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Coronavírus

Supermercados brasileiros já têm esvaziamento de prateleiras

Pesquisa aponta falta de itens como antisséptico, papel higiênico, leite em pó e massas

18 mar 2020 - 19h05
(atualizado em 19/3/2020 às 14h21)
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A corrida do brasileiro ao supermercado para fazer estoques de alimentos e itens de higiene e limpeza por causa da pandemia do novo coronavírus já provoca a falta de produtos nas lojas, especialmente de mercadorias básicas. O índice de desabastecimento de itens nas prateleiras dos supermercados chegou a 11,3% no último sábado em cerca 20 mil lojas espalhadas pelo País, segundo pesquisa feita pela Neogrid, empresa de tecnologia que monitora os pedidos do varejo para indústria.

Supermercados brasileiros já sofrem com desabastecimento
Supermercados brasileiros já sofrem com desabastecimento
Foto: Estadão

"Quando passa de 10% já é considerado muito alto", afirma o vice-presidente da empresa e responsável pelo estudo, Robson Munhoz. Dados preliminares mostram que no domingo esse indicador continuou subindo e atingiu 11,7%. O executivo destaca que a trajetória ascendente reflete o pânico que houve na população nos últimos dias para fazer estoques. Em épocas normais a ruptura, como é chamada a falta de produtos pelos supermercados, varia entre 7% e 8%.

Nesta quarta-feira, o governador João Doria anunciou uma recomendação para que todos os shoppings e academias dos municípios da Região Metropolitana de São Paulo fiquem fechados até 30 de abril. Outros estabelecimentos comerciais, como bares, lanchonetes, restaurantes e padarias, estão liberados para funcionar normalmente, mas que as medidas de enfrentamento ao coronavírus são revisadas diariamente.

Um recorte especial da pesquisa da Neogrid mostra que de uma cesta de 28 itens mais vendidos e mais escassos, o antisséptico para mãos foi o campeão: as vendas cresceram 630,5% em março ante janeiro, os estoques caíram quase pela metade (47%) e o índice de falta do produto na loja chegou a 31% no fim de semana. No mesmo período, as vendas de álcool aumentaram 322,7%, os estoques caíram quase 30% e a falta do produto nas prateleiras beirava também a 30% no fim de semana. No caso do papel higiênico, as vendas dobraram de fevereiro para março e a falta chega a 10%, aponta a pesquisa. Alimentos básicos como leite em pó, longa vida, açúcar e massas também estão na lista dos mais procurados e que enfrentam escassez, com índices de falta nas prateleiras de 9,4%, 19,4%, 7,9% e 9,9%, respectivamente, no último fim de semana.

A reportagem percorreu as lojas de hipermercados e constatou a escassez dos produtos apontados pela pesquisa e de vários outros, onde era possível ver espaços vazios nas prateleiras nas lojas do Big e do Carrefour. Já no hipermercado Extra, há cartazes informando o limite de compra de unidades por pessoa para vários, como feijão, arroz, leite em pó, fraldas, macarrão, por exemplo.

O Grupo GPA, dono das bandeiras Extra e Pão de Açúcar, informou, por meio de nota, que desde terça-feira estabeleceu um limite de unidades vendidas por cliente para itens de higiene pessoal e alimentos de primeira necessidade. A intenção é evitar a formação de estoques desnecessários e a determinação vale para todas as lojas das duas bandeiras e é por tempo indeterminado. Também o GPA informou que a partir de hoje terá atendimento exclusivo para clientes com mais de 60 anos, das 6h às 7h, nas lojas de supermercado com a marca Pão de Açúcar, exceto nos shoppings.

O Grupo BIG esclareceu, por meio de nota, que "o abastecimento de suas lojas segue normalizado, mesmo com o aumento do fluxo de clientes e incremento nas vendas acima da média registrados na última semana". A rede destaca que, por causa da alta demanda no mercado, o álcool em gel é o que apresenta a maior dificuldade de reabastecimento, porque a indústria não tem capacidade para atender os pedidos do mercado como um todo. Procurado, o Carrefour não se manifestou.

Apesar da falta de itens nos supermercados, esse movimento não é considerado, pelos executivos, uma crise de desabastecimento, mas sim de logística, provocada pelo aumento repentino na demanda. "Grandes varejistas fizeram a lição de casa e aumentaram as compras da indústria. O problema é que leva tempo para entregar o produto no centro de distribuição e depois fazer a entrega na loja", diz Munhoz, da Neogrid.

Essa também é a avaliação do presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas) Ronaldo dos Santos, que registrou um salto de 34% nas vendas dos supermercados do Estado de São Paulo na última terça-feira em relação ao mesmo da semana correspondente de fevereiro. Na sua avaliação, por enquanto, o problema hoje está na rapidez na reposição dos itens na prateleira, isto é, uma questão mais de logística, não de falta de produto na indústria.

Esse movimento foi constatado pela reportagem nas lojas. Além da grande quantidade de consumidores indo às compras em plena manhã quarta-feira, normalmente um dia fraco de vendas, a reportagem se deparou com inúmeros funcionários, tanto da indústria como dos supermercados, repondo mercadorias nas lojas.

O presidente da Apas admite que os supermercados neste momento estão faturando mais com a crise, porém acredita que essa antecipação de compras para formação de estoques pode significar um consumo menor nas próximas semanas. No entanto, ele acredita que o ganho maior de vendas vem da migração para o preparo dos alimentos em casa. Como as pessoas estão deixando de sair de casa, de comer fora, os supermercados estão ganhando a fatia de gastos que iriam para os bares e restaurantes.

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Estadão
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