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Fórum da Virada Sustentável discute cidades inteligentes

Especialistas avaliaram problemas como mobilidade urbana e poluição e debateram como a tecnologia pode ajudar a resolvê-los; internet das coisas e inteligência artificial podem oferecer dados para tomada de decisão

7 out 2020 - 21h12
(atualizado às 21h42)
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Urbanização desordenada, descarte incorreto do lixo, poluição do ar, mobilidade urbana e segurança pública são algumas das dificuldades que habitantes de grandes cidades, como São Paulo, enfrentam diariamente. A solução para estes problemas pode estar na tecnologia. Este foi o tema do fórum "O Futuro da Internet e as cidades inteligentes e sustentáveis", realizado pela Virada Sustentável, nesta quarta-feira, 7.

Com 71% dos lares brasileiros conectados à internet, de acordo com dados do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) do Comitê Gestor da Internet (CGI), a questão sobre como as tecnologias digitais irão alterar a forma com que os seres humanos vivem a cidade começa a pautar as discussões públicas e privadas. Para a professora de ciências da computação da UFRGS, Dra.Rosa Maria Viccari, para debater sobre cidades inteligentes é necessário delimitar seu significado.

Segundo ela, a cidade é composta por infraestrutura e por pessoas. Não existe consenso sobre o que define uma cidade inteligente, contudo é possível dizer que elas tornam os lugares mais habitáveis, optando por soluções como energia, água, segurança, saneamento. "O que essas opções têm em comum é a coleta, digitalização e geoprocessamento 3D de dados. Esses dados são capturados por Internet das Coisas (IoT) e será tratado por várias tecnologias", explica a professora.

O diretor presidente do NIC.br, Demi Getschko, completa que as "coisas não são passivas, elas se comunicam entre si" e esta comunicação é o que se chama Internet das Coisas. Outro ponto levantado por ele é a capacidade de processamento, que se multiplicou nos últimos 50 anos. "Pode ser usado para o bem e para dar dor de cabeça, mas não podemos perder a oportunidade de aproveitar isso nas cidades", diz Demi. Além da IoT, ferramentas como inteligência artificial são pensadas para otimizar tomada de decisões, como onde construir uma escola que seja acessível e sirva melhor à comunidade.

A ciência de dados analisa os dados do passado mas, ao mesmo tempo, ajuda a modelar comportamentos futuros - espaço onde se debate a ética na Inteligência Artificial. "Cada vez mais as cidades estão trocando o foco da infraestrutura para focar nas pessoas. Qual o tipo de IA que queremos para as cidades?", indaga a professora Rosa Maria ao lembrar que Campinas foi eleita a cidade mais inteligente do Brasil.

Para se pensar em cidades inteligentes o ideal é se perguntar "qual a cidade que temos hoje?" para "qual a cidade que queremos?" e, com essa reflexão em mãos, implementar tecnologias que, trabalhando com software e hardware, fornecem uma ou várias soluções para uma cidade.

A melhoria na tomada de decisão ao informar com antecedência a qualidade do ar à população, a iluminação pública atuando de forma programada ao controlar a luminosidade com uso de câmeras, a utilização de sensores para saneamento básico são alguns dos exemplos da IoT apontados pelo diretor de Projetos Especiais do NIC.br, Milton Kashiwakura, para auxiliar na gestão pública. "Se eu vou para um parque tem internet gratuita lá? Há informações sobre educação, cultura turismo, deslocamento, usando ferramentas de realidade virtual e aumentada? Se sim, estamos falando e cidades inteligentes", complementa Rosa Maria.

Dilemas éticos no uso da IoT e inteligência artificial

O diretor presidente do NIC.br lembra que o processamento e a ubiquidade permitem que as coisas tenham autonomia e isso pode ser um risco. "Pode abalar nossa segurança e privacidade. Nós éramos o centro das preocupações e agora, as coisas podem tomar essa centralidade", destaca Demi. Atualmente, os programa aprendem sozinhos e chegam a conclusões para resolução de problemas, é o machine learning. O do aprendizado de máquina é quando o programador que cria o algoritmo não sabe dizer como a máquina chegou a determinada conclusão.

"Quando falamos em ética nessa área, levamos em conta que inteligência artificial é uma semente que evolui com os dados e tira conclusões. As conclusões podem não ser previsíveis na formulação inicial do processo. Quando usamos a decisão da máquina para pensar política é uma coisa, o problema é quando passamos a decisão para a máquina.O risco é enorme em passar a decisão para um ser que evolui por conta própria e que ultrapassou seu criador", adverte Demi Getschko.

Este tema também foi levantado por Otavio Caixeta, chefe de Gabinete da Secretaria de Radiodifusão no Ministério das Comunicações. De acordo com ele, na medida em que a IoT e a inteligência artifical saem do ambiente virtual e migram para o mundo real, elas trazem vantagens e desafios.

"Todos os dados podem ser processados. Temos que ter cuidado para traçar uma linha entre o desejo de apoiar o aumento da segurança, por exemplo, para que isso não cruze a linha e invada a privacidade do cidadão. Se é uma máquina que opera o carro, temos que garantir que seja seguro o suficiente para que não haja acidentes, pois não há quem culpar. O que está em discussão não é se a inteligência artificial vai resolver os problemas e sim como fazer maior proveito dela sem permitir que ela crie novos problemas", diz o chefe gabinete. Em 2019, o governo federal publicou o Plano Nacional de Internet das Coisas, que traz uma série de objetivos para o fomento a esse tipo de tecnologia no Brasil.

A capacidade de velocidade, cobertura, as taxas foram consideradas no Plano Nacional desenvolvido pelo governo. "Não é como faremos e se teremos, mas como faremos para possibilitar seu melhor desenvolvimento. São questões impactam nossa vida diária e o Brasil não pode apenas ser consumidor". O próximo passo é lançar oficialmente o plano de inteligência artifical, que começou a ser desenvolvido há cinco anos e está na pasta da Secretaria de Telecomunicações.

O evento Virada Sustentável continua nesta quinta-feira 8, com o fórum "Mobilidade pós-pandemia | Traçando modelos mais sustentáveis". Os convidados abordam a Economia Circular, o impacto dos combustíveis renováveis e o potencial brasileiro para o biogás no transporte, trazendo para o debate uma perspectiva regional ao discutir a cadeia, as tecnologias disponíveis e como o país pode liderar a sustentabilidade nesta área.

Estadão
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