sim, eu tenho olheira como todo mundo e eu quero mostrar isso para quem me acompanha."

Humorístico sobre psicologia

O mesmo ocorreu com a psicóloga Fernanda Angelini. Antes da pandemia, ela já tinha cartela de pacientes fixa, agenda cheia e cobrava um valor competitivo. Mas, com o TikTok em ascensão, ela decidiu começar a criar materiais informativos e humorísticos sobre psicologia para as redes sociais. O que começou despretensiosamente tornou-se mais uma parte do trabalho dela, que incluiu a contratação de uma equipe para a produção dos conteúdos.

"O meu foco não é ganhar dinheiro com o Instagram", explica Fernanda, que tem 213 mil seguidores. Ela conta que o sucesso nas redes funcionou como uma válvula de segurança, em que foi possível criar uma lista de espera de pacientes, deu uma liberdade maior para aumentar o valor das consultas e diversificou as fontes de renda com a criação de infoprodutos, por exemplo.

"Quando você começa a crescer nas redes, existe uma pressão interna e externa que você precisa estar sempre em ascensão, mas não é assim que funciona. Acho que tira um pouco o prazer da coisa toda."

Angelini tem uma equipe para ajudá-la tanto na parte burocrática da clínica, como no desenvolvimento dos conteúdos para as principais redes. Ela explica que o primeiro passo é escolher o conceito que quer trabalhar. A partir disso, a equipe faz uma pesquisa inicial e começa a dar corpo ao material, com links e todas as informações coletadas. Depois, é só revisar, transformar em uma publicação e repassar para o designer que fará a arte.

"Se a informação é útil e eu gosto do assunto, a gente faz uma publicação sobre isso. Esse é o meu critério de escolha", conta.

Quanto maior o alcance, maiores as oportunidades

Nas suas redes, o nutricionista Ricardo Durante reage a vídeos, responde dúvidas e fala sobre temas em alta na área em que atua. "Produzir conteúdo para as redes sociais é marketing barato. Tudo que você precisa fazer é colocar ali o seu tempo e foi assim que eu comecei", conta ele. Sua presença digital fez com que o nutricionista tivesse um alcance muito maior de clientes, para além de Cuiabá, cidade natal dele.

O tempo dedicado às redes sociais possibilitou que ele começasse a atuar, desde 2020, apenas online, com a maior parte dos pacientes vindo do próprio Instagram. "Eu consegui conquistar essa liberdade geográfica de poder atender pessoas de qualquer lugar do mundo, basta uma boa conexão de internet", diz Durante, que tem 104 mil seguidores no Instagram.

Direitos e obrigações de empresas e trabalhadores

Com foco em direito trabalhista, o advogado Alexandre Ferreira encontrou no TikTok a plataforma ideal para divulgar informações importantes sobre os direitos e obrigações dos trabalhadores e das empresas.

Ele explica que trabalha produzindo conteúdo para cinco redes sociais, mas a plataforma especializada em vídeos curtos tem a melhor performance de entrega e alcance de novas contas. "Eu comecei na rede sem nenhum seguidor e em três dias o meu primeiro vídeo teve 600 mil visualizações", conta.

Morador de uma cidade com 25 mil habitantes, no interior do Mato Grosso do Sul, Ferreira viu o crescimento orgânico das redes resultar em uma estratégia de posicionamento e autoridade dentro do mercado jurídico em nível nacional.

"As pessoas entram em contato de forma natural. Eu não posso e nem preciso fazer propaganda do meu trabalho, uma coisa vai levando à outra até essa pessoa se tornar efetivamente meu cliente", afirma o advogado. Ferreira tem 911 mil seguidores no TikTok.

Com a produção de conteúdo fazendo parte da rotina profissional, Ferreira separa uma hora do dia para produzir para as redes. Dentro desse tempo, estão inclusos todo o preparo do cenário, luzes, microfone, criação do roteiro, produção, gravação, edição e postagem.

"Antes, eu demorava muito mais tempo. Fazia minha preparação, passava horas pensando em temas na minha casa. Hoje em dia, as coisas fluem melhor, a experiência nos deixa mais ágeis e criativos", afirma.

@alexandreferreira_adv

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som original - Alexandre Ferreira OABMS 14646

Dicas para começar

Segundo Fernanda Angelini, encontrar o seu tipo de conteúdo é o primeiro passo para embarcar nessa jornada. Ela afirma que não existe fórmula pronta e a dica é começar aos poucos, sem a intenção de viralizar logo de cara para não se frustrar e conseguir manter uma rotina de postagens.

Alexandre Ferreira reitera a importância da presença digital para o advogado que deseja continuar crescendo profissionalmente no mercado. Para ele, quebrar o bloqueio pessoal e o medo do julgamento é a principal dica para o profissional que quer começar a produzir conteúdo.

"É preciso colocar na cabeça que isso pode ajudar efetivamente o seu negócio, além de informar e ajudar as pessoas que irão consumir esses vídeos. É um serviço social para a sociedade", completa.

Para se tornarem uma estratégia efetiva de crescimento, diz Fátima Pissarra, as redes sociais também precisam ser vistas como um empreendimento do profissional. É preciso trabalhar com consistência, seriedade e disciplina. "Não adianta tentar uma semana, dizer que não deu certo e desistir. Ninguém abre um restaurante e fecha depois de dez dias. Você está investindo e os resultados levam tempo."

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Estadão
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