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Coronavírus

Por que Mandetta e Teich abandonaram o barco do governo?

Bolsonaro em nenhum momento deu ouvidos aos seus ministros sobre a necessidade de isolamento social como meio de impedir o colapso do sistema de saúde

16 mai 2020 - 05h13
(atualizado às 08h48)
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O presidente da República, Jair Bolsonaro, durante a cerimônia de posse do novo ministro da Saúde, o oncologista Nelson Teich
O presidente da República, Jair Bolsonaro, durante a cerimônia de posse do novo ministro da Saúde, o oncologista Nelson Teich
Foto: Dida Sampaio / Estadão Conteúdo

Nelson Teich não é mais ministro da Saúde. Sua entrevista não deu pistas claras sobre as razões que levaram o governo a perder dois auxiliares em área estratégica de políticas públicas em pouco mais de um mês. A perda ocorre quando o número de mortes causadas pelo coronavírus está perto de ultrapassar 15 mil e o de contaminados da mais grave pandemia experimentada pelo país - e talvez pela humanidade - está quase superando 220 mil casos. O que levou dois colaboradores tidos como competentes a abandonarem o barco em tão curto espaço de tempo, e em meio a um auge da crise?

A primeira resposta é conhecida: Bolsonaro em nenhum momento deu ouvidos aos seus ministros sobre a necessidade de isolamento social como meio de impedir o colapso do sistema de saúde. Em alguns momentos, foi mais longe e humilhou seus auxiliares em público. Nos últimos dias, contudo, os indícios apontaram em outra direção: sem que haja qualquer comprovação científica de sua eficácia, o presidente pressionou os ministros a adotarem o uso da cloroquina. Mandetta já tinha feito ressalvas a isso em protocolo que irritou o presidente, e Teich, ao ser supostamente forçado, não aceitou manchar a sua carreira. O governo, então, ficou acéfalo na área da saúde.

O foco são políticas públicas fundamentais, que deveriam envolver decisões e procedimentos transparentes, em especial diante da ameaça à vida das pessoas. Na ausência, não é de estranhar que em alguns meios surjam perguntas duras: a quem interessa a adoção desse medicamento sem a certificação devida? Que laboratórios produzem ou têm interesse na sua adoção? São questões de evidente interesse público que aguardam esclarecimento.

* PROFESSOR DE CIÊNCIA POLÍTICA DA USP

Estadão
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