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O pediatra Lauro Monteiro Filho
já tinha visto várias crianças
machucadas no Hospital Municipal Souza Aguiar, no
Rio, mas um caso chamou mais a sua atenção:
o de um bebê de 3 meses, suspenso por uma das
pernas para tratamento de fratura no fêmur esquerdo.
Semanas depois, a mesma criança reapareceu.
Dessa vez, com fratura no fêmur direito.
Indignado, ele reuniu um grupo de profissionais das
áreas de saúde, educação,
direito e serviço social e fundou, em 1988,
a Associação Brasileira Multiprofissional
de Proteção à Infância
e à Adolescência (Abrapia). Por muito
tempo, a ONG cuidou de casos de violência contra
crianças. Hoje, dedica-se principalmente a
receber denúncias de exploração
e abuso sexual infanto-juvenil, pelo telefone 0800-990-500,
e encaminhá-las a autoridades.
Atua ainda na prevenção desse tipo
de crime, alertando a população e os
profissionais que lidam com crianças e adolescentes
para identificar a agressão.
O disque-denúncia foi instalado em fevereiro
de 1997 e mensalmente são enviados relatórios
ao Ministério da Justiça. Até
o mês passado, a associação tinha
recebido 4.577 ligações e 1.487 denúncias.
"Denunciar é fundamental", afirma
Monteiro Filho. "Mas é importante também
que a sociedade mantenha sua capacidade de indignar-se
e organizar-se em associações para brigar
para que se cumpra a lei."
Assim, pode-se tentar combater outro mal que, para
o médico, abrange a questão da exploração:
a impunidade. "A lentidão e a dificuldade
para punir o agressor são lastimáveis."
Em relação à exploração,
uma solução pode ser regionalizar o
atendimento. "O País é muito grande",
diz a representante do Comitê Interestadual
da Região Centro-Oeste para Combate da Violência
(Circo), Neide Castanha. "O que é do Nordeste,
não é do Rio."
Redação
Terra / O Estado de S. Paulo
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