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Geração Z precisa se preocupar mais com aposentadoria, dizem especialistas

Profissionais alertam para necessidade de educação financeira e planejamento do trabalho no longo prazo; mudanças no sistema previdenciário devem ser levadas em conta

12 ago 2021 - 11h17
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Mesmo tendo enfrentado incertezas da pandemia, a geração Z, que engloba os nascidos entre 1995 e 2010, preocupa-se menos do que o necessário com a aposentadoria, segundo especialistas. Os profissionais temem prejuízos no futuro financeiro desses jovens, pois avaliam ser arriscado contar apenas com a previdência privada num momento em que mudanças na legislação são debatidas.

"Considerando que temos um sistema previdenciário que vem mudando muito nos últimos anos, com regras mais rígidas e idades mais avançadas, é preciso construir reservas para o futuro", alerta Gabriela Chaves, economista e fundadora da NoFront, plataforma de empoderamento financeiro e finanças pessoais.

O temor dos especialistas relativo à maneira como a geração Z projeta seu futuro, no entanto, é anterior à crise sanitária. Isso porque, em 2019, a preocupação com a aposentadoria era uma realidade apenas para 25% desses jovens, conforme pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL).

Ao mesmo tempo, o estudo em parceria com o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) mostrou que mais de 26,4% da geração Z acredita que quem não se prepara não poderá viver com tranquilidade na terceira idade. Outros 25,2% desses jovens consideram que seu padrão de vida pode cair depois da aposentadoria.

Louise Barsi, economista e fundadora da Ações Garantem o Futuro, plataforma de educação financeira, acredita que os jovens precisam deixar o imediatismo de lado e pensar a longo prazo. Na visão dela, a geração Z acredita ter "tudo na palma da mão", por isso, negligencia o planejamento financeiro. "É preciso mostrar que se, ele não investir nele mesmo, a previdência não vai fazer isso no lugar dele."

Para Paulo Menezes, gerente da unidade de cultura empreendedora do Sebrae de São Paulo, há uma correlação direta entre os conhecimentos sobre finanças dos jovens e a preocupação com a aposentadoria. Quanto mais educação financeira têm, mais pensam sobre o assunto e buscam criar reservas.

Com Eduardo Vargas, estudante de 21 anos, foi assim: o conhecimento levou à preocupação, que, por sua vez, gerou uma ação. Ele conta que cultivou o cuidado com dinheiro desde pequeno, no entanto, a mudança para Florianópolis em 2018 foi um divisor de águas em sua vida. "Mesmo contando com o apoio financeiro de meus pais, morar sozinho foi um grande salto. Estava em um ambiente em que era responsável por meus gastos", destaca.

Sem o costume com os termos técnicos das finanças, foi na internet que encontrou respostas a suas dúvidas financeiras. Passou a projetar investimentos de longo prazo. Hoje, ele aposta na renda fixa, mais especificamente em certificados de depósito bancário (CDB), no Tesouro Direto e no tesouro Selic, para garantir seu futuro. Aos poucos, avalia a construção de uma carteira de investimentos na Bolsa de Valores.

Pandemia acelera educação financeira

Na visão de Fernanda Leôncio, COO da Conta Black (primeira fintech criada por negros no Brasil) e presidente da Associação AfroBusiness, há um tabu relativo a falar sobre dinheiro ou aposentadoria no Brasil. A falta de diálogo, por sua vez, dificulta a democratização do planejamento financeiro.

"Acho que a pandemia deu luz a esse processo. Nunca se falou tanto de educação financeira como se fala agora", avalia. Na visão dela, isso ocorreu por necessidade, principalmente por conta das demissões e da escassez de empregos. "Quando entramos no isolamento social, as pessoas pararam suas atividades e ficaram sem renda. Muitas delas não tinham reservas financeiras."

Essa foi exatamente a situação pela qual passou Amanda Zanesco, de 23 anos. A designer, que trabalha como pessoa jurídica desde 2019, foi informada pela empresa contratante de seus serviços que haveria um corte de gastos e, com isso, o contrato que duraria mais seis meses precisou ser rompido.

Isso aconteceu em março de 2020, logo quando a pandemia começou. "Eu não tinha nenhuma reserva, foi desesperador. A pandemia me mostrou a incerteza do amanhã." O sentimento de impotência durante o desemprego uniu-se à percepção da necessidade de planejar reservas. "Quando saí da escola não tinha a mínima noção da realidade. Gostaria muito de ter tido instruções sobre finanças."

Ao mesmo tempo, a jovem afirma que não conta com a previdência social: "Já aceitei que não vou me aposentar", diz ela, que pretende fazer investimentos de longo prazo.

Prevenir pode ser solução

Para projetar os mais jovens e grupos minorizados dentro do mercado de trabalho, tanto Fernanda Leôncio, da Conta Black, quanto Gabriela Chaves, da NoFront, acreditam na necessidade de políticas públicas que os permitam pensar nos "custos de se envelhecer" e projetar seu futuro.

Fernanda, no entanto, destaca que a ação deve ser não só do Estado brasileiro mas também contar com o auxílio de organizações civis e da iniciativa privada. Gabriela pontua que essas transformações nascem do debate público e, nesse sentido, acredita na atuação de movimentos sociais a fim de pressionar o governo. "Grupos identitários precisam ter consciência dessas questões e levar cada vez mais essas discussões para o âmbito do debate", defende.

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Elas avaliam, contudo, que essas mudanças demoraram a ocorrer. Em um cenário de possíveis mudanças previdenciárias, ao lado de outros especialistas, elas listam medidas que os jovens podem tomar a fim de ter mais segurança quando estiverem mais velhos.

Cinco medidas para se 'aposentar' com segurança

1. Educação financeira

Para os especialistas, tudo começa com a educação financeira. Gabriela aponta que as informações sobre finanças são capazes de libertar e dar autonomia para esses jovens: "O dinheiro não pode ser inimigo das pessoas, ele precisa ser um combustível", explica.

Fernanda, por sua vez, destaca que a educação financeira promove o diálogo, o que permite quebrar os tabus relativos à finanças. "A grande matemática é colocar na cabeça desses jovens como construir essa reserva financeira para o futuro. A aposentadoria nada mais é do que uma reserva financeira para o futuro", conclui.

Gabriela cita o Banco Central como uma fonte de informações gratuitas e confiáveis sobre o assunto, que dispõe de cursos online gratuitos como Gestão de Finanças Pessoais. Conforme levantamento da empresa britânica Hargreaves Lansdown, 46% dos jovens de 18 a 34 anos ficaram mais interessados ??em investir no primeiro semestre deste ano. Entre esses, um em cada cinco atribuiu esse novo entusiasmo à aplicação.

2. Contribuir para a Previdência Social

Ao mesmo tempo em que destacam que contar somente com a Previdência Social é arriscado, os especialistas acreditam que ela deve ser vista como uma segurança. "Pessoas que não trabalham de forma assalariada devem procurar a formalização, porque isso já vai garantir alguns benefícios", alerta Gabriela.

A advogada Denise Coelho, especialista em direito previdenciário, recomenda aos jovens que estão ingressando no mercado de trabalho que mantenham algumas práticas para garantir sua previdência social. Uma delas seria o armazenamento dos comprovantes de salário e o monitoramento do Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS).

"É importante ter seus comprovantes de pagamentos guardados, usem os drives, nuvens, digitalize seus documentos e guardem. Os trabalhadores também devem conferir seus dados no INSS, no aplicativo ou mesmo no site", aconselha. No aplicativo, é possível saber se o empregador está fazendo os repasses dos descontos previdenciários.

3. Previdência privada

Apesar da importância de garantir a previdência social, a advogada aconselha investir também em previdência privada. Segundo Denise, os jovens devem planejar possíveis investimentos, considerando que o sistema previdenciário social está mudando.

Para Sandro da Costa, vice-presidente da Comissão de Produtos por Sobrevivência da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi), é importante que o jovem comece a contribuir o quanto antes. "Você pode começar com pouco e ir crescendo ao longo do tempo, ir adequando o plano de acordo com a necessidade."

Segundo Costa, a crise sanitária fez com que mais pessoas investissem em previdência. Levantamento da Fenaprevi mostrou que, de janeiro a maio de 2021, o segmento de previdência privada aberta teve crescimento de 91,7%, se comparado ao mesmo período de 2020.

4. Investimentos

Pensando em aposentadoria, Gabriela aponta os títulos de renda fixa como opção, uma vez que são considerados de baixo risco. "No tesouro direto, você tem investimentos que remuneram a inflação mais um porcentual, mas não ficam disponíveis imediatamente, só no longo prazo. Esse é um exemplo de investimento que se pode começar a poupar a partir de R$ 35 por mês e se preparar para esse momento do futuro", diz.

Louise acredita que títulos de renda variável, como ativos da bolsa de valores, também são uma possibilidade. "As pessoas costumam pensar em bolsa simplesmente como um investimento financeiro de comprar e vender, mas isso depende do modo como você vai usar esse instrumento", explica. Na visão dela, é possível ver essas ações como "uma previdência privada."

5. Empreendedorismo

Investir em um negócio próprio também é um caminho de se planejar para o futuro, para Paulo Menezes, do Sebrae. Na visão dele, inclusive, é do perfil desses jovens não pensar em ficar improdutivo quando estiverem mais velhos. "Há um desejo de continuar produzindo dessa geração", acredita.

Nesse sentido, o empreendedorismo pode ser solução de curto ou longo prazo. Isso porque, com a dificuldade de ser incluído no mercado de trabalho em um cenário pandêmico, empreender se apresentou como solução, de acordo com Paulo. Ele destaca que, quando formalizados, esses empresários também contribuem com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), podendo contar com benefícios da previdência social.

Estadão
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